Cidadão americano com uma máscara de Donald Trump na Flórida| Foto: EFE/Giorgio Viera
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O escritor antes conhecido como Allahpundit [algo como “apologista de Alá”], Nick Catoggio, levou ao site conservador Dispatch a pergunta “Você não está com vergonha?”

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Ele se refere ao Partido Republicano da era Trump e ao fato de pertencer de alguma forma a um partido ou movimento político associado a Trump, que na semana passada se associou a Kanye West — o rapper magnata obviamente carente de tratamento mental que virou antissemita nas últimas semanas — e Nick Fuentes, um provocador antissemita de extrema-direita.

Minha resposta: não estou com mais vergonha agora do que estou acostumado.

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Para ser honesto, a pergunta é meio estranha. Para começo de conversa, não estou com vergonha de pecados que eu não cometi — só dos que cometi. Nunca votei no Trump, embora tenha considerado votar em 2020. Permaneci um crítico dele durante sua presidência, como permaneci crítico de George W. Bush e Barack Obama nos mandatos deles.

Catoggio faz uma lista de coisas embaraçosas, incluindo Mike Lindell [empresário fabricante de travesseiros, notório defensor de Trump] reclamando das urnas eletrônicas e fazendo anúncio de seus travesseiros, e Sean Spicer [ex-porta-voz de Trump] se vangloriando de grandes multidões falsas na posse de Trump, e a vulgaridade da Turning Point USA [ONG que mandou sete ônibus para a manifestação de 6 de janeiro de 2021 que terminou na invasão do Capitólio — o diretor da ONG apagou tweets chamando pela manifestação]. Tudo em apoio à tese dele que “ficou extremamente embaraçoso ser um conservador nos Estados Unidos”.

O que me leva ao segundo problema. Por que o tempo presente? Sempre foi embaraçoso. Minha provável primeira memória política é do vice-presidente do “Partido Idiota” soletrando errado a palavra “batata” na frente de meninos de escola. [O autor se refere a Dan Quayle, vice-presidente do Bush sênior entre 1989 e 1993. Em 1992, ele corrigiu um estudante de 12 anos que escreveu “potato” e colocou no lugar “potatoe”. N. do T.]

Onde você estava antes de 2016, Nick? Você não agonizou com a coisa do Clint Eastwood [que em 2012 na Convenção Nacional Republicana ficou discursando para uma cadeira vazia que representava Barack Obama para uma audiência de 30 milhões de pessoas]? Você não ficou com vergonha do senador Wide Stance? [Literalmente, “senador Postura Larga”. Vem de um escândalo envolvendo o senador republicano Larry Craig, preso em 2007 por atentado ao pudor por tentar seduzir um homem em um banheiro de um aeroporto. O registro policial diz que Craig tentou tocar um homem na divisória ao lado com um pé, fazendo uma postura larga. O caso foi parar em um musical da Broadway. N. do T.] Da turma da Rua K [de Washington, associada a grupos de lobby] ganhando dinheiro em ambos os lados dos esquemas dos cassinos? Do escândalo sexual com os aprendizes do Congresso [em 1983, envolvendo dois representantes republicanos que seduziram adolescentes]? Perceba que, antes de Tucker Carlson estar na Fox News — um homem que, não importa o que você ache de suas crenças políticas, parece que realmente lê livros —, ele teve como antecessor Bill O’Reilly, um autor de best-sellers que dá a impressão de não ter lido os livros que ele alega ter escrito. Nos anos antes de Trump, a mídia conservadora já estava atolada em anúncios sujos — vendendo pílulas para impotência, ouro ou hipotecas reversas.

Asseguro a você que qualquer coisa que a Turning Point USA tenha de humilhante já estava às claras nos bastidores da CPAC [Conferência Conservadora de Ação Política, evento anual realizado há quase 50 anos], em algum ponto entre o golfinho Flipper [na edição de 2007, um participante apareceu vestido de golfinho para criticar o republicano Mitt Romney, o nome Flipper soa como um trocadilho com “vira-casacas”] e as pessoas da moeda comemorativa [com Trump abraçando a bandeira]. Você sabe de todos aqueles e-mails horrendos de embaraçosos de arrecadação de fundos que você tem recebido? Bem, foram os levantadores de fundos conservadores que inauguraram esse estilo de mensagem direta paranoica, íntima demais, com as mãos já no seu bolso. Sempre achei isso deselegante ao extremo.

