Quem sabe? Talvez ‘A Ascensão de Skywalker’ una todas as linhas narrativas das duas primeiras sequências da franquia ‘Star Wars’ numa conclusão coesa e recompensadora.
Se bem que, se o trailer é sinal de alguma coisa – e, da forma como vejo as coisas, é para isso que os trailers existem – o filme parece que vai ceder às vontades dos fãs na esperança de salvar uma bagunça incompreensível.
Se alguém lhe pedir para explicar resumidamente a narrativa da última trilogia, você realmente é capaz disso?
“O Último Jedi” está na Netflix há meses e este fã de longa data aqui – um fã que pagou para assistir ao “A Vingança de Sith” no cinema ao menos três vezes – não foi capaz de revê-lo nem uma vez de graça.
Para pôr isso em perspectiva, eu prefiro assistir em maratona a todas as temporadas de um programa de culinária inglês a ver um filme de US$300 milhões da franquia preferida da minha infância.
Não é só porque não me interesso nada pela trama; é que não me interesso nada pelos personagens também.
Em vez do Imperador, temos Snoke. Em vez de Vader, temos Kylo. Em vez de Luke, temos Rey. Em vez de Han, temos Finn e Poe. Em vez de Yoda, temos Luke. Em vez de R2-D2, temos BB-8. E assim por diante.
Nenhum dos novos personagens, muitos deles interpretados por atores talentosos, é tão interessante quanto os originais, muitos dos quais interpretados por péssimos atores.
Esses defeitos talvez fossem perdoáveis se a ópera espacial fizesse algum sentido. Ao contrário disso, a nós nos resta assistirmos aos personagens viajando à velocidade da luz enquanto J.J. Abrams mata, aos poucos, um personagem original por filme.
Que eles descansem em paz.
É só incompreensível o fato de eles conseguirem estragar tudo assim.
Quando eu tinha 8 anos, entrei num cinema pela primeira vez e assistir a ‘Star Wars’ (ainda não “Uma Nova Esperança”). Foi provavelmente a experiência cultural mais impactante da minha infância.
A história, os efeitos e o som estavam a anos-luz de qualquer coisa que uma criança era capaz de imaginar. Boa parte do meu tempo depois disso foi gasto convencendo os parentes a me comprarem bonequinhos de ‘Star Wars’.
Eu ajudei a transformar George Lucas, que manteve para si os direitos de licenciamento do filme, num zilionário. E guardei aqueles brinquedos por toda a vida.
Até meus 12 anos, meu sonho era ter um daqueles caros Kenner Millennium Falcons. (Se eu pudesse, compraria um agora mesmo).
Descobrir que Vader era o pai de Luke causou um impacto real naquele menino de 10 anos. Passei mais tempo lendo “romances ‘Star Wars’ do que tenho coragem de admitir. (Por que eles não usaram simplesmente a trilogia “Thrawn” como base para as sequências?)
Já com mais de 20 anos, ainda ficava realmente empolgado com a ideia das histórias de origem dos personagens. Eu me lembro de esperar um tempão até que o trailer de ‘A Ameaça Fantasma’ carregasse com minha conexão dial-up e eu pudesse assistir àquelas criações de Lucas surgindo em meio à bruma.
Foi uma emoção passageira, claro. Ainda que a cena de abertura de ‘A Ameaça Fantasma’ exibindo o poder e o prestígio dos Jedi, prometesse muito, em pouco tempo comecei a ficar apreensivo quando a história mergulhou em negociações comerciais (provavelmente o assunto mais chato de toda a galáxia) e uma discussão longa sobre midi-chlorians.
Por que Lucas estava desperdiçando um tempo precioso explicando a genética por trás da Força? Por que ele estava matando os melhores personagens (Qui-Gon Jinn e Darth Maul)?
Tudo isso aconteceu há muito tempo e em algum lugar distante, e boa parte daquilo deveria estar restrito à imaginação.
Mas Lucas, sem qualquer supervisão, de alguma forma conseguiu criar filmes que eram ao mesmo tempo complexos demais e ultrajantemente sem sofisticação alguma.
Alguns de nós culpamos Lucas, cujos diálogos travados e problemas de ritmo eram conhecidos. Alguns de nós tínhamos altas expectativas em relação a Abrams, que tinha renovado com habilidade a franquia ‘Star Trek’, preservando as características essenciais do original.
Alguns de nós estamos constantemente decepcionados. No fim das contas, o melhor das sequências é que elas estão tornando as histórias anteriores toleráveis.
Não me ressinto totalmente da venda da Lucasfilm para a Disney. “Rogue One” é um dos melhores filmes da franquia. As animações são divertidas. E, embora muitas pessoas possam discordar, acho que “Han Solo” é melhor do que os filmes posteriores e anteriores.
Minhas expectativas pela série “The Mandalorian” são muito maiores do que as minhas expectivas por “A Ascensão de Skywalker”.
Talvez a grande revelação de “A Ascensão de Skywalker” valha a pena, mas duvido. A questão é que não consigo me importar com quem são os pais de Rey porque não me importo com Rey nem ninguém mais.
Depois de várias decepções, a única coisa que me deixa feliz é saber que essa loucura toda está chegando ao fim.
David Harsanyi é editor sênior do Federalist.