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Alguns membros estridentes do "Partido da Ciência" defendem que as mulheres são fake news e que a maternidade é um nefasto ardil capitalista.
Alguns membros estridentes do “Partido da Ciência” defendem que as mulheres são fake news e que a maternidade é um nefasto ardil capitalista.| Foto: Pixabay

As mulheres biológicas [sic] são, segundo alguns, uma construção social inventada há pouco tempo. Esqueçam Eva ou a evolução. A verdadeira origem do belo sexo está no fim do século XVIII, quando cientistas carolas, brancos e homens, criaram a ideia do sexo binário para oprimir as mulheres e as minorias raciais. Ao menos é isso que diz a atual "ciência" lacradora. ["Biological women", ou "mulheres biológicas", é a expressão que vem sendo pelos conservadores anglófonos para designar as mulheres de maneira inequívoca, já que a fêmea da espécie é referida pelos progressistas anglófonos como "AFAB", Assigned Female At Birth, "Considerada Fêmea Ao Nascer". (N. t.)]

"Antes do final do século XVIII, a ciência ocidental reconhecia só um sexo — o masculino — e considerava o corpo feminino uma versão inferior dele", tuitou revista científica a Scientific American. "A guinada para o que os historiadores chamam de 'modelo de dois sexos' serviu sobretudo para reforçar divisões raciais e de gênero ao ligar o status social ao corpo."

Você leu direito.

A turba progressista, que grita "confie na ciência", quer que você acredite que antes do final do século XVIII os ocidentais viam todas as mulheres, desde Helena de Troia a Joana d'Arc, como homens defeituosos e malformados. Os corpos femininos eram supostamente vistos como deformados e inferiores, um desvio aquém da norma masculina. Pelo visto, todos os escritos históricos que exaltam a aparência física das mulheres são satíricos, segundo essa gente. William Shakespeare escreveu um monte de versos e falas louvando a "divina perfeição de uma mulher" e celebrando assim: “Ó Helena, deusa, ninfa, perfeita, divina! A que, meu amor, hei de comparar teus olhos?" Mas ele deve ter elogiado ironicamente, para dar pena das habitantes de corpos tão "inferiores" à versão masculina.

O comentador conservador Matt Walsh recentemente atraiu controvérsia e atenção ao produzir o documentário What Is a Woman? [O que é uma mulher?], que explora o atual conceito esquerdista de gênero. Mas talvez a questão mais urgente para os esquerdistas de hoje seja: "As mulheres existem?" A Scientific American fez coro a um número crescente de vozes progressistas que manifestam dúvidas quanto à realidade científica da binaridade dos sexos.

O desconcertante artigo da Scientific American promovia um documentário criado pela Sociedade Intersexo da América do Norte no qual se alega que indivíduos intersexo sofrem de 30 doenças (conditions) diferentes que fazem com que não sejam nem claramente homens, nem claramente mulheres. Eles seriam 1,7% da população, segundo Sean Saifa WAll, identificado como "ativista e pesquisador intersexo." ["Intersexo" é o novo nome, politicamente correto, dos hermafroditas. Em inglês, ninguém mais tem disease (doença, mal); todo mundo tem condition (condição). Esse apreço generalizado pelos eufemismos, entre os anglófonos, facilita muito o relativismo dos progressistas na área da saúde. (N. t.)]

Cientistas de verdade, do Montgomery Center for Research in Child and Adolescent Development, contestam a estimativa de 1,7%, notando que 29 das 30 doenças referidas não envolvem ambiguidade sexual. "Aplicando essa definição mais precisa, a verdadeira prevalência do intersexo deve ser cerca de 0,018%, quase 100 vezes menor [sic] do que a estimativa de Fausto-Sterling de 1,7%" segundo os cientistas do Montgomery Center. Quase nove a cada dez indivíduos que a Scientific American diz serem intersexo têm, na verdade, apenas uma doença (condition), a hiperplasia adrenal tardia (LOCAH, na sigla em inglês), com genitálias completamente normais de nascença, e condizentes com seus cromossomos sexuais. Rotular a hiperplasia adrenal tardia como intersexo é simplesmente desonesto, segundo o Dr. Colin Wright, um biólogo evolucionista.