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Você quer cringe [agonia, gastura, vergonha alheia]? Sou repórter e comentador deste lado há algumas décadas. Já foi às conferências dos Cristãos Unidos por Israel em Washington D.C.? Lá você pode ver um republicano após o outro bajulando os mais repugnantes televangelistas enquanto músicos pentecostais tratam mal os xofares judaicos [cornetas ou berrantes muito antigos dos judeus].

O movimento conservador foi o lar de homens como o radialista Rush Limbaugh, que chamou de “cadela” a filha adolescente do presidente [nos Estados Unidos, no passado recente, a comparação de mulheres a cães era uma forma de chamá-las de feias, como fazia a comediante Joan Rivers], e uma grande parte da direita organizada que tem muita chorumela para lidar com Donald Trump chamava aquele maníaco usuário de pílulas com um microfone de “intelectual”. Sim, é feio Trump ter se sentado à mesa com aqueles sujeitos. Também foi feio quando Ronald Reagan levou Nixon às gargalhadas fazendo piada de que as delegações africanas nas Nações Unidas eram “macacos” sem o costume de calçar sapatos.

Mas houve vergonhas maiores. Por pior que Trump tenha sido — e foi bem ruim — nada que ele tenha feito, nem mesmo seu infame jantar de Ação de Graças com antissemitas, foi tão embasbacante quanto assistir a George W. Bush fazendo piada em um jantar de correspondentes da Casa Branca em 2005 sobre ter se esquecido de onde botou as armas de destruição em massa, o casus belli para a guerra do Iraque. “Não, não estão aqui!” Eu não me importo com o que oficiais de inteligência anônimos alegam sobre o que Donald Trump disse a respeito de veteranos de guerra quando ninguém estava ouvindo — nada, a não ser cuspir ou vandalizar seus túmulos, poderia ser igual à desgraça que o Bush júnior cometeu naquela noite.

Você sentiu vergonha quando um partido político dedicado em tese às coisas eternas ficou possuído por um impulso de cruzada utópica pela democracia global e depois, quase instantaneamente, deu com a cara no chão da realidade de ter se tornado um apologista pela reintrodução da tortura como arma de guerra?

Eu não digo tudo isso para desmoralizar alguém. Bem pelo contrário. O Partido Republicano tem sido uma vergonha para si mesmo desde o começo, quando Lincoln estava tão saturado pelos buscadores de cadeiras que sua campanha tinha gestado que ele lançou as mãos ao alto e declarou que havia “leitões demais para pouca teta”. Trump não é nenhum Lincoln, concordo. Também não é nenhum Reagan; os três nomeados à Suprema Corte do Reagan não estavam prontos para reverter [a descriminalização do aborto no caso] Roe.

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Sou conservador porque minhas convicções e predisposições intelectuais me agrupam com a direita — ao menos a uma certa estirpe dentro dela. Em uma democracia, isso significa estar na estranha companhia de milhões de pessoas, muitas das quais consideram umas às outras chatas intoleráveis, fontes de vergonha, ou de alguma forma estranhas.

Você não consegue fugir disso indo para o outro lado. Você pode fugir do pastor/lobista de mega-igreja [igrejas de grandes galpões com estilo característico de teologia da prosperidade nos Estados Unidos] que está no armário e tem fetiche com pés, só para cair nos braços de algum valentão transburocrata que rouba malas de luxo. [O autor se refere a um funcionário do setor de lixo nuclear do governo Biden, que usa gênero neutro e foi pego meses depois de ser efetivado em seu cargo roubando uma mala para vestir as roupas da dona.] Esta é a glória e a vergonha da democracia. Se você quer se sentir bem a respeito das suas companhias políticas, procure alguma corte augusta de aristocratas. Até lá, os Estados Unidos ainda serão o país dos malucos das fronteiras, religiosos entusiasmados e indomáveis, oportunistas com lábia, alarmistas apocalípticos que vendem ouro e mercadores de ouro que vendem o apocalipse.

Seria legal se a direita fosse legal. Mas ela nunca foi. De qualquer forma, não preciso que ela seja.

Michael Brendan Dougherty é articulista sênior do National Review Online.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.