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Idealizadores da estátua criaram um santuário em Gravataí e defendem a participação de seus seguidores na política.
Idealizadores da estátua criaram um santuário em Gravataí e defendem a participação de seus seguidores na política.| Foto: Reprodução/Instagram @novaordemdelucifernaterra

“Sabe aquele rival que faz de tudo para atrapalhar o seu relacionamento? Aquele colega que faz de tudo para atrapalhar você no trabalho, até querendo tirar a sua vaga? Agora você pode entregar ele para o seu Lorde da Morte.” 

É assim que Lukas de Bará Rua (o nome faz referência a seu Exu) anuncia, num comercial em vídeo, o Caixão dos Inimigos, um dos vários “serviços” que vende em seu site oficial e nas redes sociais (inclusive no TikTok).

Por R$1.450, o autointitulado mestre de quimbanda independente realiza um ritual para “você deixar ir para o buraco quem quer te derrubar”. E com uma facilidade: o valor pode ser pago em até 12 parcelas no cartão de crédito. 

Nas últimas semanas, Lukas, de 43 anos, ganhou fama para além do nicho esotérico da internet.

Ao lado do “sacerdote” Tata Hélio de Astaroth (“Tata” significa chefe de terreiro e “Astaroth” é o nome da besta com quem fez um pacto), 23, ele está no centro da polêmica que envolveu a inauguração da estátua gigante de um demônio no município de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

Apesar de se dizerem ligados à quimbanda (modalidade popular entre os seguidores de expressões afrorreligiosas no Rio de Grande do Sul), os dois criaram, no início deste ano, sua própria religião: a Nova Ordem de Lúcifer na Terra. Ou seja, um culto satanista. 

Com o apoio cerca de 100 membros, os líderes transformaram um sítio no primeiro santuário da seita. E ali ergueram a imagem diabólica – que tem cinco metros de altura, pesa uma tonelada e custou R$ 35 mil. Mas a inauguração do monumento, marcada para o último dia 13, foi impedida pelo Tribunal de Justiça gaúcho.

A pedido da prefeitura de Gravataí, o TJ-RS concedeu uma liminar para interditar o espaço. Segundo a administração municipal, o templo não tem CNPJ, alvará de funcionamento e Plano de Prevenção e Combate a Incêndios.

Outro motivo alegado foi a “insegurança gerada diante da grande repercussão causada pelo tema” (pois Lukas e Hélio vinham recebendo ameaças pelas redes). 

“A decisão considerou que a liberdade religiosa é um direito fundamental, consagrado na Constituição Federal. No entanto, observou que os templos religiosos devem cumprir exigências para o funcionamento”, afirmou a Justiça. 

Num primeiro momento, os fundadores gravaram vídeos alegando que são vítimas de intolerância e prometendo recorrer da decisão judicial – com o argumento de que a propriedade do santuário é privada e o evento seria fechado para convidados. 

No início desta semana, porém, a dupla iniciou o processo de envio da documentação necessária para regularizar as atividades no local. 

“De qualquer forma, rituais foram feitos e a estátua já está consagrada, recebendo obrigações”, disse Lukas durante uma entrevista para um podcast conhecido por esculhambar católicos e evangélicos. 

E comprovando que nos dias de hoje não existe publicidade negativa, ele mandou um recado para os críticos: “Aos intolerantes, muito obrigado. Vocês estão contribuindo para a obra de Lúcifer”. 

Líder do culto defende que satanistas disputem eleições

Com uma linguagem similar a dos coaches do momento, Lukas de Bará Rua e Tata Hélio de Astaroth mantém sites no melhor estilo corporativo – com campos como “missão, “valores”, “visão” e “dúvidas frequentes”. Seus rituais podem custar até R$ 6 mil, e ambos são especializados em “amarração amorosa”. 

“Os trabalhos de amarração amorosa visam unir os caminhos amorosos entre você e a pessoa amada, fazendo com que vocês fiquem juntos e o seu amor fique preso a você. Ou seja, a pessoa amada não vai mais querer outra pessoa além de você, o que fará com que ela corra atrás e queira verdadeiramente ter um relacionamento com você!”, diz a página de Tata Hélio.

No Youtube, os dois também oferecem cursos e explicam conceitos de forma “didática”, em vídeos com títulos como “Preciso vender minha alma para fazer um trabalho de riqueza com Lúcifer?”, “Ritual de maldição: pague na mesma moeda” e “Cinco coisas que você deve saber antes de fazer um pacto com Lúcifer”. 

Além de atuar no meio espiritual, Lukas de Bará Rua administra uma produtora de eventos e duas casas noturnas na região de Gravataí, onde tem bom trânsito com políticos locais. Tanto que, em dezembro de 2023, a Câmara Municipal autorizou a instalação de uma estátua de Exu, doada por ele, numa das rótulas da cidade. 

Como o monumento a Lúcifer, a imagem dividiu opiniões entre os moradores. Muitos procuraram a prefeitura para reclamar da sujeira e do mau cheiro acumulados no local devido à grande quantidade de oferendas deixadas em volta da escultura (algumas incluem aves e cabritos mortos).

Na já citada entrevista concedida recentemente para um podcast, Lukas defende a ideia de que os adeptos da Nova Ordem de Lúcifer na Terra devem concorrer a cargos públicos. “Precisamos ter representantes na política. Para não sermos marginalizados e perseguidos, para defendermos o que é sagrado para nós.”

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