A Scientific American ainda alega que os indivíduos intersexo são oprimidos pela sociedade. A revista embasa essa alegação citando uma enquete de 2020 feita pelo Center for American Progress, um think tank de extrema esquerda que já foi liderado pelo marqueteiro de Hillary Clinton na campanha presidencial, John Podesta. Fingir que mercenários políticos são cientistas sem vieses não é científico... nem americano.

Infelizmente, não é de admirar que exagerem o número de indivíduos intersexo para tentar refutar "o mito dos dois sexos" (para citarmos um outro tuíte da Scientific American) e alegar que a mulher é um conceito recente infelizmente. Essa nova mania de dizer que mulheres não existem, nem existiram, não é exclusividade da Scientific American. As recentes tentativas de substituir palavras como "mulher" e "mãe" por alternativas desumanizadoras (como "corpos que sangram", "corpos com vaginas" e "corpos parideiros") até suscitaram críticas de alguns esquerdistas, que encheram páginas do New York Times. O uso da palavra "mulher" ou o reconhecimento da realidade científica de que os humanos são uma espécie com dismorfismo sexual vêm sendo vistos cada vez mais como odientos pela extrema esquerda.

"O sexo não chega nem perto de ser tão binário [sic] quanto você imagina", tuitou a revista Popular Science este mês enquanto comparava o homem ao peixe-palhaço e ao pé de abacate. "Apoiamos todo o mundo em meio ao espectro de gênero. Se você é transfóbico, fique à vontade para bloquear. Gratidão!"

A Popular Science prosseguiu notando que o pé de abacate muda de sexo todo dia, porque "têm flores macho e flores fêmea no mesmo pé, ou têm pés machos e pés fêmeas", segundo uma jornalista com diploma de comunicação e um bacharelado em "filosofia da ciência". Comparar seres humanos a plantas que, segundo o estereótipo, são servidas em torradas para millennials, é tão ofensivo quanto errôneo. [No mundo anglófono, existe o meme do jovem que come torrada com abacate. Tudo surgiu porque em 2017 um milionário australiano, Tim Gurner, no programa 60 Minutes, criticou os jovens que gastam dinheiro demais comprando abacate amassado em vez de juntar dinheiro para comprar uma casa. (N. t.)]

Até a revista científica Nature decidiu subordinar sua busca pela verdade às opiniões da moda sobre gênero. Num editorial recente, a revista anunciou novas "diretrizes éticas", sublinhando que "a liberdade acadêmica [...] não é ilimitada" e não compreende descobertas que possam se revelar ofensivas àqueles que acreditam num infinito espectro de identidades em "variância de gênero" ou outras teorias de gênero esquerdistas. O editorial assinala: "Os pesquisadores são encorajados a promover igualdade em sua pesquisa acadêmica", e os editores devem retirar artigos "sexistas, misóginos e/ou anti-LGBTQ+." Na Quillette, Bo Winegard mostra que as novas diretrizes da Nature são de uma vagueza preocupante e se pergunta: "Será quem um artigo que diz que os homens são fisicamente mais fortes do que as mulheres é 'misógino'?"

Um artigo que concluísse que as mulheres tendem a criar vínculos instantâneos com os filhos também entraria em conflito as sensibilidades atuais? O New York Times recentemente publicou um artigo de opinião segundo o qual o instinto materno das mulheres é algo fabricado pelos "arquétipos cristãos modernos" que só surgiu depois da Revolução Industrial, porque o "capitalismo foca no trabalho e na política, na competição individual, e em cria uma escada para o salário potencial dos homens."

Revisemos: o dogma atual da lacração exige que aceitemos que homens sexistas inventaram as mulheres no fim do século XVIII para oprimi-las; que supostos abacateiros de gênero fluido, de alguma maneira, refutam o dismorfismo sexual humano; que o termo "mulher" é odioso; e que os capitalistas inventaram o amor materno depois de a Revolução Industrial turbinar a economia. Resumidamente, alguns membros estridentes do "Partido da Ciência" defendem que as mulheres são fake news e que a maternidade é um nefasto ardil capitalista. Está cada vez mais difícil entender se a turma que até há pouco era tão afeita à hashtag #BelieveWomen [#AcrediteNasMulheres] acredita sequer na existência das mulheres.

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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