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O autocontrole na infância é a capacidade da criança de gerenciar emoções e comportamentos. Uma criança com boas habilidades de autocontrole, ou autorregulação, vai conseguir lidar melhor com situações estressantes ou difíceis que fazem parte da vida. Já se sabe que baixos níveis de autocontrole na infância estão associados a um maior risco de obesidade. Os especialistas sempre presumiram que um maior autocontrole estava ligado a menores taxas de obesidade, mas nunca tinham avaliado a diferença dessa relação em meninos e meninas. 

Agora um estudo analisou a relação entre autocontrole e obesidade em meninos e meninas. Nos garotos, a prevalência de obesidade entre os que tinham mais autocontrole era mais baixa, como se esperava. Entre as meninas, o mesmo comportamento foi observado: as que tiveram mais risco para obesidade foram as que tinham menos autocontrole. Eis a surpresaas que tinham máximo autocontrole também apresentaram maior risco de se tornarem obesas

O estudo foi coordenado por pesquisadores da Ohio State University e da Temple University, ambas dos Estados Unidos, e seus resultados foram publicados no periódico sobre pediatria da Associação Médica Americana (JAMA Pediatrics) no dia 16 de julho. 

Amostra

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores estudaram uma amostra nacional de 6.450 crianças (3.250 meninos e 3.200 meninas). Os dados foram coletados na casa das crianças a partir de entrevista com os pais e avaliação direta das crianças. 

Quando as crianças tinham dois anos de idade, observadores visitaram a casa da família para avaliar quatro dimensões do autocontrole: adaptabilidade, atenção, persistência e tolerância à frustração. 

Os pesquisadores voltaram a se encontrar com as famílias quando as crianças tinham 5,5 anos, e mediram a altura e peso dos meninos e meninas para chegar ao índice de massa corporal (IMC) das crianças — uma medida usada para saber se uma pessoa está no peso ideal. 

Ao analisar os dados coletados durante esses anos, os pesquisadores viram pela primeira vez que a associação entre autocontrole e obesidade é diferente para meninas e meninos

Possíveis causas 

A epidemiologista Sarah Anderson, pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da Ohio State University (EUA) e coordenadora do estudo, afirma que, no momento, só é possível especular sobre as causas de a obesidade em meninas ser maior também entre as que têm mais autocontrole, e que estudos adicionais serão necessários. 

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“É possível que meninos e meninas experimentem diferentes expectativas sociais em relação ao comportamento. Em comparação com meninos, meninas jovens podem estar sofrendo uma maior pressão social para exibir maior autocontrole, mesmo que o potencial biológico para autocontrole seja similar entre meninos e meninas na infância”, explicou Sarah. 

A divergência entre expectativas sociais e capacidades pode ser estressante para algumas meninas, segunda Sarah. “Esse estresse pode resultar em diferenças no equilíbrio de energias e no metabolismo entre meninas e meninos, especialmente entre crianças com alto nível de autocontrole”, destacou.

A nutricionista Mariana Del Bosco, especialista em obesidade e nutrição infantil, acredita que os resultados ainda são muito preliminares para terem aplicação no consultório clínico. Ela explica que a obesidade infantil, e de maneira geral, é multifatorial, e precisa ser abordada em várias frentes. "Acho que a questão do comportamento acaba tendo interferência, sem dúvida nenhuma. Mas acho que esse estudo não nos dá uma ferramenta a mais para ser usada na prática", disse. 

Mariana avalia que ainda são necessários mais estudos para compreender se a mudança desse comportamento pode implicar em maior ou menor risco de obesidade. 

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Ferramentas de combate 

Existem intervenções feitas para aumentar a capacidade de controle nas crianças. E estudos anteriores já sugeriram que essas estratégias podem prevenir a obesidade infantil. Já os resultados desse novo estudo contribuem para compreender melhor essas abordagens e para saber o que esperar delas. “Nossos resultados sugerem precaução ao presumir que os níveis mais altos de controle levam a resultados ótimos para ambos os gêneros, ou em todos os contextos”, ressaltou Sarah.

A pesquisadora disse que o estudo não abordou se os efeitos do autocontrole podem ter diferenças entre os gêneros em outros aspectos além da obesidade, mas disse que seria válido fazer essa investigação.

A estratégia atual de prevenção à obesidade infantil envolve várias frentes, explica Mariana. Começando pelo papel da indústria, colocando produtos mais saudáveis nas prateleiras e regulamentando a publicidade, e passando pela orientação nas escolas e pelo papel da família. “Fazer mais refeições com a família acaba moldando o comportamento da criança, que come por imitação, então os pais acabam sendo um exemplo”, disse. 

A nutricionista explica que existem várias abordagens comportamentais com as crianças. Além de fazer as refeições com a família, levar as crianças para fazer compras e trazê-las para cozinhar podem trazer resultados efetivos no combate à obesidade.

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