Os candidatos à Presidência dos Estados Unidos Andrew Yang e Bill de Blasio estão muito preocupados com os robôs que tirarão os empregos das pessoas. Yang defende um projeto chamado “Dividendo da Liberdade” de US$1.000 por mês para todo adulto desde o início da vida profissional para compensar a possível perda de postos de trabalho por causa da automação. De Blasio, no dia 5 de setembro, publicou um artigo na revista de tecnologia Wired propondo não apenas um “imposto sobre robôs” como também a criação de um novo órgão federal para “supervisionar” a automação e dar licenças a empresas que querem aumentar seu nível de automação.
As máquinas substituirão os seres humanos. A inteligência artificial se sobreporá às pessoas. Não haverá mais empregos para os pobres. Caos! Fome! A tecnologia ameaça o futuro. Esses são os gritos atuais das pessoas – ou será que é paranoia?
Manchetes assim mostram que 2019 tem sido o ano para se assustar as pessoas por causa do progresso tecnológico. Mas há algo de verdade nisso? O que nos aguarda no futuro? Haverá mesmo desemprego em massa?
Não.
Ficaremos bem. Tanto a história quanto os dados disponíveis mostram que, longe de tornar os trabalhadores humanos obsoletos, a tecnologia é uma “excelente máquina de gerar emprego”.
Quando uma vela se apaga uma lâmpada se acende
As telefonistas e operadores de telégrafos foram felizes por todo um século (de 1871 a 1971). Durante esse período, a quantidade deles aumentou 40 vezes no Reino Unido. Daí, como um estudo feito por economistas da empresa de consultoria Deloitte, painéis automatizados, a Internet e os celulares apareceram e as vagas no setor diminuíram drasticamente.
Várias outras profissões enfrentaram a mesma situação. Isso se deve ao que chamamos de “desconstrução criativa”, na qual as mudanças tecnológicas são acompanhadas por um processo no qual as coisas velhas são substituídas por novas. Novas tecnologias tornam funções, habilidades e ocupações obsoletas. Então devemos chorar por causa das telefonistas e operadores de telégrafos? Deveríamos ter tentado algo (talvez intervenção estatal) para salvar seus empregos? Claro que não!
Quando uma máquina substitui um ser humano, o resultado, com o tempo, é o crescimento econômico e o aumento do emprego. Como isso acontece? A inovação impulsiona o emprego em outros setores, sobretudo (mas não exclusivamente) nos que exigem mais escolaridade.
Lenhadores, leiteiros, projecionistas de cinema, datilografistas e atendentes de vídeo locadoras desapareceram por causa do avanço tecnológico. Mas não entre em pânico! A tecnologia também criou várias outras profissões que não existiam. Pense nisso: especialistas em computação, analistas de redes sociais, publicitários digitais, engenheiros de energia, desenvolvedores de softwares e aplicativos, operadores de drones, YouTubers... Quantas pessoas trabalham hoje em áreas que não existiam há 50 anos?
E essa parece ser uma tendência incontornável. Um relatório do Instituto pelo Futuro (IFTF) estima que nada menos do que 85% dos empregos que existirão em 2030 não foram nem inventados ainda. O futuro está a caminho.
Por que deveríamos ir contra se podemos ir juntos?
Está claro (é inquestionável) que as máquinas têm assumido funções mais repetitivas e trabalhosas e que empregos manuais sofrem mais porque as máquinas funcionam prontamente como um substituto ao trabalho humano. Por outro lado, as inovações não parecem nem perto de eliminar a necessidade de se ter um humano (com cérebro e mãos) em funções cognitivas e não-rotineiras nas quais a tecnologia é um ótimo complemento e o aumento de vagas tem sido sólido.
De acordo com uma pesquisa feita por Ravin Jesuthasan e John W. Boudreau, autores do livro “Reinventing Jobs” [Reinventando empregos], em 1985 os Estados Unidos tinham 60 mil caixas automáticos e 485 mil bancários. Em 2002, a quantidade de caixas automáticos aumentou para 352 mil. Isso foi ruim para os seres humanos? De jeito nenhum! A quantidade de bancários também aumentou para 527 mil.
