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Boris Johnson
A derrota de Jeremy Corbyn, com sua política econômica retrógrada, foi um alívio. Mas nada impede que uma crise faça o povo buscar soluções fáceis de novo.| Foto: Oli SCARFF/AFP

Eu e muitos dos meus amigos recebemos o resultado das eleições britânicas do mês passado, do qual fiquei sabendo durante uma visita à Hungria, com grande alívio. A derrota de Jeremy Corbyn, cujas ideias econômicas provocariam uma escassez de água salgada no Pacífico, foi incomparavelmente mais importante para nós do que a questão do Brexit, uma distração menor.

As pesquisas realizadas pouco antes das eleições eram preocupantes. Embora elas sugerissem que os conservadores sob a liderança de Boris Johnson conquistariam a maioria dos assentos, elas também davam a entender que eles não conquistariam assentos o bastante para formar um governo. O resultado podia gerar mais caos parlamentar, ou pior, uma coalização com Corbyn, os nacionalistas escoceses, os democratas liberais e os verdes. Por mais que tentemos ignorar as pesquisas, é impossível: elas estão em todos os lugares e nos deixam deprimidos ao afirmarem que a diferença entre os partidos é cada vez menor e que Johnson e Corbyn estão correndo ombro a ombro.

As pesquisas, graças a Deus, estavam muito erradas. Não precisamos mais imaginar quando e como abandonar – ou fugir – do país. O prospecto de impostos altos, controle total do governo e dos sindicatos, expropriação da propriedade privada sem a devida indenização e uma venezuelização geral, desapareceu.

Mas nossa alegria deve ser contida. Em política, nenhuma vitória é derradeira e até mesmo as ideias mais atrozes jamais são derrotadas de uma vez por todas. A carreira política de Johnson ainda pode acabar em desgraça e humilhação — como a carreira da maioria dos políticos. Ele não resolverá os problemas profundos e duradouros do país, e pode haver uma ou mais crises que ele não consiga conter. Nessas horas, as ideias corbyneanas ressurgirão: existe sempre a tentação de se dizer que, se as coisas estão ruins, elas não podem piorar, e que, portanto, algo radicalmente diferente pode ser posto em prática. O bom senso nem sempre prevalece.

Deixei a Hungria no dia seguinte à eleição e viajei para Paris onde, por causa das greves, nenhum trem e poucos ônibus estavam funcionando. O atrapalhado Emanuel Macron tentava reformar o sistema previdenciário do país que rendia privilégios a alguns e (por definição) os negava a outros. Mas nem só os privilegiados estavam se manifestando contra as reformas; os jovens, que pareciam não entender o que estavam cuspindo para cima, também se manifestavam: são eles que terão de pagar por um sistema que se sustenta somente graças aos altos impostos que eles pagam.

As pesquisas sugerem que a opinião pública francesa está profunda e quase igualmente dividida entre os que apoiam e os que rejeitam as reformas propostas. Levando em conta o desempenho recente dos institutos de pesquisa na Grã-Bretanha, contudo, quem é que vai acreditar neles? Decidi fazer minha própria pesquisa com dois taxistas. Eles tinham opiniões igualmente divididas. O primeiro disse que, ao contrário dos metroviários que se aposentam aos 52 anos, teria de trabalhar até os 67 para se aposentar, o que ele considera injusto. O outro motorista disse que, num país onde a classe média está desaparecendo em nome do lucro de uns poucos bilionários, é certo e natural que as pessoas se apeguem a seus poucos privilégios restantes.

Jamais haverá um acordo político incontornável. E, apesar da vitória de Boris Johnson, ainda falta saber se o Reino Unido deixará a União Europeia de facto, e não só de jure.

Theodore Dalrymple é editor colaborador do City Journal, ocupa a cadeira Dietrich Weismann no Instituto Manhattan e é autor de vários livros.

© 2020 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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