Títulos com juros negativos – hoje 25% dos títulos disponíveis no mercado – não representam um voto inequívoco de confiança no futuro econômico, ainda que, como sempre, algumas pessoas podem até ganhar dinheiro com eles. No geral, esses títulos são como uma sombrinha que nos protege de uma torrente no horizonte.
A melancolia econômica, ou no mínimo uma sensação de pessimismo, está aumentando na Europa, onde o crescimento continua baixo e o desemprego entre os jovens é alto em muitos países. Em geral, concorda-se que taxas de juros ainda menores ainda mais baixas – que na verdade castigam os poupadores – não fará com que as economias desses países recuperem o vigor. Depois de perderem o controle de suas moedas como resultado da união monetária, esses países tampouco podem usar algum estimulo fiscal. Por isso ouvimos pedidos, recentemente ecoados pela indicada à chefia do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, de um orçamento maior que possa ser usado como estímulo a vários países como eles acharem melhor.
Um orçamento maior é visto por alguns como um antídoto ao aumento do nacionalismo populista na Europa, supostamente consequência dos problemas econômicos do continente. Um editorial recente do Guardian, a Bíblia dos bien pensants de boa parte do mundo anglófono, tinha a seguinte chamada: “O nacionalismo que se aproveita da angústia e desarticulação das pessoas pode ser enfrentando com uma bazuca orçamentária na zona do Euro”. Em outras palavras, se os governos dos países onde o populismo – isto é, a popularidade do oponente – gastar o bastante para reanimar suas economias, as pessoas voltarão ao normal e apoiarão a social-democracia que funcionou tão bem na Europa no passado recente – mesmo que essa social-democracia tenha levado aos problemas do presente.
Mas de onde virá a munição para a bazuca? Só pode haver uma resposta no cenário atual: da Alemanha. E, estranhamente, os alemães não parecem dispostos a fornecer munição para a bazuca.
Eles tiveram algumas experiências recentes com empréstimos de larga escala e não ficou completamente feliz com o resultado econômico e político. Claro que uma união política verdadeiramente próxima (o suposto objetivo da União Europeia, mas que os europeus repetidamente dizem não querer) talvez imponha empréstimos redistributivos à Alemanha tendo propósitos keynesianos — se os outros países a derrotarem. Mas não é fácil imaginar os alemães aceitando isso. Na verdade, talvez não exista uma forma melhor de reavivar o nacionalismo alemão – o mesmo nacionalismo que a tal bazuca pretende destruir. A situação seria ainda mais perigosa porque a Alemanha alcançou sua posição econômica atual, em parte, contendo o aumento desmedido no padrão de vida de seu povo, que talvez não esteja feliz em exercer o papel a eles determinado pela União Europeia. Na verdade, pesquisas já sugerem isso.
Admito que haja um estado de dissonância cognitiva nisso tudo. Olho em volta e não vejo todos os países da Europa mergulhados na pobreza. Se há uma crise, ela perde força em comparação com as crises do passado. Se bem que acho que eu não teria notado nada de estranho em Nova York na manhã daquela segunda-feira, 28 de outubro de 1929.
Theodore Dalrymple é editor colaborador do City Journal, ocupa a cadeira Dietrich Weismann no Instituto Manhattan e é autor de vários livros, entre os quais “Out Into the Beautiful World” e o recém-lançado “Grief and Other Stories”.
© 2019 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês