Yoel Roth, ex-chefe de segurança do Twitter, enfrenta acusações de Elon Musk pelo conteúdo de sua tese de doutorado.| Foto: Reprodução/YouTube/Knight Foundation
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Um dos responsáveis pela censura de conteúdos no Twitter – segundo as revelações de Elon Musk no Twitter Files – o ex-chefe de segurança da plataforma, Yoel Roth, vem sendo questionado pelo bilionário sobre uma suposta leniência com pornografia infantil na rede. “Parece que Yoel está argumentando a favor de crianças poderem acessar serviços adultos da Internet”, tuitou Musk, sobre a tese de doutorado do ex-funcionário, que defenderia estratégias de segurança para adolescentes em aplicativos de relacionamento gay, na impossibilidade de impedir o acesso deles a esse tipo de plataforma. Na segunda-feira (12), Elon Musk dissolveu o Conselho de Segurança do Twitter, formado por dezenas de ativistas e acadêmicos, alegando que “não é mais a melhor estrutura” para cuidar da área.

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Antes da dissolução, quando alguns membros saíram, Musk comentou que “é um crime que eles se recusaram a agir contra a exploração de crianças por anos!” O fundador e ex-diretor executivo Jack Dorsey respondeu à acusação, declarando-a “falsa”. O então chefe de segurança do Twitter Yoel Roth, que foi poupado de demissão por Musk no começo de novembro e elogiado por sua “grande integridade”, acabou sendo alvo de comentários similares do bilionário após deixar a empresa, semanas depois.

Em 20 de novembro de 2010, Roth tuitou um artigo do site de notícias Salon com uma pergunta: “Estudantes de ensino médio podem consentir a sexo com seus professores?”. O artigo, de autoria de Tracy Clark-Flory, uma colunista de conselhos sobre sexo, discute um caso de um professor de música de 33 anos que foi punido no estado de Washington por ter feito sexo em seu escritório com uma aluna de 18 anos, dias antes de ela se formar. A corte maior do estado julgou que o caso ainda era punível, apesar de ela ser maior de idade, pois a lei local tinha a intenção de proibir contato sexual entre professores e alunos do ensino médio, devido ao risco de docentes se aproveitarem de sua posição de autoridade.

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A idade mínima de consentimento em Washington é 16 anos (no Brasil, é 14 anos). A colunista, no artigo de 2010, não emite opinião contrária à punição do professor, apenas informa aos leitores sobre as controvérsias jurídicas em torno do assunto, comentando que até um juiz envolvido reclamou que em última análise sua própria decisão “não faz sentido” por tratar jovens maiores de idade como se fossem menores.

Apesar da falta de emissão de opinião favorável ao contato sexual entre professores e adolescentes no tweet de Yoel Roth ou no artigo do Salon referenciado por ele, muitos usuários levantaram suspeitas sobre o tweet, inclusive Elon Musk.

Quem chamou a atenção de Musk para o antigo tweet de Roth foi Eliza Bleu, que se descreve como uma ativista sobrevivente de tráfico de pessoas. Bleu tem recebido atenção do dono da rede social, que dedicou horas a falar com ela para audiências de dezenas de milhares de pessoas na ferramenta própria de podcast ao vivo. Ela alega que o antigo Twitter era resistente e ineficiente em combater pornografia infantil, algo que estaria sendo feito melhor no Twitter sob nova direção.

“Isso explica muita coisa”, comentou Musk quando a ativista chamou sua atenção para o tweet antigo de Roth, com o comentário “acho que posso ter encontrado o problema”. Em seguida, ele publicou um trecho da tese de doutorado do ex-funcionário, comentando que “parece que Yoel está argumentando a favor de crianças poderem acessar serviços adultos da Internet”.

O ex-chefe de segurança do Twitter realmente defendeu aliciamento de menores?

O trecho em questão, porém, é ambíguo. Nele, Roth menciona um aplicativo de encontros para gays e diz que “pode ser muito lascivo e muito orientado para encontros casuais para ser um recurso seguro e apropriado para a idade dos adolescentes”. Ele diz que é uma realidade que adolescentes já frequentam esses espaços, e então sugere que plataformas como o aplicativo “em vez de meramente tentarem se absolver de responsabilidade legal ou, o que seria pior, tentar afastar os adolescentes completamente, os serviços deveriam dar foco a elaborar estratégias seguras que possam acomodar uma ampla variedade de usos”, incluindo “conectar de modo seguro jovens adultos gays”.

