Os parlamentares do Partido Republicano estão pedindo à inteligência um briefing sobre o novo "centro eleitoral" do TikTok, e expressam o receio de que a iniciativa permita a interferência do Partido Comunista Chinês nas eleições dos EUA, bem como a coleta de dados importantes da atividade política no país (inclusive informações sobre registro de eleitores). O grupo, liderado pelos deputados Jim Banks e Michael Waltz, explicou seu receio numa carta enviada esta semana para Jeffrey Wichman, o principal agente de inteligência que cuida da interferência política estrangeira.
"O TikTok, uma subsidiária ultramarina da companhia chinesa ByteDance, que tem membros do Partido Comunista Chinês na diretoria, vai policiar o discurso político americano e possuir os dados de, potencialmente, milhões de eleitores", escreveram os parlamentares na carta obtida exclusivamente pela National Review. "Essa nova Central Eleitoral poderia municiar o Partido Comunista Chinês com uma ferramenta de vigilância política e de interferência nas eleições. Tal partido é o nosso principal adversário estrangeiro, e essa ferramenta não tem precedentes."
Os parlamentares pediram também que Wichman informasse o Comitê Republicano de Estudos sobre como a Central Eleitoral do TikTok pode permitir que o governo chinês interfira nas eleições dos EUA e envolver as tentativas de vigilância por parte do Partido Comunista Chinês. Entre os quatorze signatários da carta estão os deputados Lisa McClain, Claudia Tenney e Joe Wilson, além de outros membros do Comitê.
A empresa de rede social ligada ao Partido Comunista Chinês revelou sua nova iniciativa eleitoral em 17 de agosto, num release intitulado: "Nosso compromisso com a integridade eleitoral". A empreitada é uma colaboração com várias organizações sem fins lucrativos, tais como a Associação Nacional de Secretários de Estado e organizações focadas em participação política de surdos, universitários e presidiários.
"Dar acesso a informações oficiais é parte importante de nossa estratégia geral de combate à desinformação eleitoral. É por isso que estamos implementando uma Central Eleitoral para ligar as pessoas engajadas em conteúdo eleitoral a informações e fontes oficiais em mais de 45 línguas, incluindo inglês e espanhol", escreveu Eric Han, o chefe do TikTok para a segurança nos EUA.
O TikTok também acrescentará rótulos que identifiquem o conteúdo político relacionado às eleições de meio mandato, que ocorrerão em novembro, incluindo conteúdo associado a candidatos e agentes públicos, possibilitando que os usuários acessem diretamente a Central Eleitoral. Além disso, a empresa disse que continuará a reforçar suas políticas banindo "desinformação eleitoral", assédio e "comportamento odioso", em concomitância com "agências de checagem de fato bem reputadas".
Vale notar que o TikTok disse que também daria informação para ajudar as pessoas a se registrarem para voto, embora isso direcionasse os usuários para fora do TikTok. O aplicativo não teria "acesso a nenhum dado ou atividade exterior à plataforma."
Ainda assim, os parlamentares, que citaram um relatório segundo o qual o TikTok tem a capacidade de acessar os teclados dos usuários, não estão convencidos. "Isso significa que o TikTok vai ter os perfis dos votos dos usuários americanos que usarem a Central Eleitoral."
Desde junho o TikTok enfrenta um crescente nível de escrutínio relativo aos laços extensos da sua matriz com o Partido Comunista Chinês. Naquele mês o BuzzFeed publicou uma denúncia: entrou no detalhe de que os engenheiros da ByteDance em Pequim podiam acessar os dados dos usuários americanos, uma revelação que contradisse as declarações públicas anteriores do TikTok. Desde então os senadores Mark Warner e Marco Rubio, respectivamente diretor e vice-diretor da Comissão de Inteligência do Senado, pediram um briefing de contrainteligência sobre o TikTok, acusando sua liderança de enganar o Congresso. Uma montanha de parlamentares manifestou preocupações similares quanto à coleta de dados feita pelo aplicativo.
Ainda que muito do alarme de Washington com o TikTok se concentre na possível transferência de dados para as entidades governamentais chinesas, há motivos para crer que a empresa manipule conteúdo a fim de encaixá-lo nas narrativas do Partido Comunista Chinês. O TikTok já foi acusado de censurar conteúdo que conflita com as sensibilidades políticas de Pequim -- acusação que negou energicamente.
E enquanto o TikTok tentava minimizar seus laços com o Partido Comunista, a ByteDance colaborava com agências de segurança em Xinjiang para acobertar as atrocidades em massa cometidas por Pequim contra os uigures. Além disso, um membro da diretoria da ByteDance, Neil Shen, tem um assento no corpo que participa da frente unida da rede de influência política do Partido Comunista.
Wichman foi selecionado este ano para liderar o centro de resposta à influência estrangeira maligna na Agência do Diretor da Inteligência Nacional (ODNI, em inglês). O centro é uma célula nova, incumbida de fazer frente às empreitadas de interferência política promovidas por governos que têm interesses contrários aos EUA. Os legisladores do Partido Republicano disseram a Wichman que a crescente popularidade do aplicativo deveria ser especialmente preocupante à luz da vigilância de amplo alcance e das tentativas de interferência por parte de Pequim.
"Segundo apenas os dados revelados em arquivamentos de agentes estrangeiros, o gasto do governo chinês nos EUA cresceu muito: de dez milhões de dólares em 2016 para 64 milhões em 2020. Segundo o Relatório da Comunidade de Inteligência publicado pelo Diretor da Inteligência Nacional, 'a China provavelmente manteve empreitadas duradouras para amealhar informações sobre os eleitores e a opinião pública, os partidos políticos, os candidatos e suas equipes, bem como os agentes seniores do governo durante a última eleição", escreveram os parlamentares.
Um porta-voz da ODNI preferiu não comentar a possibilidade de as atividades eleitorais do TikTok turbinarem as atividades de vigilância e interferência política do Partido Comunista Chinês. O TikTok não respondeu aos pedidos da National Review de que comentasse.
© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
Deixe sua opinião