É hora de falarmos a sério sobre a segurança nas escolas.
Quase 20 anos separam as tragédias da escola Columbine, no Colorado, e da escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, Flórida. Durante esse tempo, muito pouco foi feito para reforçar a segurança das nossas escolas.
É por isso que nossa nação em luto está novamente buscando uma solução. Se a América está preparada para encarar a segurança nas escolas com seriedade, precisamos buscar soluções para uma série de problemas urgentes, incluindo saúde mental, desarticulação das famílias, cultura, mídia e mais.
Por essa razão, acabamos de publicar um dossiê amplo da Fundação Heritage com materiais que contextualizam o tema: “Focusing on School Safety After Parkland”. Cada artigo de opinião nesta série destaca um aspecto do artigo, que oferece soluções reais a esse problema complexo.
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O que os responsáveis por chacinas em escolas têm em comum? Várias coisas.
Além de muitas vezes manifestarem sinais de comportamento cada vez mais violento e disfuncional, eles têm tendência significativamente maior que a população mediana a sofrer doenças mentais não diagnosticadas ou não tratadas; eles muitas vezes vêm de famílias desfeitas, e seus crimes podem ter uma relação com insegurança econômica.
Vamos examinar esses fatores mais de perto.
1. Doença mental
Mesmo quando não há uma doença mental séria presente, os atiradores em escolas quase sempre exibem traços comuns de ressentimento extremo, raiva e um desejo de vingança, por sentirem que são socialmente isolados.
Não é incomum que um atirador tenha tido comportamentos cada vez mais tumultuosos e violentos antes de cometer uma chacina. Mas, por diversas razões, esses indivíduos muitas vezes não são internados em uma instituição de saúde pública nem recebem tratamento de saúde mental obrigatório ordenado por um tribunal.
Isso não quer dizer que transtornos de saúde mental sejam sinônimo de violência. A imensa maioria das pessoas que sofrem transtornos de saúde mental nunca vai cometer atos de violência.
Mas significa que a identificação e o tratamento precoce de alunos com transtornos de saúde mental é particularmente importante para reduzir ataques violentos de grande escala em escolas.
Os atiradores em escolas frequentemente dão indícios a seus pares sobre o que pretendem fazer. Podem fazê-lo pessoalmente ou através das redes sociais.
Um dos atiradores da escola Columbine escreveu blogs online falando de seu desejo de matar as pessoas que o irritavam e fazendo ameaças violentas específicas contra seus colegas de classe e professores.
Antes de abater 17 estudantes na Flórida, o atirador de Parkland foi denunciado ao FBI por um post no YouTube em que se gabou de virar “atirador profissional de escola”. Ele também teria dito a colegas de classe em várias ocasiões, em tom de brincadeira, que seria a pessoa a “sair atirando numa escola”.
Também não é incomum que atiradores em escolas exibam sinais de aviso mais indiretos, como uma fixação pouco sadia com armas de fogo, escrever redações envolvendo violência grotesca ou elogiar outros atiradores de escolas.
É essencial que professores e outros profissionais nas escolas fiquem atentos para esses sinais premonitórios e tomem medidas cabíveis, que podem incluir contatar profissionais de saúde mental externos à escola e a polícia local.
2. Famílias desfeitas
A dinâmica familiar também pode exercer um papel na detecção precoce de estudantes prestes a cometer atos de violência catastrófica.
Lamentavelmente, a maioria dos atiradores em escolas vem de famílias desfeitas. Muitos cresceram sem a presença da figura paterna ou em meio a situações de divórcio ou violência doméstica.
O atirador de Parkland foi criado por sua mãe adotiva, sem pai, desde os 6 anos de idade. Ele é apenas o mais recente numa longa sequência de rapazes problemáticos que cresceram em situações familiares nada ideais.
Os atiradores de Sandy Hook, da escola Chadron, de Isla Vista, da SuccessTech Academy, da Northern Illinois University e do colégio Santana (para citar apenas alguns poucos) todos tinham pais divorciados.