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A tese, com o título “Dados Gays”, rendeu ao ex-chefe de segurança um título de doutor em comunicação pela Universidade da Pensilvânia. Apesar do título, a tese não contém hipóteses em tecnologia da informação ou testes estatísticos, sendo, na verdade, um estudo qualitativo do aplicativo de encontros casuais para gays com sugestões sobre melhoria da interface de usuário e discussões sobre sua relevância cultural. O capítulo 2, por exemplo, é dedicado “aos processos e práticas pelos quais o corpo gay é traduzido em dados”. No capítulo 4, o autor examina um blog dedicado a comentar “babacas” encontrados no aplicativo.  Ao falar dos métodos, Yoel Roth diz que usou “observação participante”, ou seja, ele próprio é usuário ativo do aplicativo.

Em um trecho diferente do criticado por Musk, Roth chama de “assustadores” os casos de menores que foram vítimas de abuso sexual mediado pelo aplicativo. Em seguida ele descreve, em tom crítico, que os casos de abuso sexual são “enquadrados na maior parte do mesmo jeito: homens mais velhos predatórios tiram proveito de adolescentes impressionáveis e ingênuos” que chegaram ao aplicativo. “Ausente dessas discussões”, comenta o autor da tese, “está um reconhecimento mesmo que superficial de que o novo meio de contato social orientado para gays pode ser um escape crucial para a juventude gay, bissexual ou em questionamento”. Ele não desenvolve sua sugestão de não barrar adolescentes do aplicativo de encontros gays e diz, na conclusão geral sobre o aplicativo, que “não há nenhuma resposta ‘correta’ clara” para seus potenciais problemas.

O jornal Washington Post, que pertence a Jeff Bezos, bilionário rival de Musk e dono da Amazon, disse que Yoel Roth e sua família sofreram ameaças e “foram forçados a deixar sua casa depois que tweets de Elon Musk distorceram o trabalho acadêmico de Roth sobre atividades sexuais e crianças”.

Roth censurou conteúdos sobre Hunter Biden

Depois da compra do Twitter em outubro, fãs de Elon Musk pediram a cabeça de Roth por causa de manifestações que viam como muito enviesadas para alguém que comandava a segurança no Twitter. Após a vitória eleitoral de Donald Trump em 2016, o funcionário tuitou “voamos por cima desses estados que votaram em uma tangerina racista por um bom motivo”. No ano seguinte, ele descreveu o governo Trump como “nazistas de verdade na Casa Branca”.

Após pedir demissão, Yoel Roth publicou um artigo de opinião no New York Times e fez uma aparição pública.  No artigo, de 18 de novembro, ele comenta que há pressão de anunciantes e das lojas de aplicativos do Google e da Apple por moderação de conteúdo e explica que deixou a rede social porque “as políticas são definidas [agora] por decreto” em vez de ter um “desenvolvimento principiológico”.

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O artigo, na verdade, contém pouca opinião, dedicando-se na maior parte a descrever eventos do ponto de vista do autor que, por seu vocabulário, parece aderir à interpretação progressista de que “expressão perigosa” e “desinformação” devem ser censuradas. Nos arquivos internos liberados por Musk, Yoel se revela um dos principais tomadores de decisão nas ocasiões da supressão de uma notícia verdadeira sobre um laptop pertencente ao filho do presidente Joe Biden, Hunter, dias antes das eleições, e do banimento de Donald Trump.

Em um dos documentos, ele aparenta se gabar de ter reuniões com órgãos de segurança do governo americano. A equipe do governo Joe Biden parecia ter acesso privilegiado para pedir derrubada de tweets. Na aparição pública, uma entrevista com a jornalista Kara Swisher, Roth reconheceu que foi um erro a censura à notícia do laptop.

Em outro documento, ele parece desdenhar de quem reclamava de suas decisões de moderação: “Eu acho que ir longe demais no buraco do coelho de colocar rótulo [de correção] em discurso crítico (isto é, crítico ao nosso manejo desse caso) é perigoso”, comenta Roth com um colega sobre o que fazer a respeito de Jody Hice, uma parlamentar republicana que expressava ceticismo contra votos feitos por correio nas eleições presidenciais e comentava “diga não à censura da Big Tech”. Ele explica por que acha que deveriam pegar leve neste caso: “Vira um ciclo autorreforçador de ‘buá buá censura’”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]