A história envolvendo o presidente Trump, sua equipe e a ingerência russa nas eleições americanas de 2016 tem inúmeros detalhes e viradas. O jornal The Washington Post está rastreando os diversos tentáculos desta saga complexa e destacando falsidades ou inconsistências identificadas.
Revendo as verificações de fatos até agora, fica claro que em muitas instâncias o discurso da Casa Branca mudou à medida que a mídia trouxe novas informações à tona e revelou que autoridades estavam sendo enganosas ou ocultando a verdade com seu discurso. A reportagem compilou, desde janeiro de 2017, várias linhas do tempo apenas para rastrear o que Trump e seus assessores disseram, quando o disseram, o que o público sabia quando eles disseram e como suas declarações foram mudando ao longo do tempo. Também foram checados ataques enganosos lançados por democratas a ações de funcionários da administração Trump.
A investigação do promotor especial está em curso, de modo que esta história não para de evoluir. Segue uma compilação cronológica de 13 fatos sobre o caso Trump-Rússia até o momento:
1 - Ciberataque nas eleições presidenciais
No dia 6 de janeiro de 2017, agências de inteligência dos EUA divulgaram uma avaliação “altamente confiável” de que o presidente russo Vladimir Putin ordenou um ciberataque durante a eleição presidencial de 2016, com a finalidade de enfraquecer a confiança no processo democrático dos EUA e de prejudicar as chances de Hillary Clinton se eleger. Decodificamos as falas do então chefe de gabinete da Casa Branca Reince Priebus, que procuravam induzir o público ao engano, minimizando a importância da avaliação das agências de inteligência.
O presidente eleito Donald Trump e seus assessores ofereceram todo tipo de razões para descartar ou minimizar a avaliação de "alta confiança" por parte das agências de inteligência dos EUA de que o presidente russo tentou algo para minar a fé no processo democrático dos EUA e prejudicar a eleição de Hillary Clinton.
Segundo o chefe da equipe de funcionários da Casa Branca, Reince Preibus, não há provas de que a Rússia tenha conseguido colocar em prática qualquer tentativa de perturbar a democracia americana. “Ou, fato, influenciar os resultados eleitorais”, disse Preibus, no pragrama "Face the Nation", da CBS.
As agências de inteligência não teriam sido encarregadas, contudo, de avaliar se as ações russas influenciaram as eleições. O relatório da área deixa isso claro. "Não fizemos uma avaliação do impacto que as atividades russas tiveram sobre os resultados das eleições de 2016. A Comunidade de Inteligência dos EUA é encarregada de monitorar e avaliar as intenções, capacidades e ações de atores estrangeiros. Não analisa os processos políticos dos EUA ou a opinião pública dos EUA".
2 - Demissão do assessor de segurança nacional
Em 13 de fevereiro de 2017, o então assessor de segurança nacional Michael Flynn foi demitido. Funcionários da Casa Branca já sabiam havia semanas que Flynn dera declarações enganosas sobre a natureza das conversas que teve ao telefone com o embaixador russo Sergey Kislyak em dezembro de 2016, mas ele só foi pressionado a apresentar sua renúncia quando o WP divulgou o assunto. As declarações de Flynn ao WP passaram de negação direta para uma postura menos equívoca, à medida que o jornal ia descobrindo mais informações.
3 - Interação com embaixador russo
No dia 1º de março o WP divulgou que o secretário de justiça, Jeff Sessions, se reuniu duas vezes em 2016 com o embaixador russo Sergey Kislyak, mas não revelou esse fato quando foi sabatinado pelo Senado. Numa crítica a Sessions, a senadora democrata Claire McKaskill, de Montana, tuitou que não teve encontros nem telefonemas com o embaixador russo em seus dez anos no Comitê do Senado para as Forças Armadas. Mas foram encontrados, sem dificuldades, tweets anteriores, de 2013 e 2015, mostrando que ela teve, sim, interações desse tipo com o embaixador russo no passado. McCaskill recebeu três Pinóquios.
4 - Críticas a Sessions
A líder da minoria democrata na Câmara, deputada Nancy Pelosi, da Califórnia, criticou Jeff Sessions por não ter revelado seus contatos com Kislyak e disse que o Congresso submeteu o presidente Bill Clinton a impeachment por “algo muito menos grave” do que aquilo que Sessions fez. Mas essa descrição constituiu um exagero. Os dois casos, de Sessions e Clinton, envolvem declarações feitas sob juramento, mas as circunstâncias foram muitíssimo diferentes. (Mais tarde Sessions anunciou que não interviria na investigação Trump-Rússia, devido aos contatos que manteve com Kislyak durante a campanha.) Nancy Pelosi recebeu dois Pinóquios.
