Os opositores do presidente Donald Trump estão alegando que os pedidos do Partido Republicano para que o Departamento de Justiça investigue Hillary Clinton e as relações do Partido Democrata com a Rússia são uma tentativa de distrair da investigação real sobre a Rússia, acerca de uma possível conspiração Trump-Russia.
Não, eles não são.
Desde o caso Watergate, o mantra de todas as investigações de corrupção tem sido “siga o rastro de dinheiro”. Bem, americanos de todas as denominações políticas deveriam ficar indignados com o fato de que tanto Democratas quanto Republicanos em Washington estão soterrados por dinheiro vindo do Kremlin. Dinheiro russo chegou aos bolsos não apenas de assessores de Trump, como Robert S. Mueller III, mas também do lobista do Partido Democrata, Tony Podesta, Bill Clinton e a Clinton Foundation.
Isso deveria mostrar para espectadores imparciais que a Rússia estava usando o seu dinheiro para influenciar os dois lados a fim de avançar os interesses do Kremlin. E isso significa que qualquer investigação completa e imparcial sobre as ações da Rússia para influenciar o nosso processo político precisa seguir o rastro do dinheiro da Rússia que entrou nos cofres dos Clinton, da sua fundação e dos seus principais assessores.
O New York Times relatou em 2015 que “pouco depois de os russos anunciarem a sua intenção de adquirir ações majoritárias da Uranium One, [o ex presidente Bill] Clinton recebeu US$ 500 mil por um discurso em Moscou de um banco de investimentos com conexões ao Kremlin que estava promovendo ações da Uranium One”. No total, US$ 145 milhões foram repassados para a Clinton Foundation em rendimentos relacionados à Uranium One, que foi adquirida pela agência nuclear do governo russo, Rosatum.
Acredita que isso foi apenas uma coincidência? Como o ex-promotor federal, Andy McCarthy, aponta, a negociação da Uranium One não é um escândalo de segurança nacional, é uma escândalo de corrupção envolvendo “autonegociações da família Clinton”.
Pergunte-se isso: Bill Clinton fez quantos discursos de meio milhão de dólares para bancos ligados ao Kremlin desde a derrota de Hillary Clinton?
Quanto dinheiro russo está entrando nos cofres da Clinton Foundation atualmente?
Se Donald Trump tivesse feito um discurso de US$ 500 mil pagos por um banco do Kremlin, e a sua fundação privada tivesse aceitado US$ 145 milhões de oligarquias ligadas a Vladimir Putin e dos seus sócios ocidentais, você acha que os seus críticos estariam insistindo que não há nada a investigar?
E então temos Tony Podesta. Agora está estampado na primeira página dos jornais que Podesta foi obrigado a renunciar à presidência da sua firma lobista moribunda, Podesta Group, após ter sido envolvido no mesmo escândalo que levou ao indiciamento dos assessores de campanha de Trump, Manafort e Gates. O Podesta Group fracassou em se registrar como um agente estrangeiro para os interesses russos ao fazer lobby em nome do European Center for a Modern Ukraine – um grupo de fachada que a acusação de Mueller diz que estava “sob a direção final” do presidente ucraniano apoiado por Putin e seu partido político.
Todos nós deveríamos estar muito preocupados com a quantidade de dinheiro russo que estava circulando em Washington, e o quanto disso chegou às contas bancárias dos Clintons e dos seus parceiros. E todos nós, tanto democratas quanto republicanos, deveríamos investigar até o final.
Enquanto americanos, é contra as nossas sensibilidades incentivar o Departamento de Justiça de um partido a investigar o candidato derrotado do outro partido. Mas o fato de que Clinton perdeu as eleições deve significar que os americanos não merecem saber a extensão das ações da Rússia para influenciar o nosso processo político?
Nada disso absolve a campanha de Trump ou questiona a conclusão da comunidade de inteligência de que “Putin e o governo russo tentaram melhorar (...) as chances de eleição de Trump”. Mas isso ressalta que os russos foram espertos no que a comunidade de inteligência chama de esforços para “minar a confiança pública no processo democrático dos EUA”. Eles jogaram dos dois lados, e ao fazer isso, atacaram o ponto fraco singular dos Clinton e dos seus parceiros – a sua ganância.
Qualquer investigação imparcial das ações da Rússia para interferir no nosso processo democrático precisa incluir o inquérito completo do dinheiro russo entrando no mundo dos Clinton. Tal inquérito não é uma distração. É crítico para restaurar a confiança do público na democracia americana.
Marc Thiessen é ex-redator de discursos do presidente George W. Bush