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George Soros
George Soros, bilionário fundador da OSF, organização financiadora do ativismo de esquerda e da censura no mundo, fotografado na Alemanha em 2017.| Foto: EFE/CLEMENS BILAN

Uma conspiração global imperialista extremista destinada a enganar o público e minar a democracia estava por trás da publicação dos “Twitter Files Brasil” em 3 de abril de 2024, afirmam importantes jornalistas, pesquisadores e influenciadores de rede social brasileiros.

O site Intercept Brasil afirmou que o Comitê Judiciário da Câmara dos EUA, que havia produzido um relatório sobre censura no Brasil inspirado pelos Twitter Files, estava defendendo grupos neonazistas para atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

O NetLab, um laboratório de pesquisa sediado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirmou em um relatório de 24 de abril que o dono do X, Elon Musk, havia usado “bots”, ou usuários falsos, para criticar Moraes no X.

E o youtuber Felipe Neto, que tem 46 milhões de seguidores, afirmou no ICL, um canal de YouTube, que os Twitter Files eram a tentativa de Musk de manipular a opinião pública através de “pseudojornalistas”.

Mas nenhuma dessas alegações é verdadeira.

O relatório do Comitê Judiciário da Câmara americana não defendeu neonazistas. Ele simplesmente os listou entre muitos outros casos de censura.

Não há evidências que sustentem a teoria da conspiração do NetLab de que Musk desencadeou um ataque de bots. O NetLab provavelmente rotulou erroneamente usuários autênticos como bots. Mas é impossível saber, já que o relatório é autopublicado, obscurece sua metodologia e não pode ser replicado.

E, como meus colegas Michael Shellenberger e Eli Vieira têm repetidamente notado, em português e inglês, no X, em inúmeros artigos e ao testemunhar, duas vezes, perante o Congresso do Brasil, não fazemos parte de nenhuma conspiração. Musk não sabia que publicaríamos os Twitter Files Brasil, nem os políticos brasileiros que reagiram a eles.

Mesmo assim, as teorias da conspiração sobre os Twitter Files Brasil tiveram um grande impacto.

O ministro Alexandre de Moraes convocou executivos do Google para depor com base apenas em um relatório de 2023 do NetLab sobre o Google após um membro do governo Lula iniciar uma investigação, e o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil apresentou uma queixa criminal.

Nenhuma das pessoas ou think tanks que espalharam essas teorias da conspiração se deu ao trabalho de nos entrevistar. Nenhum grande meio de comunicação desmentiu o estudo do NetLab; pelo contrário, muitos o endossaram.

Um jornalista proeminente, Leandro Demori, publicou as minhas informações privadas.

E, no entanto, todas essas pessoas e instituições afirmam estar gravemente preocupadas com o impacto da desinformação na democracia, fazem alertas contantes sobre as teorias da conspiração e condenam ataques a jornalistas.

Por que os think tanks e meios de comunicação brasileiros estão espalhando desinformação sobre os Twitter Files Brasil? Quem estava por trás dos ataques?

A trama “para eliminar a sociedade civil”

Os repórteres e think tanks do Brasil seguiram o exemplo de Moraes, que acusou Musk de fazer parte de uma conspiração extremista para minar a soberania e a democracia do Brasil. Ele o chamou de “empresário irresponsável” motivado pelo lucro que havia “unido forças” com “políticos extremistas brasileiros”.

Os grupos que atacam os Twitter Files Brasil há muito defendem uma maior censura. Em maio de 2023, o NetLab publicou um relatório acusando o Google de manipular resultados de pesquisa para minar o Projeto de Lei das Fake News (PL 2630/2020).

Eles também assediam jornalistas. Demori, que revelou meus dados pessoais, trabalha para a EBC, rede de televisão pública, e costumava trabalhar para o Intercept Brasil. Em 2023, Felipe Neto conduziu uma campanha de assédio contra a jornalista Andreza Matais, então editora do jornal O Estado de São Paulo.

Por que Neto a atacou? Talvez porque a equipe de Matais havia revelado que indivíduos ligados a facções criminosas tinham frequentado os escritórios do ministério da Justiça de Lula e foram recebidos por membros do governo. Evidências mostram que a reportagem de Matais irritou Lula e incitou seus apoiadores a atacar os jornalistas.

Na segunda parte dos Twitter Files Brasil, revelamos que Neto tinha acesso privilegiado ao Twitter, que ele usou para solicitar censura durante a pandemia de Covid-19.

Neto é o fundador do Instituto Vero, uma ONG que visa “proteger a democracia, promover o discurso online e desenvolver soluções para combater a desinformação.”

Em 23 de abril de 2024, Neto tuitou que a Open Society Foundation (OSF) de George Soros financia o Vero. De acordo com o site da Open Society, ela deu ao Instituto Vero US$ 250.000 em 2021 (quase R$ 1,5 milhão, com ajuste inflacionário, na cotação atual) para trabalhar no “combate à desinformação”.

O governo dos EUA também ajudou Neto. Em 26 de abril de 2024, três semanas após a publicação dos Twitter Files, Neto anunciou no X que havia se associado à Embaixada dos EUA.

