A política de fronteiras abertas, o multiculturalismo e o Estado de bem-estar social têm provocado a eclosão de movimentos políticos, internos ou externos a partidos, reivindicando seus espaços para lutar contra essas bandeiras. A ideia de uma “direita” política, apesar das polissemias e discussões léxicas, segue viva como um símbolo da oposição a teses que muitos consideram a ortodoxia dos novos tempos.
Desde a chamada “revolução conservadora” de Ronald Reagan e Margaret Thatcher nos anos 80, os problemas se modificaram e pluralizaram. Diversificaram-se os rostos e as ideias dentro do que ficou identificado como “direita”, muitas vezes incongruentes. Reunimos algumas personalidades que vêm se destacando em seus ambientes de atuação pela defesa da civilização ocidental, da ideia de Estado-nação e do liberalismo econômico, entre outras bandeiras associadas à “direita” – nem sempre todas juntas -, para que o leitor fique por dentro de quem está colocando em xeque as regras do jogo na política mundial.
É inevitável que o nome do empresário Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, encabece a lista. Visto por muitos liberais clássicos com desconfiança pela sua retórica de restrição do fluxo migratório e seus ataques aos acordos econômicos com a China, o magnata se notabilizou pelas constantes críticas ao “globalismo”. A tese de que forças políticas atuam na contemporaneidade para erodir a soberania dos Estados-nações e incrementar o poder de instituições supranacionais, robustecendo a divulgação de agendas como o aborto e o multiculturalismo, ganhou corpo entre alguns brasileiros. O presidente da nação mais poderosa do planeta chegou a ter manifestações de rua a seu favor na Avenida Paulista durante sua campanha. Contudo, já no exercício do mandato, ele também não deixa de adotar medidas simpáticas ao conservadorismo político mais tradicional de seu país, como o apoio a Israel – a ratificação de Jerusalém como capital não deixa mentir – e o corte significativo de impostos.
Ainda dentro da política americana, certos nomes se destacaram nas primárias republicanas de 2016. O senador texano Ted Cruz, nascido no Canadá, se alinha a um perfil conservador clássico, com posições economicamente liberais e aversão ao aborto. O libertário Ron Paul e seu filho, Rand Paul, se destacam por, dentro do Partido Republicano, sustentar ideias dos economistas da Escola Austríaca. Além deles, há o cirurgião Ben Carson, que teve sua vida contada no filme Mãos Talentosas. Ele causou burburinho por atacar Hillary Clinton por sua ligação com o teórico de esquerda Saul Alinsky.
Ainda nos Estados Unidos, parece válido trazer um colorido feminino à lista: a embaixadora na ONU, Nikki Haley. Consistentemente defensora das principais teses republicanas, como a rejeição ao aborto e a eliminação de altas taxas e impostos, ela foi a primeira mulher a assumir o governo da Carolina do Sul, apoiada pelo movimento conservador Tea Party, que reaqueceu a direita americana. Sua grande inspiração pessoal é a ex-premiê britânica Margaret Thatcher.
Saindo do circuito americano, o canadense Stephen Harper, primeiro-ministro do país até 2016, também merece entrar na lista. Líder do Partido Conservador, Harper chamou atenção da imprensa internacional quando desafiou a liderança russa de Vladimir Putin, afirmando que ele deveria ser excluído do G-7 por sua intervenção na Ucrânia.
Já o britânico Nigel Farage, do Partido de Independência do Reino Unido, foi um dos mais entusiasmados defensores da saída de seu país da União Europeia. Um de seus discursos atacando o que considera uma elite burocrática cujos interesses não são os mesmos dos britânicos “viralizou” na Internet. Ele também adota posições liberais no que diz respeito ao armamento civil e é a favor da liberação das drogas. Há ainda o jovem primeiro-ministro austríaco Sebastian Kurz, do Novo Partido Popular Austríaco, que fez seu nome defendendo a contenção das fronteiras e o limite de benefícios a imigrantes e refugiados.
Existe, entretanto, uma crescente ala considerada antiliberal que também se opõe ao “globalismo” e à imigração desenfreada, alguns deles integrando o time dos “eurocéticos”, adversários da União Europeia. Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, é um dos nomes, construindo uma vedação contra os refugiados e os migrantes que tentavam chegar à União Europeia pela rota dos Balcãs. Na mesma linha vão a primeira-ministra polonesa, Beata Szydlo; a líder do partido Alternativa para a Alemanha, Frauke Petry, e também a francesa Marie Le Pen – esta última já tendo tido em sua jovem sobrinha Marion Le Pen, uma sombra expressiva dentro do partido Fronte Nacional. A legenda defende a saída da União Europeia, mas também é protecionista na economia e favorável a uma aproximação com a Rússia, defendendo Putin na polêmica da Crimeia.
A classe artística e as redações jornalísticas costumam ser vistas como redutos do pensamento de esquerda, mas há notórias exceções. Figuras como Arnold Schwarzenegger – que foi governador da Califórnia -, Jessica Simpson, Jon Voight, James Caan e Clint Eastwood oscilam entre o conservadorismo e o libertarianismo, defendendo pautas como a liberação das armas ou o corte de gastos públicos. Na última cerimônia do Oscar, o diretor e ator Mel Gibson e o ator Vince Vaughn se tornaram memes devido às expressões de contrariedade diante do discurso fortemente “anti-Trump’ da premiada Meryl Streep.
Porém, é no campo dos comunicadores que a direita americana tem uma lista realmente vasta de nomes a oferecer. Da jovem Tomi Lahren até a ex-juíza Jeanine Pirro, comentaristas na emissora Fox News, o elenco inclui o radialista Alex Jones, do site Infowars, acusado por alguns de ser um “artista performático”; Steve Bannon, que foi assessor de Trump, dono do site Breitbart News e visto como representante da “direita alternativa” americana, fora do circuito republicano tradicional; o blogueiro Bill Whittle, um conservador que teve 2,5 milhões de visualizações em um de seus vídeos no Youtube; o youtuber Paul Watson – estridente crítico do feminismo, do “globalismo” e do Islã – e o autor, radialista e comentarista Ben Shapiro, que começou a escrever aos 17 anos e ganhou notoriedade por suas firmes posições pró-Israel. Não se pode esquecer o escritor e documentarista Dinesh D’Souza, com seus filmes dispostos a demolir o Partido Democrata – como 2016: Obama’s America e Hillary’s America: The Secret History of the Democratic Party.
Fora dos Estados Unidos, o britânico Milo Yiannopoulos tem um dado diferencial: é abertamente homossexual. Já o youtuber canadense Stefan Molyneux, embora flerte com o anarcocapitalismo, apoiou Donald Trump e inclusive gravou uma entrevista com o pensador brasileiro Olavo de Carvalho. Há ainda um nome de língua portuguesa que escreve na Folha de São Paulo: o cientista político português João Pereira Coutinho, crítico de Donald Trump.
Há um último e fundamental campo a explorar: o da produção efetiva de ideias e redação de obras de estofo intelectual. Nessa seara, é possível elencar o historiador britânico católico Paul Johnson, ex-conselheiro de Margaret Thatcher e amigo de Ronald Reagan, autor de Tempos Modernos: o mundo dos anos 20 aos 80; o médico psiquiatra Theodore Dalrymple, autor de obras torpedeando o Estado de bem-estar social; o conservador britânico Roger Scruton, famoso no Brasil e divulgador do pensamento de Edmund Burke; o economista americano Thomas Sowell, profundo crítico dos intelectuais de esquerda; o ex-marxista David Horowitz e o católico libertário Thomas Woods, autor de How the Catholic Church Built Western Civilization (Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental).
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