A inovação nem sempre significa a extinção de empregos que acabam por ser substituídos por outros. A tecnologia também pode representar uma força complementar no ambiente de trabalho.
A máquina de criar empregos
Isso deve ser enfatizado: todos os empregos perdidos em áreas ultrapassadas por causa do avanço tecnológico são recuperados em novas áreas. Você ainda duvida disso? Deixe-me provar.
Se é verdade que a tecnologia acaba com empregos na agricultura, serviços de limpeza, operações fabris de rotina, construção e mineração, também é verdade que a inovação deu origem aos analistas da informação, cuja quantidade aumentou 6,5 vezes, para mais de 327 mil pessoas, na última década no Reino Unido, além de programadores e desenvolvedores, cuja quantidade aumentou quase três vezes, para 274.160. Na verdade, no Reino Unido os postos de trabalho mais do que dobraram no último século e meio.
Por sinal, o papel direto da tecnologia na criação de empregos é relativamente claro e conhecido. O que é menos óbvio é como ela afeta setores mais qualificados (como a medicina, a educação, a administração, a comunicação e os serviços autônomos), aumentando os postos de trabalho com o tempo. Não é de se admirar que, desde 1880, as ocupações que mais crescem no mundo estão no setor de serviços.
E este não é um fenômeno restrito aos países desenvolvidos. Até mesmo países emergentes podem desfrutar deste processo – desde que invistam em tecnologia.
O Brasil é um bom exemplo disso: desde meados dos anos 1980, o país adotou uma série de medidas para acelerar o avanço tecnológico. Qual o resultado? Em duas décadas (1995-2014), a quantidade de brasileiros empregados (formalmente) aumentou de 23,8 para 49,6 milhões.
Mas outros povos não têm a mesma “sorte”. De acordo com o Departamento Nacional de Estatísticas, apenas 10,8% da população ativa da Nigéria são registrados e cerca de 50% da força de trabalho atual está envolvida com a agricultura de subsistência e o comércio informal. Não é coincidência o fato de a Nigéria estar economicamente estagnada e ter apenas o 141º. PIB per capita do mundo (US$2.049).
Que lição temos de aprender disso? O crescimento econômico se baseia na inovação.
Informações ruins levam à apreensão
Considerando a publicidade negativa a que estamos expostos todos os dias, não é de se surpreender que, em 2019, o Edelman Trust Barometer Report tenha revelado que 47% das pessoas ao redor do mundo acreditam que as inovações tecnológicas estão ocorrendo rápido demias e levando a mudanças que não são boas para “pessoas como eu”. Cinquenta e nove por cento acreditam que não têm a qualificação e a habilidade necessárias para conseguir um bom emprego neste cenário e 55% acham que a automação e outras inovações acabam com postos de trabalho.
É uma imagem pessimista e desconfiada. Ainda assim, como acabamos de ver, as pessoas estão mal informadas.
Todas as provas que mostramos apontam para o poder da tecnologia de criar empregos. A inovação não destrói necessariamente postos de trabalho, mas transforma mesmo a forma como trabalhamos. Enquanto algumas profissões se perdem por causa das máquinas, outras carreiras são criadas ou impulsionadas em áreas afetadas pelo desenvolvimento tecnológico.
A matemática está claramente ao lado da tecnologia
Agora as boas notícias (a última impressão é a que fica, espero).
A estimativa mais recente do Fórum Econômico Mundial, contida no “Relatório Futuro do Trabalho” dá conta de que 75 milhões de empregos podem ser perdidos à medida que as empresas usarem mais automação.
Ele também dá conta de que 133 milhões de novos empregos podem surgir até 2022, uma vez que o desenvolvimento tecnológico ocorrerá em consonância com outras tendências mais amplas, como a expansão da classe média em países em desenvolvimento e novas políticas energéticas. Logo, as inovações criarão 58 milhões de postos de trabalho.
A tecnologia provavelmente acabará com os trabalhos mais repetitivos, mas não se preocupe. Ela não está nem perto de acabar com o trabalho humano, não mais do que estava há 150 anos. Os humanos têm muito a ganhar com o desenvolvimento tecnológico.
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Jean Vilbert é mestre em Direito. Trabalha como juiz e professor em São Paulo.
© 2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês
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