Em praticamente qualquer reunião hoje de pessoal da força de trabalho – pessoas envolvidas com projetos de treinamento e colocação profissional nos setores público e privado – o futuro do trabalho e as implicações da automação serão assunto de discussão. A discussão de hoje assumiu uma nova urgência, com receios de que a tecnologia mais recente, impulsionada pela inteligência artificial, destrua mais empregos do que possa criar.
O novo livro de John Tamny, “The End of Work” (O Fim do Trabalho), oferece uma visão diferente. Tamny, diretor do Centro de Liberdade Econômica da Freedom Works (um grupo que promove o liberalismo) e editor do Real Clear Markets (site de notícias do mercado financeiro), vê a substituição de empregos pela automação como um desenvolvimento positivo que libertará os indivíduos para criar papéis econômicos que reflitam seus interesses. O papel apropriado do governo, diz Tamny, é permitir que isso aconteça, restringir seu impulso de intervir e, essencialmente, deixar que mil flores desabrochem.
Nossas convicções: Ética e a vocação para a excelência
A nova economia criou mais espaço para serviços especializados e produtos de nicho. No passado, pessoas com paixões por, digamos, treinamento animal, ou exercícios físicos, ou vinhos finos, podem ter trabalhado frouxamente em funções rotineiras apenas para pagar as contas; em uma era de maior prosperidade econômica e maior renda, as pessoas podem ganhar a vida como especialistas em cuidados com os animais, personal trainers e sommeliers. A gama de canais para conteúdo criativo também se expandiu. A tecnologia tornou possível olhar para além de um punhado de redes de televisão, produtores de música ou editoras de livros. Hoje, podemos gravar e publicar nossas próprias músicas, publicar nossos textos e transmitir produções de vídeo com equipamentos acessíveis, que no passado estavam disponíveis apenas para as principais empresas de mídia.
Na tradição de George Gilder, Tamny baseia-se em histórias individuais, como as dos renomados donos de restaurantes Wolfgang Puck e Grant Achatz, dos músicos Keith Richards e Lindsey Buckingham e de vários atletas, além de figuras mais obscuras. Ele adverte que perseguir as paixões e fazê-las valer a pena exige muito trabalho e persistência. Matthew Weiner, criador de Mad Men, passou sete anos trabalhando no piloto. Mas a maioria das pessoas gosta de trabalhar em coisas que amam; aqueles que parecem ser preguiçosos estão apenas no trabalho errado e entediados, acredita Tamny.
Tamny, que planejava chamar seu livro “O fim da preguiça”, afirma que a preguiça diminui à medida que a prosperidade aumenta. Uma economia em expansão permitirá que mais pessoas façam o que amam como trabalho. “Eles não vão estar ‘trabalhando’, vão estar exibindo uma paixão”, disse ele.
Setor público x livre mercado
O título de Tamny evoca o livro “O fim do trabalho: o declínio da força de trabalho global e o alvorecer da era pós-mercado”, do economista Jeremy Rifkin, de 1995, que também se concentrou na eliminação de empregos por meio da tecnologia. Rifkin defendeu um esforço de larga escala para criar empregos no setor público; Tamny, em vez disso, enfatiza a importância do livre mercado, que permite que os indivíduos façam escolhas, produzindo a abundância econômica que fornece capital para os gastos do setor privado e de caridade, o que, por sua vez, permite que pessoas nas artes, em organizações sem fins lucrativos e think tanks econômicos busquem as suas paixões.
A solução de Rifkin em si ecoou respostas anteriores. Como a automação ameaçava deslocar empregos em larga escala nos anos 1950 e 1960, os socialistas democráticos, como Michael Harrington e Bayard Rustin, responderam com apelos à criação de empregos no setor público (culminando, em parte, na Lei de Emprego Completo de 1978). Mas os esquerdistas viam empregos no setor público como uma solução de curto prazo. A visão de longo prazo, como expressou Harrington em seu livro de 1972, “Socialismo”, era de uma economia em que o trabalho expressava os interesses e talentos das pessoas e no qual (seguindo Marx em “A Ideologia Alemã”) o homem não estava mais alienado de seu trabalho. O que a abordagem de mercado livre de Tamny compartilha com a visão estatista de Harrington é a noção de uma economia em que o trabalho é uma expressão do indivíduo.
Tamny vê um futuro brilhante à frente se os formuladores de políticas reconhecerem o papel da liberdade econômica. “Assim como a divisão do trabalho entre os seres humanos leva a resultados de trabalho muito melhores, o aumento da automação também beneficiará o trabalhador. Só que o resultado será muito melhor do que aquele que surge das divisões humanas do trabalho”. Ele saúda a ascensão dos trabalhadores-robôs. “Imagine o futuro se os robôs atingirem seu potencial de apagar todo tipo de formas de trabalho”, escreve ele. “Que emocionante”.
Quão realista é a nova economia de Tamny? Keith Richards e Tom Brady podem perseguir suas paixões e ganhar a vida, mas e a grande maioria de nós que tem a paixão, mas não tem as habilidades? Hoje, o número de escritores, figuras de esportes, músicos e outros criativos que podem viver da paixão é pequeno – embora os números que podem suplementar sua renda estejam crescendo.
Talvez Tamny irá fornecer mais detalhes sobre a participação nesta nova economia em um livro sequência. Por enquanto, o Fim do Trabalho apresenta um valioso corretivo para visões de um futuro automatizado em que os robôs nos deixam sem nada para fazer.
The End of Work: Why Your Passion Can Become Your Job [O Fim do Trabalho: Por Que Sua Paixão Pode Se Tornar Seu Trabalho], por John Tamny. (Gateway Editions, 256 páginas)
Michael S. Bernick atuou como diretor do Departamento de Desenvolvimento de Emprego da Califórnia de 1999 a 2004, e atualmente é advogado em São Francisco, e Milken Institute Fellow. Seu mais novo livro é “The Autism Job Club”
©2018 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês