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Obra "O Senhor dos Anéis" de J. R. R. Tolkien, adaptada em série da Amazon, tem uma lição de autonomia individual e contra o coletivismo, argumenta Fabricio Duran.
Obra “O Senhor dos Anéis” de J. R. R. Tolkien, adaptada em série da Amazon, tem uma lição de autonomia individual e contra o coletivismo, argumenta Fabricio Duran.| Foto: Eli Vieira com IA

Após a nova e, de certa forma, impopular série da Amazon Prime O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder e a recém-anunciada série de anime O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim, a saga e o universo de O Senhor dos Anéis estão em alta novamente. Por que não estariam? Magia, batalhas, elfos, justiça, coletivismo… Isso mesmo, coletivismo.

Os heróis de O Senhor dos Anéis nos ensinam lições valiosas, mas nunca percebemos que os vilões também o fazem. As forças de Sauron versus as forças da Sociedade e seus aliados são, na verdade, uma batalha entre coletivismo e individualismo. Deixe-me explicar.

Sauron, os Orcs e o Um Anel para todos governar

Tolkien fez um trabalho tão bom com as figuras antagonistas da Terra Média que poucos de nós dedicamos tempo para analisá-las profundamente. Sauron é essencialmente um anjo caído que, ao lado de Morgoth (uma divindade caída), busca destruir tudo de bom na Terra Média e impor sua vontade a todas as criaturas. Sua abordagem reflete o que George Orwell criticou em seus escritos sobre o totalitarismo — nos quais o poder, centralizado nas mãos de poucos, não é um meio para um fim, mas o fim em si. Como os regimes criticados por Orwell, a busca de Sauron pela dominação visa eliminar a liberdade e absorver todos em um coletivo sob seu controle.

O ator Robert Aramayo no papel de Elrond na série "O Senhor dos Anéis - Anéis de Poder", da Amazon Prime Video
O ator Robert Aramayo no papel de Elrond na série "O Senhor dos Anéis - Anéis de Poder", da Amazon Prime Video| Ross Ferguson / Prime Video / Divulgação

A criação do Um Anel por Sauron serve como o instrumento final de poder, simbolizando os meios pelos quais regimes autoritários buscam eliminar a individualidade e a dissidência. Nesse ponto, vemos o que Ayn Rand criticou sobre as ideologias coletivistas— nas quais, na busca pelo poder, as identidades e aspirações individuais são suprimidas em favor do “bem coletivo”. Os orcs, corrompidos de sua natureza original élfica, são o exemplo perfeito dessa desumanização, tornando-se meras ferramentas da vontade de Sauron, despojados de sua individualidade e desejos pessoais.

Rand, em sua crítica ao coletivismo, enfatizou como essa supressão da individualidade transforma as pessoas em nada mais do que “servos do coletivo”. Os orcs, que são gerados como batatas na lama apenas para a crueldade e obediência, refletem esse processo perfeitamente. O desejo de Sauron por controle absoluto espelha como regimes coletivistas ao longo da história — sob Stalin, Hitler ou Mao — buscavam suprimir a individualidade, transformando as pessoas em extensões do Estado.

Aragorn, os Elfos e a Sociedade do Anel

Do outro lado do espectro de O Senhor dos Anéis estão os heróis — nossa querida Sociedade do Anel e seus aliados. Tolkien enfatizou o contraste marcante entre o bem e o mal, dando profundidade e riqueza aos personagens do lado do bem. Ao contrário dos orcs, que existem apenas para servir à vontade de Sauron, as criaturas “boas” da Terra Média possuem aspirações, desejos e identidades individuais. Isso reflete a importância da individualidade, um tema central para pensadores como Friedrich Hayek e Ayn Rand, que argumentaram que a liberdade individual é a base para o progresso e a prosperidade humana.

A jornada de Frodo, de um hobbit comum a um herói corajoso, incorpora esse espírito de crescimento individual e autodeterminação. Em muitos aspectos, sua história alinha-se com a filosofia do individualismo defendida por Rand e outros — em que a responsabilidade pessoal e a autodeterminação são os principais motores do potencial humano. A Sociedade, composta por indivíduos com suas próprias origens, personalidades e habilidades distintas, luta não apenas para derrotar Sauron, mas para preservar a liberdade de cada indivíduo de seguir seu próprio caminho.

Isso contrasta diretamente com a visão coletivista encarnada por Sauron, na qual o indivíduo é absorvido pelo coletivo. Como Hayek alertou em O Caminho da Servidão, o controle centralizado sobre a sociedade inevitavelmente leva à supressão da liberdade pessoal. A luta da Sociedade não é apenas uma batalha contra as forças de Sauron, mas uma batalha para proteger o direito à liberdade individual, à criatividade e ao crescimento.

Saurons no mundo real e a liberdade

Mal sabíamos que lutamos contra Saurons da vida real todos os dias — aqueles que buscam impor sua vontade sobre os outros por meio do coletivismo e do autoritarismo. A história nos deu muitos desses líderes — Stalin, Hitler, Lenin e Mao — líderes que, como Sauron, procuraram tirar os direitos dos indivíduos e moldar a sociedade para se adequar à sua própria visão. A crítica de Orwell a esses regimes destaca o perigo inerente a esse tipo de poder. Em A Revolução dos Bichos, Orwell apontou a ironia de que, embora as ideologias coletivistas frequentemente prometam igualdade, acabam criando novas hierarquias em que “alguns são mais iguais que outros”.

Nesse sentido, a dominação de Sauron reflete as mesmas tendências opressivas encontradas nesses exemplos reais de coletivismo. O uso de propaganda, medo e violência para manter o controle sobre a sociedade, como visto nesses regimes históricos, espelha a forma como Sauron usa seu Anel para manipular e dominar. Estudiosos como Robert Conquest e Richard Pipes, que escreveram extensivamente sobre a União Soviética, documentaram como os regimes coletivistas sistematicamente erodiram os direitos e liberdades individuais em favor de uma ideologia coletiva.

Juntando-se à Sociedade da Liberdade

Assim como a Terra Média tinha sua Sociedade, o mundo real tem seus próprios campeões da liberdade — aqueles que lutaram e continuam a lutar pela liberdade individual. Pensadores como Frédéric Bastiat, Adam Smith, Henry Hazlitt e Ayn Rand fazem parte dessa Sociedade há séculos, defendendo os princípios do individualismo, dos mercados livres e da responsabilidade pessoal. A Lei, de Bastiat, por exemplo, argumentava que o papel do governo deveria ser limitado a proteger os direitos individuais, uma filosofia que se opõe diretamente à visão coletivista representada por Sauron.

Devemos nos tornar parte dessa Sociedade e continuar a luta pela liberdade. Como os heróis de Tolkien, devemos nos posicionar contra o coletivismo e o “Um Anel para todos governar” — as forças que buscam nos privar de nossa individualidade, direitos e prosperidade.

Fabricio Antezana Duran é coordenador local do grupo Students for Liberty na Bolívia e estagiário do Projeto Hazlitt da Foundation for Economic Education.

©2024 FEE - Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: ‘The Lord of the Rings’ and the Collectives

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