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O fato de a defensora de uma ideia ser mulher não deveria ser motivo para se desprezar as críticas a essa ideia.
O fato de a defensora de uma ideia ser mulher não deveria ser motivo para se desprezar as críticas a essa ideia.| Foto: Bigstock

No começo de 2020, o escritor socialista Freddie deBoer observou que, “ao longo de mais ou menos uma década, praticamente toda a imprensa profissional não rotulada explicitamente como conservadora foi suplantada por uma escola política surgida dos departamentos de Humanas das universidades de elite e que começou a colonizar as pessoas com ensino superior por meio das redes sociais. A política dessa gente é obscura; as ideias são confusas, extremistas social e culturalmente e se expressam por meio de um vocabulário bizarro; elas alienam os dissidentes e são impopulares”.

No periódico Axios, Emily Peck dá um belo exemplo da transformação que deBoer descreve. Numa tentativa de defender a bizarrice que é a “Teoria Monetária Moderna”, Peck ignora totalmente o conteúdo do debate para se ater ao sexo. “Economistas homens”, escreve ela, “estão furiosos com o perfil que o ‘New York Times’ fez do principal nome da TMM, Stephanie Kelton. “A dinâmica de gênero é terrível nesse campo”, acrescenta ela.

Será mesmo? Espero que não estejam querendo que acreditemos que as mulheres nunca erram, nunca estão mal-informadas ou nunca dizem tolices. E, se mulheres de fato erram, às vezes estão mal-informadas e dizem tolices, é de se esperar que elas estejam sujeitas a críticas – tanto por homens quanto por mulheres – da mesma forma que todos os que erram, estão mal-informados ou dizem tolices.

No texto, Peck dá apenas dois exemplos de homens “transtornados” com o perfil publicado no “Times” e com as ideias de Kelton.  O primeiro exemplo é do ex-secretário do Tesouro Larry Summers, que, no Twitter, escreveu que “é uma pena ver o @nytimes levando a TMM como um movimento intelectual sério” porque “isso equivale a dar publicidade a dietas à base de gordura, curas mágicas para o câncer ou o criacionismo”. O segundo vem de Noah Smith, ex-colunista da Bloomberg, que escreveu numa newsletter que o artigo era “ruim”. Ruim? Oh, que grave!

Como foi colonizada por uma ideologia bizarra, extremista, confusa e obscura, Peck parece não ter percebido que Summers e Smith realmente acreditam que as ideias de Kelton são “fracas” e “enganosas”, e que o artigo do “Times” escrito sobre essas ideias e seus progenitores é... ruim. Da mesma forma, Peck parece não ter visto que Summers ataca a TMM como “um movimento intelectual” – sem atacar Kelton ou o sexo dela per se — enquanto Smith faz justamente o contrário de se ater à feminilidade de Kelton, reclamando que o artigo escrito por Jeanna Smialek “descreve as roupas, o escritório, a casa, a vizinhança, o blog, a forma de falar e a história pessoal de Kelton”, em vez de “tratar da origem do debate sobre as políticas macroeconômicas”, algo que depois ele explora à exaustão. Basta fizer que, se há alguém nesse debate e que está sendo intolerante, esse alguém é Peck.

Numa tentativa de dar visibilidade a seu texto, Peck diz que “a economia é um campo predominantemente masculino e branco, e as mulheres e pessoas de cor dentro dele geralmente enfrentam resistência e hostilidade”. Novamente, esse é o foco de Peck, e não de Summers ou Smith. Sim, neste caso, a teoria econômica atacada está sendo defendia por uma mulher. Mas há provas de que os homens estejam isentos de críticas por suas teorias?

Será que os críticos são generosos ao falarem dos problemas de Marx, Keynes ou Friedman? Os críticos das reformas intervencionistas ou da Curva de Laffer por acaso se contêm? Será que Robert Reich é sempre educadinho ao debater com outros homens? George H. W. Bush foi simplesmente debochado ao acusar Ronald Reagan de praticar “vudu econômico”? Claro que não. Ninguém em sã consciência pode analisar as divisões políticas atuais e concluir que a solidariedade masculina tenha dado origem a uma era de bons sentimentos em detrimento da ciência.

Por fim, a abordagem de Peck não só é profundamente anti-intelectual, já que ela substitui o debate de ideias pelo debate sobre genitais, como também é uma forma rudimentar de se pedir tratamento especial. A Teoria Monetária Moderna é considerada por seus detratores como uma das ideias econômicas mais tolas, autoindulgentes e perigosas da nossa geração. Se os detratores deixassem de atacar a teoria apenas porque sua principal detratora é mulher, eles estariam praticando o sexismo infantilizador contra o qual Peck acredita estar lutando. Ora, isso não seria – mais uma vez – “uma péssima dinâmica sexista”?

Charles C. W. Cooke é redator da National Review.

© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês 
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