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Obviamente não é fácil abdicar do medo da Covid-19, a julgar por uma pesquisa recente que mostra que os vacinados são os que têm mais medo da doença. Outra pesquisa mostrou que a maioria dos eleitores democratas têm tanto medo da doença que eles querem proibir os não vacinados de deixarem suas casas. Mas antes que você vista outra máscara ou desinfecte outra superfície da sua casa e antes de você celebrar as autoridades com seus decretos proibitivos, reflita sobre a probabilidade de um caso fatal de Covid-19 depois de você ter se vacinado.
Essa probabilidade está num estudo realizado pelo National Institutes of Health e publicado pelo Centro de Controle de Doenças. Eles rastrearam mais de um milhão de adultos vacinados nos Estados Unidos ao longo da maior parte do ano passado, incluindo o período em que a variante Delta estava em alta, e classificou as vítimas de acordo com fatores de riscos como idade, imunodeficiência, diabetes e doenças crônicas no coração, rim, pulmão, fígado e cérebro.
Os pesquisadores descobriram que nenhuma pessoa saudável com menos de 65 anos teve caso grave de Covid-19 a ponto de precisar de tratamento numa UTI. Nenhuma das quase 700 mil pessoas morreram, e o risco era minúsculo entre os mais velhos também. Entre os vacinados com mais de 65 anos e sem comorbidades, só uma pessoa morreu. No total, houve 36 mortes, a maioria entre uma minoria de idosos com várias comorbidades: os 3% da amostra que tinham ao menos quatro fatores de risco. Entre os demais, e num grupo que incluía idosos com uma ou duas doenças crônicas, houve oito mortes entre mais de 1,2 milhão de pessoas, então o risco de eles morrerem era de aproximadamente 1 em 150.000.
Essa é praticamente a mesma probabilidade de, ao longo de um ano, você morrer num incêndio ou caindo da escada. Automóveis são muito mais arriscados: você tem três vezes mais chance de morrer dentro de um carro e a mesma probabilidade de morrer enquanto pedestre. A chance de 1/150.000 de se morrer de Covid-19 é ainda menor do que a probabilidade de você morrer num terremoto ou de morrer atingido por um raio.
O estudo do CDC não se prolongou até o surgimento da variante ômicron, mas não há motivo para achar que as probabilidades sejam maiores. Apesar de a ômicron ser muito mais contagiosa do que as outras variantes, se espalhando entre vacinados e não vacinados, em geral os sintomas que ela causa são brandos. Agora que o pico da ômicron parece ter passado, a variante legou a muita gente o que os pesquisadores chamam de “super imunidade”, advinda tanto da vacina quanto da infecção. Estudos mostram que a imunidade natural é maior e mais duradoura do que a imunidade das vacinas. Assim, sempre que uma variante surgir, boa parte da população a enfrentará com uma imunidade maior. E a chance de sobrevivência aumentará graças ao surgimento de novos remédios que devem reduzir a mortalidade por Covid-19 em até 90%.
Claro que a ameaça é maior para os adultos não vacinados, mas por que a decisão pessoal dessas pessoas gera tanta raiva entre os que estão seguros e vacinados? A justificativa original para a obrigatoriedade das vacinas – a que elas eram necessárias para se impedir a contaminação – está ultrapassada, ainda mais agora que já ficou claro que as vacinas não impedem a transmissão e reinfecção. Mesmo que as vacinas diminuam a transmissão, elas não impedem que o vírus acabe contaminando a todos. De qualquer forma, o risco para os vacinados é tão baixo que não há justificativa para obrigar todos a se inocularem.
Tampouco há justificativa para se exigir o uso de máscaras ou a vacinação de crianças em idade escolar. Mesmo que as máscaras fossem eficientes — e as evidências científicas mostram que elas não têm nenhum ou pouco benefício — não faria sentido exigir o uso delas nas salas de aula, onde os riscos são baixos para todos (incluindo para os professores). Algumas crianças com problemas graves de saúde se beneficiariam das vacinas; quanto às demais, as vacinas não tem praticamente benefício algo, embora essas crianças corram o risco de efeitos colaterais raros e imprevistos. Ao analisar as taxas de mortes e infecções em 2020, antes da chegada das vacinas, Cathrine Axfors e John Ioannidis, de Stanford, calcularam o risco de morte para crianças e adolescentes em 0,001% — um em 100.000. O risco atual é ainda menor graças aos tratamentos melhores.
As histórias recentes de crianças hospitalizadas por Covid-19 se baseiam em estatísticas infladas. Os estudos mostram que quase metade das crianças classificadas como “hospitalizadas” por Covid-19 na verdade estavam sendo tratadas por outros motivos e acabaram por se contaminar por Covid-19. Mesmo usando os números inflados do CDC — cerca de 300 mortes por ano entre os quase 60 milhões de norte-americanos entre 5 e 18 anos — o risco de uma criança morrer por Covid-19 é de um em 200.000. Uma criança tem mais chance de morrer num acidente de carro, de cometer suicídio, de ser assassinada, de se afogar, de sofrer envenenamento acidental ou de morrer de câncer ou doenças cardíacas.
Se esses números não bastam para acalmá-lo, pense em mais esta estatística baseada na análise feita por Ioannidis com o uso de exames e pesquisas. Ele estima que, nos Estados Unidos, um país de 331 milhões de habitantes, houve algo entre 250 e 350 milhões de infecções por Covid-19 desde o início da pandemia. Ainda que essa estimativa incluía pessoas que se infectaram mais de uma vez, parece claro que a maioria dos norte-americanos já sobreviveram à doença e, assim, adquiriram imunidade natural, muitas sem nem saber. Alguns não percebem – e há toda uma horda de jornalistas e autoridades se esforçando para mantê-los ignorantes – que o maior inimigo hoje não é o vírus no ar, e sim o medo em suas mentes.
John Tierney é editor-colaborador do City Journal.