Publicação (tweet) de Felipe Neto no X. Crédito: Reprodução/X
Publicação (tweet) de Felipe Neto no X. Crédito: Reprodução/X

E o Instituto Vero trabalha diretamente com o “Programa de Enfrentamento à Desinformação” do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Quem é Neto? Antes um crítico proeminente do presidente Lula, Neto tornou-se um apoiador, fazendo campanha ativa para ele em 2022. Em 2023, Lula nomeou Neto para um grupo de trabalho dentro do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, criado para combater o discurso de ódio e o extremismo, focando particularmente na regulamentação das redes sociais.

No início de 2023, Neto falou na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), onde defendeu a regulamentação das redes sociais e afirmou que essas plataformas haviam criado um “ambiente de desordem”.

Em 2020, o Instituto Vero patrocinou eventos do TSE com a participação de Graham Brookie, diretor sênior do DFRLab (sigla em inglês para Laboratório de Pesquisa Forense Digital), que é uma das quatro organizações que o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) pediu para se envolver na defesa da censura em 2019 e 2020 como parte da “Parceria de Integridade Eleitoral” e do “Projeto Viralidade”, ambos liderados pelo Observatório da Internet de Stanford.

Nesse evento, o DFRLab treinou funcionários do TSE na “identificação e combate à desinformação.”

Quanto ao Intercept Brasil, ele foi criado e financiado pelo bilionário fundador do eBay (site de leilões e vendas), Pierre Omidyar, e por Soros. Em 2022, a Open Society Foundation de Soros deu ao Intercept Brasil US$ 207 mil (R$ 1,12 milhão) em financiamento através de seu First Look Institute ("Instituto Primeiro Olhar", em trad. livre).

A Open Society também financiou os Sleeping Giants Brasil (SGBR), que lançaram uma campanha para desmonetizar o X, após Musk criticar Moraes. A OSF e a Ford Foundation deram ao grupo US$ 470 mil (R$ 2,5 milhões) em 2022 e 2023.

Durante a campanha eleitoral de 2022, o TSE, presidido por Moraes, endossou recomendações feitas pelo SGBR, e em agosto de 2023, Mayara Stelle, cofundadora dos Sleeping Giants, participou do seminário “Combate à Desinformação e Defesa da Democracia” realizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), junto com Alexandre de Moraes.

Finalmente, a Open Society financia o NetLab, dando-lhe US$ 315 mil (R$ 1,6 milhão), uma das suas maiores doações.

Esses grupos procuram validar uns aos outros. O NetLab, por exemplo, já elogiou os Sleeping Giants Brasil como “um exemplo de sucesso no combate às fake news”.

Um funcionário do governo dos EUA que falou anonimamente conosco disse que a OSF de Soros está substituindo ONGs da sociedade civil por aquelas controladas pelo governo dos EUA.

“Eles têm um plano para cada país”, disse o funcionário, “e financiam ONGs que estão todas coordenadas no plano. Então, as ONGs se candidatam e recebem financiamento do governo dos EUA. E como Soros é o maior doador do Partido Democrata, quando ele diz ‘façam o que as ONGs querem’, eles fazem. Então, os governos tiram pessoas das ONGs e as fazem ministros do governo”.

O papel da Open Society Foundation de Soros, disse o oficial, é “eliminar a sociedade civil”.

Expondo o Complexo Industrial da Censura

Não há dúvida quanto à influência de George Soros e seu filho Alexander, que dirige a Fundação. A OSF distribuiu US$ 62 milhões (R$ 318 milhões) para ONGs no Brasil em 2020, 2021 e 2022.

Alexander Soros “recentemente se reuniu com membros do governo Biden, com o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, e alguns chefes de Estado, incluindo o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, para defender algumas das questões importantes para a família” Soros, relatou a CNN em 2023.

Soros até financia o maior jornal do Brasil, a Folha de S. Paulo, que afirmou falsamente em 11 de abril, um dia após meu colega Michael Shellenberger e eu testemunharmos perante o Senado brasileiro presencialmente, que Shellenberger defendia a “tolerância” ao nazismo. Na realidade, ele defendia a liberdade de expressão para que a sociedade civil pudesse denunciar o nazismo.

Mas os Twitter Files Brasil expuseram o Complexo Industrial da Censura e sua relação com ONGs, jornalistas e influenciadores financiados por Soros.

E agora, vários processos judiciais em andamento visam descobrir as identidades dos operadores do SGBR, que frequentemente usam VPNs para ocultar seus endereços IP. Em 2020, um casal de estudantes universitários de 22 anos reivindicou a responsabilidade pelas operações do SGBR, mas muitos suspeitam que eles são apenas testas de ferro para as pessoas reais nos bastidores.

Em março de 2024, quase um ano após o relatório do NetLab, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou o arquivamento do inquérito contra os executivos do Google, citando a fraqueza das evidências e da acusações.

Agora está claro que, desde a publicação dos Twitter Files Brasil em 3 de abril, a verdadeira conspiração imperialista extremista é a que exige a censura.

©2024 Public. Publicado com permissão. Original em inglês.

Conteúdo editado por:Eli Vieira
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