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Zitelmann destaca que o capitalismo é a melhor solução para os problemas da sociedade.
Zitelmann destaca que o capitalismo é a melhor solução para os problemas da sociedade.| Foto: Reprodução/Facebook

Problemas sociais e pobreza despertam uma reação quase padronizada na esquerda: pedir mais intervenção estatal. Mas a solução mais eficaz está no capitalismo e livre mercado, argumenta o historiador Rainer Zitelmann no livro “The Power of Capitalism” [O poder do capitalismo].

“O maior truque que os socialistas adotaram é comparar uma utopia abstrata, um sonho que alguém pensou e escreveu em um livro, à realidade. A realidade sempre fica em segundo plano”, diz Zitelmann, que destaca que evidências em todo o mundo mostram que o capitalismo é a melhor solução para os problemas da sociedade, permite o desenvolvimento e a prosperidade e diminui a pobreza.

Mesmo assim, segundo Rainer, as pessoas ainda não conhecem a realidade do socialismo e as vantagens do capitalismo. Confira abaixo a entrevista completa com historiador:

Capitalismo ainda é visto como um “palavrão” por muitas pessoas. Mas o que exatamente é o capitalismo? Por que é uma palavra tabu?

No capitalismo, não é o Estado que decide o que e quanto é produzido. São as empresas e, finalmente, os consumidores. Livre mercado e direito à propriedade privada são as características básicas do capitalismo, em contraste com o socialismo, sob o qual o Estado decide o que é produzido. No entanto, onde quer que você olhe no mundo, os sistemas estão sempre misturados. Em nenhum lugar houve capitalismo puro ou socialismo puro.

Os EUA são a maior potência econômica e um exemplo de liberdade econômica. Por outro lado, a China está em segundo lugar e ainda vive sob uma forma de governo completamente oposta. Até onde podemos dizer que o mundo vive sob o capitalismo?

A China e os EUA são sistemas mistos – combinando elementos do capitalismo e socialismo. É claro que, na China, o Estado desempenha um papel maior do que nos EUA. Mas, nos últimos 40 anos na China, o papel do Estado foi consideravelmente reduzido e o livre mercado e os direitos de propriedade privada foram introduzidos. O resultado: o número de cidadãos chineses que vivem em extrema pobreza caiu de 81%, em 1981, para menos de 1% em 2018. A combinação dos números 60/70/80/90 é frequentemente citada para descrever o papel do setor privado na economia chinesa. O setor privado contribui com 60% do PIB da China e é responsável por 70% da inovação, 80% do emprego urbano e 90% dos novos empregos. A China serve como um exemplo perfeito de quão bem-sucedido é o capitalismo.

Vemos problemas claros na sociedade, especialmente em relação à pobreza. A esquerda diz que mais intervenção estatal é a solução. Esta é realmente uma boa solução para esses problemas?

O capitalismo é de longe a melhor solução para combater a pobreza. De fato, há 200 anos, antes do início do capitalismo, 90% da população global vivia em extrema pobreza. Hoje, esse número foi reduzido para apenas 10%. E metade dessa redução ocorreu apenas nos últimos 35 anos, após o colapso do socialismo e como resultado da globalização capitalista.

Quais são alguns exemplos contemporâneos de capitalismo e livre mercado que são a solução para os problemas em todo o mundo? Até que ponto o capitalismo pode ser a solução para problemas em países pobres que continuam escolhendo governos de esquerda, como Venezuela e Angola?

A Venezuela é um bom exemplo. Na década de 1970, a Venezuela era um dos países mais ricos do mundo. Até os políticos venezuelanos começarem a introduzir regulamentos extremos, especialmente no mercado de trabalho. Então, depois que Hugo Chávez chegou ao poder, em 1999, os socialistas da Venezuela conseguiram destruir a economia do país em apenas 20 anos. Hoje, 10% da população fugiu da Venezuela e a taxa de inflação é a mais alta do mundo. A solução para os problemas é clara: a Venezuela deve encontrar o caminho de volta à economia de livre mercado, aos direitos de propriedade privada e ao capitalismo.

A esquerda progressista costuma dizer que o livre mercado é um fracasso e o capitalismo está morrendo. Até que ponto isso é verdade? Qual é o estado atual do capitalismo e do mercado livre?

