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Tráfico sexual é uma pandemia: é hora de acabar com a demanda

Área de prostituição em Amsterdã:  Enquanto a demanda por compras sexuais existir, os traficantes irão preenchê-la com vítimas – mesmo que isso signifique usar coerção | Pixabay
Área de prostituição em Amsterdã:  Enquanto a demanda por compras sexuais existir, os traficantes irão preenchê-la com vítimas – mesmo que isso signifique usar coerção (Foto: Pixabay)

Em outubro, um homem da área de Dallas foi condenado à prisão perpétua por traficar crianças para fins sexuais. O caso ofereceu um raro vislumbre de um submundo sombrio que a maioria dos americanos não percebe que existe, mesmo quando acontece em seus próprios quintais.

Por causa da natureza oculta desse crime, muitos americanos não percebem que o tráfico sexual não é apenas um problema internacional. Todos os dias, centenas de milhares de pessoas estão sendo vendidas por sexo contra sua vontade nos EUA. 80% delas são americanas, e a maioria são crianças. 

O Relatório Federal sobre Tráfico Humano de 2017 descobriu que, dos 661 casos ativos no ano passado de tráfico sexual, 65,8% envolveram crianças como vítimas. E há potencialmente centenas de milhares de vítimas além desse número que ainda não foram encontradas. 

Algumas dessas vítimas são jovens adolescentes, atraídas por homens mais velhos ou mulheres que fizeram amizade com elas nas redes sociais. Algumas são crianças de 3 ou 4 anos que foram sequestradas ou vendidas para a indústria por um parente ou guardião. 

O tráfico não exige viagens – pode acontecer no próprio quintal da vítima. Como ainda existem muitas mais vítimas não descobertas do que casos resolvidos, é impossível saber com certeza o número exato de pessoas envolvidas no tráfico sexual hoje. 

O que posso dizer com certeza é que esse é um problema real que tem que acabar. 

Eu estava aposentado de uma carreira de sucesso como gerente geral do Los Angeles Dodgers quando conheci Rachel. Quando tinha quatro anos, seu pai a vendeu pela primeira vez. Ela ficou presa na indústria por 14 anos, até que deixou o ensino médio e foi capaz de escapar do controle de seu pai. 

Sua história, juntamente com centenas de outras como ela, levou-me a fundar o Instituto Contra o Tráfico Humano dos EUA. Por meio de nosso trabalho com vítimas, equipes de resgate, políticos, líderes comunitários e grupos religiosos, aprendemos que, embora seja importante atacar o problema do lado da oferta, só há uma maneira certa de impedir o tráfico humano nos EUA: temos que acabar com a demanda. 

Resgatar vítimas e prender aqueles que as vendem é um trabalho nobre, mas é reativo e está a um passo para trás dos predadores. Além disso, não resolve o problema real. 

Um a cada cinco homens dos EUA hoje já pagou para ter relações sexuais pelo menos uma vez. Estes são homens aparentemente comuns – eles podem ser seus vizinhos, seus colegas de trabalho, os pais dos amigos de seus filhos. Homens americanos estão comprando mais sexo do que homens de qualquer outro lugar do mundo. 

Até diminuirmos o número de pessoas dispostas a pagar por sexo neste país, cada vítima resgatada será substituída por outra. A verdade incômoda é que nossa sociedade hipersexualizada criou um ambiente em que pagar por sexo é considerado aceitável, mesmo que ilegal. A pornografia infantil também é ilegal e, ainda assim, preocupantemente, é o negócio on-line que mais cresce atualmente, com receita anual estimada em mais de US$ 3 bilhões apenas nos EUA. E quase metade dos sites de pornografia infantil existentes em todo o mundo são sites dos EUA. 

Enquanto a demanda por compras sexuais existir, os traficantes irão preenchê-la com vítimas – mesmo que isso signifique usar coerção. O lucro médio anual gerado por uma mulher em servidão sexual forçada é de US$ 100 mil. Esse é um número atraente para um criminoso que procura ganhar dinheiro fácil. 

O ciclo não termina a menos que acabemos com a demanda. Isso pode ser alcançado no nível político por meio de legislação que foca nos compradores de sexo em vez de naqueles que estão sendo vendidos. Estudos mostraram que homens presos por comprar sexo têm menos probabilidade de comprar sexo novamente no futuro. 

As mulheres envolvidas na prostituição, por mais que pareçam estar dispostas a isso, devem ser consideradas vítimas. A maioria delas foi abusada sexualmente em algum momento de suas vidas.

Em última análise, porém, precisamos fazer com que os americanos que pensam em comprar sexo estejam cientes das consequências, tanto para si mesmos quanto para os outros. O principal programa do Instituto Contra o Tráfico Humano dos EUA, o TraffickingFree Zone (Zona Livre de Tráfico), é uma colaboração multissetorial envolvendo lideranças comunitárias, aplicação da lei, empresas, escolas, instalações médicas e organizações comunitárias. 

O TraffickingFree Zone defende uma política de tolerância zero contra a compra de sexo ao promover a conscientização do público, usando publicidade e campanhas em mídias sociais para alcançar compradores on-line, e mobilizando igrejas, provedores de saúde, empregadores, juízes e outros contra o tráfico sexual. Mais do que isso, mostra o compromisso de uma organização em tomar uma posição pública contra esse problema. 

O tráfico humano é a escravidão moderna, e não podemos mais ignorar isso – especialmente agora que ele claramente invadiu nosso solo. A menos que nos concentremos em acabar com a demanda por compras sexuais, nunca poderemos proteger totalmente nossos filhos dessa indústria sombria. 

Kevin Malone é presidente e co-fundador do Instituto Americano Contra o Tráfico Humano e ex-vice-presidente executivo e gerente geral do Los Angeles Dodgers. 

Tradução: Gisele Eberspächer

©2018 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês

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