Somos informados de que a eleição presidencial de 2024 decidirá se os Estados Unidos vão se tornar um país fascista. Mas há muita confusão sobre o que esse termo significa e qual candidato é mais propenso a nos levar nessa direção.
Fascismo é agora rotineiramente usado para descrever conservadores, mas isso só ocorre por causa do que Tom Wolfe chamou de “a maior fraude da história moderna”. Os fascistas originais eram de esquerda. Benito Mussolini começou sua carreira política no Partido Socialista Italiano, e os nazistas de Adolf Hitler tomaram seu nome de “Nacional Socialistas”. Ao contrário dos rivais comunistas de esquerda, esses ditadores não tomaram diretamente os meios de produção, mas acreditavam que um governo central forte deveria direcionar a economia e o resto da sociedade: “Tudo dentro do Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”, nas palavras de Mussolini.
Os princípios e políticas de Mussolini eram amplamente admirados e imitados por progressistas nos Estados Unidos durante a década de 1920, e a filosofia subjacente — uma sociedade planejada e regulamentada por “especialistas” — ainda é compartilhada pelos progressistas de hoje, como Jonah Goldberg mostrou em seu livro de 2008, "Fascismo de esquerda: a história secreta do esquerdismo americano". Mas, após os horrores do Holocausto, os progressistas reescreveram a história ao reclassificar o fascismo como um movimento de direita. Desde então, o termo tem sido usado contra todos os candidatos presidenciais republicanos desde Ronald Reagan — incluindo, é claro, Donald Trump.
É verdade que Trump frequentemente soa como um autoritário, especialmente quando é mal interpretado pela mídia tradicional (como a recente acusação falsa de que ele prometeu usar o exército contra seus inimigos políticos). Os democratas ficaram horrorizados com suas declarações durante a campanha de 2016 sobre prender Hillary Clinton, mas seu Departamento de Justiça (ao contrário do de Joe Biden) não tentou realmente prender sua adversária política. Como seu histórico em autoritarismo se compara com sua retórica — e como se compara ao histórico de Kamala Harris?
Como presidente, Trump denunciou e ameaçou a imprensa repetidamente, prometendo várias vezes processar o New York Times e pedindo que a Comissão Federal de Comunicações (FCC) revogasse as licenças dos veículos devido à cobertura “partidária, distorcida e falsa” das notícias. Mas a FCC não revogou nenhuma licença (não tem autoridade para punir veículos por partidarismo), e sua única ação judicial contra o Times foi arquivada.
O mais próximo que Trump chegou da censura real foi a revogação temporária do passe de imprensa do correspondente da CNN, Jim Acosta, na Casa Branca, que foi restaurado por uma ordem judicial. Durante a campanha de 2024, Trump repetiu essas ameaças contra as licenças dos veículos e entrou com uma ação contra o programa 60 Minutes da CBS, acusando-o de “interferência eleitoral” por editar sua entrevista com Harris. Graças às proteções da Primeira Emenda que os jornalistas possuem, não há razão para esperar que as ameaças mais recentes de Trump tenham mais impacto do que as anteriores.
O governo Biden se mostrou um censor mais eficaz. Sua administração pressionou com sucesso as plataformas de redes sociais para silenciar cientistas eminentes que documentaram com precisão a futilidade e os danos das políticas de pandemia da Casa Branca. Sua gestão criou uma Junta de Governança da Desinformação, que gerou tantas comparações com o Ministério da Verdade em 1984 de George Orwell que foi desativada. No entanto, a administração Biden prosseguiu e colocou a vice-presidente Harris no comando de uma força-tarefa da Casa Branca para combater “campanhas de desinformação” e “abusos” online dirigidos contra “líderes do governo e cívicos”.
Também ajudou a financiar um grupo britânico que produz o influente Índice Global de Desinformação, que orienta anunciantes a se afastarem de veículos de notícias conservadores. Essas ações levaram um crítico a chamar a Casa Branca de Biden de a administração mais antiliberdade de expressão desde a de John Adams (que enviou editores de jornais para a prisão), e há poucas indicações de que uma administração de Harris mudaria o rumo. Seu companheiro de chapa, Tim Walz, declarou (incorretamente) que a Primeira Emenda não protege “desinformação ou discurso de ódio”.
A maior usurpação de poder de Trump ocorreu durante a pandemia, que viu a imposição das medidas mais autoritárias da história americana. Restrições inéditas à liberdade individual causaram enormes danos sociais e econômicos. Tecnicamente, os confinamentos e outras restrições em 2020 foram obra dos governadores estaduais, não de Trump, mas eles responderam à pressão de sua administração. Embora Trump tenha começado a pedir o fim dos confinamentos e a reabertura das escolas, os funcionários da Casa Branca que supervisionavam as políticas de Covid, Deborah Birx e Anthony Fauci, continuaram pressionando os governadores a estenderem as restrições. Trump teve o bom senso de consultar cientistas críticos às restrições — notavelmente Scott Atlas, da Hoover Institution, o único dissidente na Força-Tarefa de Coronavírus da Casa Branca, que o aconselhou a anular Birx e Fauci. Mas Trump e sua equipe política temiam agir assim em um ano eleitoral.
Atlas e outros (incluindo o Projeto 2025 da Heritage Foundation) instaram o próximo presidente a fazer reformas profundas na burocracia federal de saúde para impedir que ela repita seus erros desastrosos durante a próxima pandemia. Atlas diz estar confiante de que Trump reconhece os erros e estaria disposto a fazer as reformas. Mas Harris parece uma reformadora improvável. Ela e Biden continuam insistindo que as restrições da pandemia foram necessárias.
Ao assumir o cargo, Biden não apenas manteve Fauci, mas o promoveu a seu conselheiro médico chefe. Com o apoio entusiástico de Harris, Biden instituiu outra medida autoritária inédita: mandatos de vacina para todos os funcionários federais, incluindo membros das forças armadas, bem como para mais de 80 milhões de trabalhadores em empresas privadas. O governo insistiu, diferentemente dos governos europeus, em obrigar desnecessariamente a vacinação para trabalhadores que já tinham imunidade natural devido a uma infecção anterior. A justificativa para essa coerção era impedir a propagação do vírus, mas as vacinas não impediam a transmissão. Críticos argumentaram que era antiético forçar vacinas com efeitos colaterais raros, mas graves, em adultos jovens com risco mínimo para o vírus, mas o governo persistiu (e este ano, Harris tornou obrigatória a vacinação de todos os funcionários de sua campanha). A Suprema Corte depois revogou o mandato para empresas privadas, mas muitos já haviam perdido seus empregos.
Para um suposto aspirante a ditador, Trump cometeu um erro grave em suas escolhas para a Suprema Corte. Esses três juízes conservadores ajudaram a formar maiorias em decisões históricas que limitaram o poder do governo federal e do presidente. As decisões devolveram a autoridade aos estados e restringiram o poder do executivo — para a decepção de Harris.
A ideia de Harris sobre regras sensatas provavelmente inclui mandatos do Green New Deal, que ela copatrocinou no Senado. O plano de eliminar combustíveis fósseis nunca teve chances de ser aprovado no Congresso, mas o governo Biden avançou silenciosamente nessa agenda, usando agências federais para promover energia “sustentável”, dificultar a extração de petróleo e gás natural e forçar fabricantes a investir em veículos elétricos.
Quer chamemos essas medidas de fascismo ou apenas de autoritarismo, é bem provável que elas agradassem a Mussolini.
©2024 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Who’s the Fascist?
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