Oprah: é melhor não ir se acostumando| Foto: FREDERIC J. BROWN/AFP

Oprah pode se candidatar à presidência dos EUA. Nós fizemos a pesquisa da oposição.

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Já que de repente todo mundo está falando sobre a Oprah se candidatar em 2020, vamos falar sobre como pode ser a sua campanha – ou, mais especificamente, o que os seus oponentes podem fazer. 

Não há motivos para pensar que a política se tornará menos brutal nos próximos dois anos. E há muitos motivos para esperar que pesquisadores da oposição dissequem satisfeitos o histórico de Oprah como apresentadora de TV, ícone cultural, promotora de livro falso, defensora de poderes de cura místicos, rejeitadora de hambúrgueres e aparente amiga de Harvey Weinstein. 

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Sem contar o escândalo de abuso sexual infantil. 

Aqui vai uma amostra das questões desconfortáveis e potencialmente problemáticas que Winfrey poderia ter que explicar durante a campanha. 

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Oprah e o escândalo de abuso sexual infantil 

Lembra a dor de cabeça que a finada Trump University se tornou durante a campanha devido ao seu nome? Algumas pessoas talvez prefiram esquecer a avalanche de desastres da Oprah Winfrey Leadership Academy for Girls. 

Winfrey disse que o enorme complexo de US$ 40 milhões era o seu “presente” para as meninas pobres sul-africanas quando o inaugurou em 2007 – tinha até um estúdio de yoga e um salão de beleza. No começo, ela teve que defender o complexo luxuoso de acusações de que pareceria elitista em um país assolado por pobreza. 

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Ela defendeu a escola no seu típico estilo emocionante: “Se você está rodeado de coisas bonitas e ótimos professores que lhe inspiram, essas coisas bonitas despertam a beleza que existe em você”, disse Winfrey aos repórteres antes da inauguração. 

As meninas “nunca escutaram que são bonitas ou que têm lindas covinhas”, disse. “Eu queria escutar essas coisas quando eu era criança.” 

Meses depois, uma supervisora do alojamento foi presa e acusada de abuso sexual de pelo menos uma dúzia de alunas de sétimo e oitavo ano. 

Segundo relatos, Oprah ficou desolada. Ela chorou por meia hora, segundo contou aos repórteres em uma coletiva de imprensa após a prisão da supervisora. Ela acusou os funcionários da escola de encobrirem o escândalo. Eles falaram para as meninas “sorrirem”, segundo Winfrey. 

Ela demitiu a diretora e prometeu fazer uma limpeza na instituição. 

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Mas menos de dois anos depois, com o processo da supervisora ainda pendente, diversas meninas foram suspensas ou expulsas após acusações de que elas tentaram obrigar outras alunas a participarem de relacionamentos afetivos e sexuais. 

E então as acusações originais começaram a aparecer. 

No ano seguinte, segundo o Guardian, Oprah fez um acordo com a diretora, que havia acusado-a de difamação por sugerir que ela tinha conhecimento das atitudes da supervisora do alojamento. 

Alguns meses depois, a supervisora do alojamento foi absolvida de todas as acusações, segundo o Guardian. O juiz determinou que as acusações das meninas eram contraditórias e não eram confiáveis. 

A supervisora disse a repórteres que a sua vida havia sido destruída. Ela estava falida, desempregada e disse que não sabia se seria capaz de perdoar Winfrey, que apoiou as acusações das meninas. 

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A academia continua a operar. Recentemente foi celebrado o seu décimo aniversário com uma história livre de escândalos na revista Variety, que destaca o conselho de Winfrey para as meninas: “Eu quero que você seja presidente da sua própria vida”. 

Oprah estimulou paciente de câncer a aderir à pseudociência 

Se Winfrey se tornar presidente, ela deve ter uma grande influência sobre o sistema de saúde americano, incluindo nomear o cirurgião geral e secretário de saúde. 

Ela já selecionou o “médico da América”. Esse é o título de Winfrey para se referir a Mehmet Oz, mais conhecido como Dr. Oz, no seu programa, onde ele se tornou famoso por oferecer conselhos de saúde em meados dos anos 2000 – incluindo o segmento clássico “Todo mundo faz cocô”. Hoje, como o Washington Post relatou, Oz tem o seu próprio programa e talvez seja o médico mais famoso do país. E ele frequentemente usa a sua influência para promover tratamentos sem base científica, incluindo literalmente feijões “mágicos”. 

