Uma candidata do Partido Verde do Reino Unido foi inocentada de uma acusação criminal só porque ela se preocupa com as mudanças climáticas.
Uma das críticas eternas aos sistemas jurídicos do Ocidente é a de que eles aplicam uma lei aos ricos e outra aos pobres. Os magistrados de Cambridgeshire, na Inglaterra, recentemente deram seu melhor para embasar essa crítica. Uma mulher chamada Angela Ditchfield, que concorreu ao Parlamento pelo Partido Verde, foi presa por ter vandalizado a sede do conselho do condado pichando-o com os símbolos do “Extinction Rebellion”, movimento ecológico radical cujas demonstrações levam o caos a Londres e outros lugares.
Ela foi acusada de vandalismo criminoso. A defesa dela disse que, ao pichar o prédio, ela estava defendendo sua propriedade (sua casa) de danos iminentes causados pelas mudanças climáticas. Incrível e assustadoramente, os magistrados aceitaram o argumento da defesa e a inocentaram. Na sentença, os juízes disseram:
Percebemos que você acredita mesmo e sinceramente que estamos diante de uma emergência climática, que você agiu no calor do momento para proteger terras e lares sob ameaça do aquecimento global, acreditando que a proteção imediata era necessária, e pode-se dizer que sua atitude foi para a proteção da propriedade e que você acreditava que a atitude escolhida era sensata diante das circunstâncias.
Não dá para ignorar os efeitos dessa decisão, se ela for aplicada amplamente. O juiz tornou uma crendice honesta, por mais absurda que ela seja, um argumento contra o que de outra forma seria considerado um ato criminoso, e isso, por sua vez, deu a todo mundo uma lei para chamar de sua.
Não dá para entender direito como pichar sedes de conselhos locais possa ter qualquer efeito prático que não o custo da limpeza para o conselho. E será que a casa de alguém em Cambridgeshire está mesmo em perigo por causa das mudanças climáticas? Normalmente, uma defesa afirmativa de uma acusação criminal com base em impedir ou reduzir uma ameaça exige que haja um perigo óbvio e evidente, como uma enchente ou incêndio. A crença de que o mundo está acabando não basta.
Claro que os magistrados, com uma mentalidade tão débil quanto seu caráter, estavam agindo de forma politicamente tendenciosa. Se uma pessoa “acredita mesmo e sinceramente” que o Reino Unido está sendo islamizado tivesse pichado um prédio público com um slogan contra isso, ele jamais (e acertadamente) teria sido inocentado. Se o acusado fosse um jovem desempregado usando um traje de gueto ou favela, tampouco ele seria inocentado. Assim, há uma lei para os bien pensant e outra para o resto.
As manifestações do Extinction Rebellion não foram inócuas. Recentemente, a polícia de Londres gastou duas vezes mais tempo e dinheiro para lidar com eles do que gasta com batalhões especiais para lidar com o aumento dos crimes violentos na cidade. Se bem que os crimes violentos afetam principalmente os pobres e as minorias étnicas, então eles não são tão importantes quanto, digamos, os danos distantes e meramente hipotéticos causados pelo aquecimento global contra a propriedade de candidatos ao Parlamento pelo Partido Verde.
Theodore Dalrymple é editor colaborador do City Journal, ocupa a cadeira Dietrich Weismann no Instituto Manhattan e é autor de vários livros.
© 2019 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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