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Netflix

Série mostra a incômoda proximidade do pedófilo Jeffrey Epstein com políticos e celebridades

maxwell Epstein
A procuradora interina dos EUA no Distrito Sul de Nova York, Audrey Strauss, anuncia acusações contra Ghislaine Maxwell. (Foto: Johannes EISELE/AFP)

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Uma série documental recém-lançada pela Netflix investiga a atuação de um pedófilo que circulava entre os ricos e poderosos nos Estados Unidos: Jeffrey Epstein, o magnata que abusou sexualmente de dezenas de garotas – a maior parte, menores de idade – e que foi encontrado morto na prisão no ano passado.

Embora não preencha todas as lacunas, a série traz um excelente trabalho jornalístico, com depoimentos detalhados das vítimas, de testemunhas e de investigadores. 'Epstein: Poder e Perversão' ajuda a entender por que o abusador agiu de forma impune por pelo menos duas décadas.

A série mostra que Epstein, um aluno relapso que não conseguiu terminar a faculdade, tornou-se hábil em ganhar dinheiro por seu talento com números – e a capacidade de manipulação que lhe seria útil também em sua perversão sexual.

A maldade de Epstein emerge, sem retoques, nos quatro episódios da série, cada um com aproximadamente uma hora de duração. Com fotografia bem elaborada e edição de alto nível, a série da diretora Lisa Ryant tem também o mérito abordar um assunto incômodo no mundo das celebridades.

O seriado dá espaço à história de vida das vítimas. A maior parte delas, adolescentes vindas de famílias desestruturadas ou que haviam passado por algum trauma que as deixou emocionalmente vulneráveis a um predador como Epstein. Justamente por isso, a conduta do pedófilo é ainda mais condenável. Com dinheiro de sobra, mansões e acesso a um mundo de luxo, ele abusou de seu poder e prestígio para atrair garotas emocionalmente fragilizadas.

O seriado não se furta a mostrar que, na lista de amigos de Epstein, estavam figuras como Donald Trump, o diretor Woody Allen e o ator Kevin Spacey. Mas uma figura, em especial, chama atenção pela proximidade com o pedófilo: Bill Clinton, que esteve 26 vezes no jato particular em que Epstein levava as garotas – e as oferecia a seus amigos – para viagens internacionais. Infelizmente, o seriado não vai a fundo na investigação da conduta de Clinton, que nega ter mantido qualquer relação sexual imprópria.

A série, por outro lado, gasta bastante tempo descrevendo o processo judicial, na Flórida, em 2007, que terminou em um acordo amplamente favorável a Epstein e, na prática, permitiu que ele continuasse fazendo novas vítimas.

Neste caso, o vilão é Alex Acosta, que era o principal promotor no estado da Flórida e depois se tornaria Secretário de Trabalho (uma espécie de ministro) do governo Donald Trump.

De forma geral, a abordagem de 'Epstein: Poder e Perversão' é equilibrada. No episódio final, por exemplo, ao tratar da controversa morte de Epstein na prisão, o documentário mostra que, embora haja indícios de que ele cometeu mesmo suicídio, como diz a versão oficial, alguns médicos contestam essa versão.

A principal pergunta que emerge dos quatro episódios é: como Epstein conseguiu praticar seus crimes sem ser incomodado por tanto tempo? A série não responde a pergunta de forma taxativa, mas dá pistas. Uma delas: chantagem pura e simples. A mansão de Epstein em Nova York tinha câmeras escondidas em todos os cômodos, inclusive nos banheiros.

A lição principal do documentário é a de que, quando um abusador em série tem acesso a dinheiro, poder e a cumplicidade dos poderosos de um lado e, de outro, garotas emocionalmente imaturas, o resultado é o pior possível.

Epstein está morto, mas sua esposa, a igualmente perversa Ghislaine Maxwell, foi presa em julho deste ano, depois de um ano foragida. Se ela abrir seu arquivo, a Netflix terá material para muitos outros seriados.

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