A China viu sua influência aumentar no Zimbábue durante as quase quatro décadas de Robert Mugabe no poder, tornando-se o terceiro maior parceiro comercial da nação africana e seu maior investidor estrangeiro. Agora, com a saída de Mugabe da presidência – ele renunciou nesta terça-feira (21), Pequim pode ganhar ainda mais.
O ex-vice-presidente Emmerson Mnangagwa, cuja destituição levou à intervenção militar da semana passada, é visto como mais aberto ao investimento da China e de outras nações do que Mugabe. É o que apontam pesquisadores que assessoram o governo do presidente chinês Xi Jinping na política de África. Mnangagwa está preparado para assumir o trabalho de Mugabe depois de substituí-lo como líder do partido ZANU-PF no domingo (19).
Mnangagwa, que recebeu treinamento militar na China durante uma guerra pela independência décadas atrás, propôs em 2015 ter o yuan chinês como moeda legal no Zimbabwe. Isso abriu o caminho para a adoção de outras moedas, embora nenhuma seja tão popular quanto o dólar americano.
O vice-presidente também sinalizou oposição aos movimentos de nacionalização de Mugabe, dizendo à CCTV da China que procurou "um ambiente onde os investidores estão felizes em colocar seu dinheiro porque terão um retorno".
"Mnangagwa tem uma abordagem mais aberta e moderada nas políticas econômicas e também é um amigo da China", disse Shen Xiaolei, pesquisador da África na Academia Chinesa de Ciências Sociais, grupo de pesquisa do estado da China.
"O recuo de poder de Mugabe é apenas uma questão de tempo, e mais cedo é melhor do que mais tarde porque pode ajudar a estabilizar a situação doméstica".
A China procurou regar as elites governantes na África com ajuda financeira e investimento em infraestrutura, em troca do acesso a recursos naturais, incluindo ouro, diamantes e minerais. O Zimbábue foi um dos quatro maiores receptores da ajuda oficial da China para desenvolvimento, entre 2000 e 2014. De acordo com o laboratório de pesquisa AidData, o país ficou apenas atrás de Cuba, Costa do Marfim e Etiópia.
Negócios
A viagem de Xi Jinping em 2015 ao Zimbábue — a primeira visita de um presidente chinês em quase 20 anos ao país — produziu pelo menos 12 negócios com um valor estimado em US$ 4 bilhões em setores como geração de energia, infraestrutura e produtos farmacêuticos, embora não esteja claro o quanto disso foi materializado. Na ocasião, o presidente chinês chamou de laços entre as nações "uma das melhores relações entre países em desenvolvimento".
O chefe do exército do Zimbábue, Constantino Chiwenga, visitou Pequim menos de duas semanas antes do golpe e conheceu o ministro chinês da Defesa, Chang Wanquan. O Ministério das Relações Exteriores da China chamou a reunião de 5 de novembro de um "intercâmbio militar normal conforme acordado pelos dois países".
Mesmos acordos
A China não declarou oficialmente a preferência por Mugabe ou Mnangagwa. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang, disse no dia 16 de novembro que os laços bilaterais não mudariam com a saída de Mugabe do poder. Segundo ele, a China espera que "a situação no Zimbábue se torne estável e que as que os assuntos sejam resolvidos de forma pacífica e apropriada”.
Apesar da amizade "de todo o tempo" entre os países, a lei de indigenização de Mugabe, realizada desde 2000, se tornou uma fonte de tensão entre Pequim e Harare. A legislação, que exige que empresas estrangeiras cedam a maior parte de suas ações à população negra, assustou os investidores chineses.
"Esta política era muito radical e as empresas chinesas estavam lá para sofrer", disse Wang Hongyi, pesquisador da China-África em CASS. "Mnangagwa é visto como uma mão firme, e ele irá limitar ou mesmo revogar a lei de indigenização".
Os legisladores do Zimbábue chegaram a iniciar o processo de impeachment contra Mugabe, depois que ele perdeu, nesta segunda, o prazo para anunciar sua renúncia. A aposentadoria do ditador vinha sendo amplamente esperada para que Mnangagwa pudesse assumir o cargo ainda no domingo passado.
Mesmo com a renúncia de Mugabe, Pequim está preparado para manter fortes relações com o Zimbábue. Grace Mugabe, esposa do presidente que também foi mencionada como uma possível sucessora. Ela estudou na Universidade Renmin, em Pequim, entre 2007 e 2011, e recebeu um diploma em língua chinesa.
"A China está em situação sem perda", disse Ding Yifan, pesquisador sênior especializado na estratégia de investimento no exterior da China no Development Research Center, o braço de pesquisa de políticas do Conselho Estadual. "Temos bons laços com todas as partes na turbulência. Todos precisam do investimento chinês".
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