Este é um paradoxo. Por um lado, os padrões de vida melhoraram mais nas últimas três décadas, graças ao capitalismo, do que em qualquer outro período da história humana. Por outro lado, o capitalismo hoje está sob ataque em todo o mundo. Em partidos políticos que costumavam ser moderadamente de esquerda, como os democratas nos Estados Unidos, os trabalhistas na Grã-Bretanha e os social-democratas na Alemanha, os anticapitalistas radicais de esquerda ganharam considerável influência e estão cada vez mais definindo suas políticas. Na esfera intelectual, anticapitalistas e inimigos da riqueza, como o economista francês Thomas Piketty, são festejados. O capitalismo está em perigo, e é por isso que escrevi meu livro. 

Temos exemplos de países que prosperaram sob o socialismo ou o comunismo? É possível que isso aconteça?

Não, houve dezenas de experimentos socialistas ao redor do mundo nos últimos 100 anos e todos falharam miseravelmente. Sem exceção. Tantas versões diferentes do socialismo foram tentadas: uma versão na Rússia, outra na Iugoslávia, uma em Cuba, outra na Coréia do Norte, uma na Alemanha Oriental e ainda outros na Albânia e em países da África. Mas nenhum desses experimentos funcionou. O que deve servir de reflexão. Albert Einstein disse uma vez que a definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente, mas esperando resultados diferentes. Isso certamente parece se aplicar aqui.

Temos alguns países ao redor do mundo que se tornaram prósperos depois de abdicar do comunismo e abraçar o capitalismo, como a Estônia. Por que isso acontece? O que acontece com um país e seu povo após uma guinada à direita?

No meu livro, mostro que a vida das pessoas melhora cada vez que um país fortalece seu livre mercado e introduz mais direitos de propriedade privada. Os exemplos da Suécia e da Grã-Bretanha são interessantes. Ambos os países experimentaram o chamado socialismo democrático na década de 1970 – com impostos muito altos sobre os ricos e um aumento substancial na propriedade do Estado. O resultado em ambos os casos foi um colapso econômico. As pessoas nesses países reconheceram os resultados desastrosos dessas experiências socialistas e rapidamente elegeram políticos para reverter a influência do Estado e dar ao mercado mais espaço para manobras. Como resultado, a vida das pessoas melhorou.

Temos uma extensa quantidade de exemplos de nações que se tornam mais ricas e mais livres sob o capitalismo. Ainda assim, por que precisamos continuar sendo lembrados de que o capitalismo produz melhores resultados?

A maioria dos jovens sabe muito pouco sobre as realidades históricas do socialismo. Nas escolas e universidades, eles aprendem muito pouco sobre os resultados negativos do socialismo. Em contraste, escolas e universidades na maioria dos países ocidentais ensinam os alunos sobre os males do capitalismo. Meu livro começa com um relatório sobre o maior experimento socialista da história, o Grande Salto para Frente de Mao, no final dos anos 50. Somente esse experimento matou 45 milhões de pessoas. Dou palestras sobre esse assunto em todo o mundo e, quando pergunto aos jovens se eles ouviram falar sobre isso na escola, acredite, quase ninguém ouviu falar sobre esse fato histórico.

A esquerda geralmente defende o socialismo com base em teorias utópicas, em oposição a exemplos reais de países socialistas que fracassaram. Quais são os riscos em misturar teoria e história?

O maior truque que os socialistas adotaram é comparar uma utopia abstrata, um sonho que alguém pensou e escreveu em um livro, à realidade. A realidade sempre acaba em segundo plano. É como comparar seu casamento com a descrição de um caso de amor em um romance. Não é uma comparação justa. É um truque. Então, no meu livro, não discuto teorias. Comparo coisas que realmente podem ser comparadas, por exemplo, Coréia do Norte e do Sul, Alemanha Oriental e Ocidental, Chile e Venezuela – ou China sob Mao e China após as reformas de mercado de Deng Xiaoping.

Alguns dizem que o livre mercado também é uma utopia. Até que ponto essa equivalência é justa? O livre mercado é realmente uma utopia?

Sou contra basear argumentos em qualquer forma de utopia. Não sou apenas contra as utopias socialistas, mas também contra as utopias libertárias do “capitalismo puro”. Você não pode criticar os socialistas por jogarem a carta da utopia se você contrapô-los com sua própria utopia.

Conteúdo editado por:Rafael Salvi
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