Não fiquei surpreso ao ficar sabendo da morte, aparentemente por suicídio, de Jeffrey Epstein. Ele tinha diante de si um futuro sombrio: prisioneiros que abusam sexualmente de crianças são humilhados por todos os outros prisioneiros e precisam ser protegidos do violento senso de justiça da cadeia. Eles vivem com medo de serem atacados e Epstein devia saber que era assim que ele iria viver pelo restante de sua vida, ainda mais por causa de sua inescapável fama. Ele não teria mais Palm Beach, Ilhas Virgem e fazenda no Novo México; para ele, abandonado por todos aqueles que antes aceitavam seus convites, só restava o cotidiano sombrio e implacável da prisão.
Diante dos detalhes escabrosos e das ramificações do caso, é natural que teorias da conspiração surjam aos montes. Mas, pelo bem da argumentação, vamos aceitar a explicação mais provável para a morte de Epstein — isto é, o suicídio. O Procurador Geral William Barr já pôs a culpa no centro de detenção federal onde Epstein se enforcou e, pelos relatos, parece mesmo que os funcionários foram relapsos em sua vigilância. Isso, contudo, não é o mesmo que dizer que eles são culpados pela morte de Epstein, já que prisioneiros cometem suicídio mesmo quando estão sob a melhor vigilância possível.
Com base em minha experiência profissional como psiquiatra prisional, espero o melhor da prisão onde ele estava preso, sem dizer que o que aconteceu lá foi o certo. Só quero fazer um alerta contra a pressa em julgar o caso.
Vamos supor que Epstein fora cuidadosa e repetidamente avaliado por um psiquiatra, que foi capaz de diagnosticá-lo como alguém sem um transtorno psiquiátrico passivo de tratamento. Epstein certamente era inteligente e talentoso o bastante para esconder suas intenções deste psiquiatra, e nenhum psiquiatra pode dizer que nunca foi enganado assim por um paciente.
A vigilância contínua é muito desagradável para todos os envolvidos. Até mesmo a privacidade limitada da vida normal na prisão é proibida ao prisioneiro. Na falta de qualquer doença psiquiátrica evidente, é perfeitamente normal cancelar esse tipo de vigilância depois de uns poucos dias; na verdade, poderia ser considerado cruel continuar com a vigilância na falta de um transtorno psiquiátrico ou de uma ameaça iminente de suicídio. A vigilância contínua é deixada de lado até mesmo quando há um risco de longo prazo de suicídio, como, obviamente, era o caso de Epstein. O risco seria apenas um pouco menor depois de meses seguidos esperando o julgamento. Eu me lembro de um famoso serial killer na prisão onde eu trabalhava que se matou depois de um longo período de encarceramento. Na manhã de sua morte, ele estava todo alegre jogando bilhar com os carcereiros.
Abandonar a vigilância contínua de potenciais suicidas é uma questão de análise passível de falha. O suicídio prova que a vigilância fracassou; a sobrevivência prova que ela teve sentido. Epstein deveria ser observado a cada meia hora, uma medida que, do ponto de vista da prevenção do suicídio de um homem que privadamente já decidiu se matar, é inútil, mesmo se levada a cabo (o que, neste caso, não aconteceu). A maioria dos suicídios nos hospitais psiquiátricos do Reino Unido, por exemplo, ocorrem entre pacientes que estão sob regimes de observação de 15 ou 30 minutos. Nem mesmo a observação constante está isenta de falhas: sei de casos de prisioneiros e de pacientes psiquiátricos que se mataram sob observação direta, sem qualquer acusação de negligência por parte daqueles que os observavam. Não estou dizendo que não houve falhas na supervisão de Epstein; houve, no mínimo, uma quebra de protocolo. Conheço carcereiros que dão as costas quando um estuprador está sendo espancado por outros prisioneiros. Mas em todos os casos, incluindo o de Epstein, o diabo está nos detalhes. Levar a cabo os procedimentos como eles são determinados não é garantia de que tudo sairá conforme o planejado.