Oz talvez não seja necessariamente tóxico do ponto de vista político – Trump apareceu no seu programa durante a campanha presidencial de 2016 – mas ele se tornou um pária na comunidade médica. Winfrey o dispensou do seu canal de mídia há dois anos após um grupo de médicos o acusarem de “tratamentos charlatães”. 

Ele não é o único acusado de charlatanice que Winfrey acolheu: Como o Guardian escreveu, ela foi culpada por promover a cruzada antivacinação de Jenny McCarthy. E Winfrey repetidamente promoveu um sistema de autoajuda chamado “O Segredo”, que alega que adotar pensamento positivo (e comprar DVDs) pode resolver problemas emocionais, financeiros e físicos. 

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O primeiro programa de Winfrey sobre “O Segredo” ajudou a converter Kim Tinkham, que havia sido diagnosticada com câncer de mama. Ela contou a Winfrey em 2007 que o sistema a inspirou a ignorar os seus médicos, que disseram que ela precisaria de cirurgia e tratamento imediato. “Eu decidi me curar sozinha”, disse Tinkham

Winfrey tentou dissuadi-la. “Eu estou muito feliz que a mensagem, ou uma parte da mensagem, está chegando à consciência do público”, disse. Mas Tinkham poderia ter pensamentos positivos e ainda passar por uma mastectomia parcial. 

De acordo com o Washington Examiner, Tinkham morreu três anos depois. 

Oprah causou pânico em relação a hambúrgueres 

A maioria das pessoas supõe que Winfrey – que apoiou o presidente Obama e Hillary Clinton – se candidataria pelo Partido Democrata. Ela certamente precisaria vencer na Califórnia – ou no Texas, se ela se candidatasse pelo Partido Republicano. Por acaso, ambos são grandes estados da pecuária. O segundo foi o local do notório caso de carne de Winfrey. 

Tudo começou com um episódio do programa “The Oprah Winfrey Show”, em 1996, em meio a um medo generalizado da chamada doença da vaca louca, uma doença potencialmente fatal que seres humanos podem adquirir ao comer certos cortes de gado infectado. 

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Apesar da epidemia da doença ter atingido o seu ápice alguns anos antes, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, Winfrey levou ao seu programa um ativista vegetariano – e foi isso que aconteceu: 

“Você disse que essa doença pode fazer a AIDS parecer uma gripe comum”, disse Winfrey ao ativista, de acordo com a Associated Press. 

“Com certeza”, respondeu o ativista. 

“Isso me impediu de continuar comendo hambúrgueres!”, exclamou Winfrey, e a sua audiência aplaudiu. 

Pecuaristas disseram que no dia seguinte os preços atingiram a maior baixa da década. 

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Oprah acusada de promover um ‘linchamento’ anticarne”, relatou a CNN dois anos depois, após um grupo de pecuaristas processarem Winfrey com base em uma lei do Texas contra “declarações depreciativas sobre alimentos perecíveis”. 

O juiz depois rebaixou o caso para um processo de difamação, mas Winfrey foi obrigada a mudar o seu programa para Amarillo, onde os fãs ocuparam as ruas no entorno do tribunal durante o processo em 1998. 

O júri eventualmente decidiu que Winfrey não estava tentando sabotar a indústria pecuária. Seus fãs beberam champagne do lado de fora do tribunal e a apresentadora mais uma vez se recusou a comer hambúrgueres. 

Mas os amantes de carne relembraram o espetáculo por décadas. “Por que Oprah continua a fazer bullying com carne?” escreveu a revista especializada em pecuária Beef Magazine há alguns anos, que acusou Winfrey de usar a sua própria revista para publicar uma matéria acusatória contra as grandes fazendas pecuárias, que o estado tem muitas. 

Oprah defendeu um livro falso 

Com as guerras pecuárias para trás, Winfrey voltou à sua marca de positividade às vezes tingida com tragédia. 

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Em 2005, ela convidou ao seu programa o autor James Frey, que havia escrito um angustiante livro de memórias sobre superação de vícios em drogas e álcool. 

“Se você já teve que passar por isso com alguém que você ama, essa é uma história que foi escrita para você”, disse Winfrey aos espectadores. 

O resto do quadro foi preenchido por passagens do livro de Frey, “Um Milhão de Pedacinhos”. 

