| Foto:
Ouça este conteúdo

De tempos em tempos uma nova teoria da conspiração surge, e tem como personagens principais os Iluminatti. Essa ordem secreta já foi retratada muitas vezes em filmes e livros, e vários grupos pela história já usaram o nome “illuminati”, que significa “iluminados”.

CARREGANDO :)

O nome surgiu com uma sociedade secreta de pensadores fundada na Bavária, em 1776. Ela foi formada para se opor aos abusos de poder do Estado, à influência religiosa, e também à marginalização da mulher. O líder do movimento era o filósofo Adam Weishaupt, que adotou o nome de "Irmão Spartacus" na ordem.

A sociedade logo foi banida pelo governo da Bavária, com apoio da Igreja Católica, em 1785. Mas para quem acredita nas teorias difundidas pela internet, o grupo está vivo e bem.

Publicidade

Por exemplo, o candidato a presidente do Brasil Cabo Daciolo (Patriota), que se refugiou em um monte, em 13 de agosto, e declarou que os Illuminati tentariam matá-lo por ter atacado o grupo. Para o candidato e muitos outros, os Illuminati continuariam por aí, tramando a implantação da Nova Ordem Mundial, que seria um governo globalista totalitário formado por escolhidos da elite secreta.

Leia também: O que é a Ursal? Ela existe de verdade?

Nos dias de hoje, algumas fraternidades alegam ser descendentes dos illuminati originais. No entanto, não há evidências de que grupos atuais tenham conseguido reunir grande poder político ou influência significativa.

Leia também: O que é o Foro de São Paulo?

Dos hippies às redes sociais

Alguns políticos e líderes religiosos já foram acusados de pertencer a essa sociedade secreta, assim como artistas e outras celebridades. A ideia é que a indústria do entretenimento estaria infiltrada por membros dos Illuminati com a intenção de fazer lavagem cerebral em massa.

Publicidade

Anos atrás, pessoas discutiam em fóruns da internet se o rapper Eminem tinha se juntado à Ordem em troca de fama e fortuna. Algumas pessoas suspeitavam até que ele seria um escravo, tentando escapar da sociedade, tudo comprovado por mensagens subliminares em suas músicas. Ele não foi o único. Celebridades como Lady Gaga, Beyoncé, Rihana, Kanye West também foram acusadas de ser agentes dos Illuminati.

Não é tão simples explicar a origem das teorias da conspiração e lendas urbanas contemporâneas envolvendo os Illuminati. Além da nossa afeição por uma boa história misteriosa, outros elementos ajudam a explicar as origens do mito dos Illuminati na sociedade moderna.

Em entrevista à BBC em agosto de 2017, o escritor David Bramwell, que se dedicou a documentar as origens desse mito, afirmou que os Illuminatti sobre os quais ouvimos hoje pouco têm a ver com os originais da Bavária. Em vez disso, os responsáveis pela encarnação atual do grupo seriam a contracultura, o LSD e o interesse por filosofia Oriental nos anos 60. Tudo teria começado em meio ao movimento hippie, com a publicação de um pequeno livro chamado Principia Discordia.

Essa obra de ficção é um texto de paródia sobre uma crença satírica, o discordianismo, movimento formado por um coletivo que queria causar desobediência civil e pregar peças.

Segundo Bramwell contou à BBC, o escritor Robert Anton Wilson e um dos autores do Principia Discordia, Kerry Thornley, “decidiram que o mundo estava ficando muito autoritário, muito fechado, muito controlado. Eles queriam trazer o caos de volta à sociedade e agitar as coisas, e a maneira que encontraram foi espalhar desinformação. Espalhar desinformação em todos os meios – na contracultura e na mídia tradicional. E decidiram que começariam isso contando histórias sobre os Illuminati”. E assim eles fizeram.

Publicidade

Por que gostamos de uma conspiração

No mundo de hoje, com a comunicação hiperconectada, os rumores se espalham mais rapidamente. E muitas pessoas acreditam nas diversas teorias da conspiração compartilhadas em fóruns e redes sociais. Essas crenças podem ter causas biológicas.

Leia também: Ativistas antivacinas podem trazer doenças erradicadas de volta ao Brasil

Um estudo publicado em 20 de agosto no periódico Current Biology descreve a descoberta de uma associação entre a tendência a explicar eventos históricos ou atuais em termos de teorias conspiratórias e o mecanismo chamado de pensamento teleológico (de telos, fim em grego).

O pensamento teleológico é a atribuição de um propósito ou de uma causa final a eventos naturais. Por exemplo, quando alguém fala “tudo acontece por um motivo”, ou “as abelhas têm o propósito de polinizar as flores”.

Os autores, psicólogos da Universidade de Fribourg (Suíça), identificaram que o pensamento conspiracionista está associado ao viés teleológico. Ou seja, a tendência a pensar de forma teleológica estaria por trás da propensão a explicar eventos sócio-históricos em termos de conspirações maléficas e secretas.

Publicidade

Leia também: Por que as pessoas continuam se iludindo com o socialismo apesar das evidências

O filósofo Pierre-André Taguieff, autor do livro La Foire aux illuminés (2005), afirma que a narrativa dos Illuminati nos dá a impressão de conhecer a causa dos nossos infortúnios. "Para os jovens que se sentem vítimas, essa grande narrativa explicativa onipotente exerce uma grande atração: eles acham seus culpados. Os Illuminati abrangem os capitalistas, os maçons, os judeus, os monarcas, os círculos de políticos, as sociedades pseudo-secretas, as finanças internacionais, os banqueiros e assim por diante".

Já Rudy Reichstadt, diretor do site Conspiracy Watch, um observatório de teorias da conspiração, vê um aspecto perturbador na busca pela explicação do mundo por essas teorias: “A palavra 'Illuminati' é frequentemente seguida de declarações anti-semitas e negacionistas. Esses jovens fazem sua cultura histórica na Web e se deparam com vídeos que explicam o mundo em vinte minutos com o bem e o mal”, observa Rudy Reichstadt, em entrevista ao La Republica.

“O efeito pode ser muito gratificante para os jovens que dão errado na escola, adquirindo assim um discurso político próprio”. De acordo com Reichstadt, há muito trabalho a ser feito no aprendizado (em particular na história) e também no status das informações coletadas na internet. “Estamos lidando com uma geração que às vezes se esforça para distinguir fontes confiáveis das não confiáveis. Por exemplo, eles tendem a acreditar em tudo o que leem na Wikipédia, seja qual for o assunto”, disse Reichstadt.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
Publicidade