Em entrevista ao programa 60 Minutes, o ex-presidente Obama posou de bom moço. Mas, quando estava na Casa Branca, agia como déspota.| Foto: AFP
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Num episódio recente do programa 60 Minutes, da CBS, o ex-presidente Barack Obama, sem muita sutileza, comparou o mandato de Trump a algo semelhante à presidência de uma República das Bananas ou de um Estado totalitário unipartidário:

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“Acho que nos últimos anos houve essa sensação de que vale qualquer coisa para alcançar o poder. E isso não é só nos Estados Unidos. Há homens fortes e ditadores em todo o mundo que acham que podem fazer de tudo para permanecerem no poder. Posso matar. Posso prender. Posso forjar eleições. Posso calar jornalistas. Mas não deveríamos ser assim. E um dos sinais que acho que Joe Biden deve enviar ao mundo é que não, porque acreditamos nos valores que pregamos”.

As comparações da retórica e das atitudes de Trump com líderes autoritários variam da histeria à moderação. Mas a análise de Obama sobre Trump não é apenas exagerada e partidária. Ela menospreza o caráter ilegítimo e autoritário de sua própria administração. É pura projeção.

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Ao longo de toda a sua presidência, Obama se comportava de uma forma que hoje ele consideraria autoritária e vingativa. A retórica dele era semelhante. Depois das eleições de 2010, os deputados republicanos se recusaram a votar a pauta regulatória do presidente. Um Obama frustrado disse: “Se eles não fizerem nada, eu farei”. Mais tarde, em seu discurso à nação de 2014, Obama disse que tentaria “avançar sem precisar de legislação sempre que possível”.

Sem dúvida Obama dizia uma coisa e fazia outra em questões constitucionais. No começo de 2011, ao falar das leis de imigração, Obama disse: “Sobre a ideia de que posso suspender as deportações por meio de decreto, esse não é o caso”. No ano seguinte, porém, Obama assinou o decreto de Ação Temporária para Crianças Recém-Chegadas (DACA), que legalizou parcialmente a situação de mais de 700 mil imigrantes ilegais que entraram nos Estados Unidos ainda crianças. Em 2014, Obama novamente assinou um decreto sobre imigração — o Ação Temporária para Pais de Americanos —, mas um movimento mais ousado que anistiaria milhões de imigrantes foi suspenso por um impeditivo da Suprema Corte.

A Receita Federal do governo de Obama também tentou silenciar os inimigos políticos dele. Lois Lerner, ex-funcionário do órgão e que trabalhou para Obama, ameaçou organizações sem fins lucrativos ligadas ao movimento Tea Party e que receberam doações nas eleições de 2010 e 2012. Entre 2010 e 2013, a Receita submeteu essas organizações, com apenas em seus nomes e ideologia, a um escrutínio anormal e injusto. O próprio Obama considerou isso “revoltante”, jurando “cobrar todas as responsabilidades” da Receita. Ninguém foi responsabilizado e o escândalo foi varrido para debaixo do tapete, claro.

Em sua última coletiva de imprensa, Obama conclamou os jornalistas a retaliarem a administração Trump. “Nossa democracia precisa de vocês”, disse ele, “os Estados Unidos precisam de você”. Essa não era a posição dele no cargo. Na prática, Obama foi mais “nixoniano” do que qualquer presidente desde Nixon. Em 2015, o ex-repórter do New York Times James Risen descreveu a administração Obama com palavras fortes, chamando-a de “a maior inimiga da liberdade de imprensa em uma geração”. A avaliação dele é precisa.

O Departamento de Justiça de Obama e o procurador-geral Eric Holder, que certa vez se autointitulou “braço direito” do presidente, acusaram oito pessoas de vazar informações para jornalistas, usando a Lei de Espionagem de 1917: Thomas Drake, Shamai Leibowitz, Stephen Kim, Chelsea Manning, Donald Sachtleben, Jeffrey Sterling, John Kiriakou e Edward Snowden. No todo, a administração Obama processou três vezes mais casos de vazamento e denúncias do que as administrações anteriores, republicanas ou democratas. Além disso, em 2013, a administração Obama conseguiu um mandato para investigar os registros telefônicos e os e-mails do repórter James Rosen, da Fox News. Rosen tinha publicado informações delicadas sobre a Coreia do Norte e a administração dizia que as informações eram prejudiciais.

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“Por fim, sempre tentei tratar meus opositores políticos da forma que não fui tratado”, disse Obama na entrevista para o 60 Minutes. Chamá-lo de hipócrita é pouco. Obama é um político ambicioso, ainda que talentoso, que explora a imprensa e sua base cultural para promover a pauta do partido e para proteger seu legado, ao mesmo tempo em que castiga os que não o acompanham em sua visão grandiosa de como os Estados Unidos deveriam ser. Agora que ele está de volta aos holofotes, não há motivo para não criticar seu legado real.

John Loftus é membro da equipe College Fix da National Review.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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