5 - Mentiras sobre telefonemas
Em 8 de maio, a ex-secretária interina de Justiça Sally Yates disse, em depoimento, que, no dia 26 de janeiro, informou o advogado da Casa Branca que Michael Flynn mentiu sobre a natureza dos telefonemas que trocou com Kislyak. Mesmo assim, foram precisos 18 dias, além do fato de o WP divulgar a notícia, para Trump reagir. Em resposta ao depoimento de Yates, Trump disse que o ex-presidente Barack Obama foi culpado por ter dado a liberação de segurança a Flynn em primeiro lugar e tê-lo promovido. Mas isso foi apenas uma manobra para desviar a atenção pública, com pouca base factual. Trump ganhou três Pinóquios.
6 - Diretor do FBI demitido
Em 9 de maio de 2017, Trump demitiu James B. Comey do cargo de diretor do FBI. Para justificar a iniciativa, ele e o secretário de Justiça Jeff Sessions citaram o modo como Comey administrou a investigação do FBI sobre o servidor privado de e-mail de Hillary. Mas nem Trump nem Sessions tinham criticado as decisões de Comey abertamente durante a campanha presidencial de 2016, pelo menos não como estavam fazendo em 2017.
Nos três dias seguintes à demissão de Comey, a razão exata da demissão não ficou clara. Inicialmente, Trump disse que estava apenas seguindo uma recomendação do Departamento de Justiça. Várias explicações mais tarde, o presidente acabou revelando que já pretendia demitir Comey havia tempo porque não queria que Comey presidisse a investigação do FBI sobre a interferência russa na eleição de 2016.
7 - Comprometimento de fonte sobre Estado Islâmico
Em 15 de maio, o Washington Post divulgou que Trump revelara informações altamente classificadas ao ministro do Exterior e o embaixador da Rússia em uma reunião na Casa Branca e que as revelações do presidente comprometeram uma fonte crucial de inteligência sobre o Estado Islâmico. Em resposta, o assessor de segurança nacional H.R. McMaster deu declarações que obscureceram o fato de que, essencialmente, ele confirmava os elementos factuais do artigo do WP.
No final de maio estava claro que a história de Flynn estava relacionada à demissão de Comey.
8 - Declarações contraditórias
Em 8 de junho, Comey depôs diante do Comitê de Inteligência do Senado e ofereceu pela primeira vez sua própria versão dos fatos. Seu depoimento trouxe à tona várias declarações contraditórias feitas por Trump relativas às mesmas reuniões e discussões.
9 - Culpa atribuída aos democratas
Não importa qual fato novo é revelado na história Trump-Rússia, uma coisa permanece constante: Trump atribui a culpa aos democratas, não aos russos. Trump descreve a história como “uma fraude”, “caça às bruxas” ou “notícias falsas” – apesar das descobertas feitas pela comunidade de inteligência dos Estados Unidos e mesmo depois de a Casa Branca ter confirmado relatos sobre as interações de sua equipe com os russos.
10 - Questionamentos sobre a promotoria do caso
Após a demissão de Comey, o ex-diretor do FBI Robert S. Mueller III foi nomeado promotor especial para comandar a investigação sobre a Rússia e assuntos relacionados. Quando Mueller montou sua equipe de investigadores, Trump e seus representantes começaram a criticar donativos feitos por alguns dos advogados que estão trabalhando com Mueller. Eles questionaram a independência de Mueller, já que alguns membros de sua equipe fizeram doações no passado a Hillary Clinton, Barack Obama ou o Partido Democrata. Mas são ataques sem fundamento. Legalmente e pelas regras federais de ética, essas doações não representam um conflito de interesses. Trump recebeu três Pinóquios.
11 - Obstrução de Justiça
Em junho, Mueller ampliou o escopo de sua investigação para incluir a possibilidade de Trump ter cometido obstrução de Justiça quando demitiu Comey. Com isso, a cada fato novo os críticos de Trump passaram a imediatamente pedir o impeachment do presidente e rotular suas ações de obstrução da Justiça. Mas não é tão simples assim, e com um discurso acalorado as complexidades do processo ficam confusas.
12 - Reunião com advogada russa
Em 8 de julho de 2017 o “New York Times” revelou que durante a campanha de 2016, Donald Trump Jr. se reuniu com uma advogada russa vinculada ao Kremlin. Nos dias seguintes, Trump Jr. deu declarações contraditórias e enganosas que foram mudando à medida que o NYT ia trazendo à tona novas informações sobre a reunião. Trump Jr. havia declarado anteriormente que nunca promoveu uma reunião com uma pessoa russa para discutir assuntos do interesse da campanha, mas essa declaração mostrou ser falsa.
13 - Coordenação entre a campanha de Hillary e a Ucrânia
Respondendo a perguntas sobre os contatos da campanha de Trump com a Rússia, a Casa Branca começou a tentar desviar os esforços de um agente ucraniano-americano para expor as ligações de Paul Manafort, ex-presidente da campanha eleitoral de Trump, com o governo russo. Agora a Casa Branca alega que a história real é de coordenação entre a campanha de Hillary Clinton e a Ucrânia. Mas é uma comparação superficial, pois existem diferenças cruciais entre as duas situações que as tornam fundamentalmente diferentes. A reportagem deixou a alegação sem “nota” até agora porque não há conhecimento de todos os fatos das histórias Trump-Rússia ou Hillary-Ucrânia.
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