Frey recuperando a consciência em um avião sem nenhuma lembrança e faltando dentes; Frey passando por cirurgia odontológica sem anestesia; Frey usando pasta base de cocaína e “cheirando cola”. 

“Eu levanto e ele vem”, recitou Frey. “O vômito urgente vem e volta de novo e de novo e de novo.” 

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Winfrey recomendou “Um Milhão de Pedacinhos” enfaticamente no seu clube do livro. O livro vendeu mais de dois milhões de cópias nos dois meses seguintes, de acordo com o New York Times. 

E então repórteres investigaram as histórias de Frey e o obrigaram a admitir que ele havia inventado a maioria delas. 

Na história que Frey escreveu sobre usar drogas, bater o carro em uma viatura, brigar com o policial e passar três meses preso, a polícia disse que Frey na verdade subiu um dos pneus do carro na calçada e educadamente pagou a fiança por dirigir sob efeito de entorpecentes, de acordo com a CNN

Onde Frey escreveu sobre ser culpado pela morte de uma adolescente em um acidente de carro, segundo o Washington Post, os pais da adolescente não se lembravam de nada disso. 

Winfrey ficou do lado do autor, mesmo depois de ele admitir ter exagerado muitas histórias. “O que é importante é que ele é um viciado em drogas que passou anos em turbulência”, disse ela a Larry King. “Parece que é muito barulho por nada.” 

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Os críticos também se voltaram contra Winfrey. Um repórter do Washington Post a chamou de “iludida”. Após alguns dias de humilhação, ela convidou Frey ao seu programa novamente e, por consenso geral, o destruiu. 

“Você enganou a todos nós”, falou ao autor desconfortável. “Isso é uma mentira. Não é uma ideia, James. É uma mentira.” 

Ainda assim, o escândalo não chegou ao fim. No ano seguinte, Winfrey voltou ao programa de Larry King, negando que tivesse “aniquilado” cruelmente o autor que ela ajudou a lançar. Em 2011, mais de cinco anos após o primeiro contato, Winfrey convidou Frey ao seu programa. Algumas pessoas apontaram na época que Frey estaria lançando um novo livro. 

Oprah acredita que alguns americanos precisam morrer 

Winfrey estava promovendo o seu último filme, “O Mordomo da Casa Branca”, em 2013, quando ela falou à BBC sobre racismo. A entrevista original parece ter desaparecido da internet, mas algumas das suas palavras permanecem: 

“Ainda há algumas gerações de pessoas, pessoas mais velhas, que nasceram e foram criadas e moldadas com isso, esse preconceito e racismo”, disse Winfrey, de acordo com o MSNBC. “E elas precisam morrer.” 

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A sua lógica é celebrada por algumas pessoas – “Oprah se junta ao grande grupo de pessoas que estão esperando velhos racistas morrerem”, disse uma manchete do site de esquerda Jezebel, por exemplo. 

Mas os sites de direita a acusaram de se aproveitar de políticas raciais para vender ingressos de cinema. 

Antecipar as mortes de quaisquer eleitores em potencial, até mesmo velhos racistas, não pode se traduzir em uma campanha presidencial positiva. 

Oprah era amiga de Harvey Weinstein 

Falando em “O Mordomo da Casa Branca”, o filme foi coproduzido por Harvey Weinstein, o magnata do cinema acusado de uma série de assédios sexuais. A sua queda de prestígio no ano passado ajudou a expor uma cultura predatória contra mulheres em Hollywood e inspirou o discurso de Winfrey no Globo de Ouro, que pode acabar lançando a sua campanha presidencial. 

Mas o comportamento de Weinstein era alegadamente um segredo público na indústria, o que pode fazer com que todas as fotos de Winfrey confraternizando com ele se tornem um problema político. 

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A direita já está catalogando alegremente essas fotos

Diferentemente de Frey, Winfrey pelo menos nunca defendeu publicamente Weinstein depois que as acusações vieram a público. Em vez disso, ela reprovou o seu “comportamento terrível”. 

Mas seu porta-voz teve que negar uma notícia do TMZ de que Winfrey teria pedido que Weinstein se defendesse do escândalo. 

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Em novembro, a atriz Kadian Noble contou a repórteres que Weinstein a havia seduzido, em parte, apresentando-a a Winfrey e Naomi Campbell. 

Isso levou a uma manchete no Page Six: “Weinstein usou Oprah e Naomi para me seduzir”. 

Justo ou não, é isso que cria anúncios de ataque.

Tradução de Andressa Muniz
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