O jovem que matou seu avô antes de assassinar sete de seus colegas de classe no colégio de segundo grau Red Lake tinha pais que nunca se casaram, sendo que seu pai tinha se suicidado; sua mãe e seu padrasto estavam divorciados. Ele viveu com uma avó separada de seu marido.
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Isso não significa que todos os estudantes com vida familiar conturbada devam ser vistos como potenciais atiradores ou que estudantes com famílias estáveis e intactas que apresentem comportamentos preocupantes devam deixar de ser acompanhados.
Mas pode significar que uma abordagem holística à segurança nas escolas deve incluir a apreciação do impacto que uma vida familiar caótica pode ter sobre o sentimento de desespero de um estudante e sobre suas ações violentas.
O fato lamentável de que relacionamentos familiares desfeitos frequentemente estão ligados a fatores de risco maiores para jovens não é novidade. Há décadas, estudos sucessivos vêm mostrando que famílias estáveis e intactas exercem um papel vital no desenvolvimento de crianças e adolescentes que se desenvolvem bem.
Os adolescentes que vivem em famílias intactas têm menos chances de exibir comportamentos violentos ou participar de brigas físicas, enquanto os jovens de famílias sem pai têm probabilidade maior de ser encarcerados que os jovens de famílias com pai e mãe.
Vários estudos já demonstraram que estudantes de famílias intactas tendem a relatar níveis menores de estresse emocional e psicológico, enquanto os que não vivem com seus pais biológicos têm tendência maior a apresentar transtornos psicológicos afetivos como hiperatividade, irritabilidade e depressão na idade adulta.
É impossível exagerar a importância que os pais e figuras paternas participantes têm para o desenvolvimento mental e emocional dos filhos. Os pais são exemplos importantes para seus filhos homens. Eles exercem um papel fundamental em ajudar a manter a autoridade e disciplina no lar. Ajudam seus filhos a desenvolver autocontrole e empatia em relação a outros – características importantíssimas de caráter que muitas vezes faltam em jovens violentos.
A psicóloga Marsha Kline Pruett observa que “os pais geralmente se dispõem mais que as mães a confrontar seus filhos e aplicar disciplina, deixando seus filhos com a impressão que de fato exercem mais autoridade”.
3. Insegurança econômica
As tendências socioeconômicas podem nos dar pistas para identificar outros fatores de risco relacionados à violência nas escolas.
Um grande estudo de criminologistas na Universidade Northwestern analisou o efeito das condições econômicas sobre a prevalência de chacinas em escolas e concluiu que existe uma correlação importante entre períodos de insegurança econômica aumentada e períodos de violência maior com armas de fogo em escolas.
A descoberta se confirma especialmente porque os efeitos dessa correlação são vistos em vários indicadores econômicos diferentes, e a correlação continua presente mesmo quando se analisam os dados aos níveis nacional, regional e municipal.
Os pesquisadores notaram que os resultados desse estudo são condizentes com outras evidências de que o desemprego está relacionado à baixa autoestima e a comportamentos nocivos, que os menores de idade reagem ao desemprego de seus pais e que as atitudes dos jovens têm impacto importante sobre seus resultados econômicos futuros.
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Eles postularam também que “a violência com armas em escolas é uma resposta, em parte, à quebra da expectativa de que a participação persistente no sistema educativo resulte em oportunidades e resultados econômicos melhores”.
Essa sugestão tem implicações profundas no contexto do passado de muitos indivíduos que cometem ataques violentos em escolas e que ou estavam tendo dificuldade em concluir seu ensino ou não o concluíram e cujas oportunidades econômicas futuras eram limitadas.
O atirador de Sandy Hook, por exemplo, foi tirado do colégio por seus pais por apresentar disfunção de integração sensorial, estudou na Western Connecticut State University mas não se formou e estava desempregado, sem qualquer probabilidade de conseguir um emprego no futuro próximo.
O atirador de Parkland também tinha sido expulso do colégio por problemas de disciplina, estava fazendo aulas de educação adulta para obter seu diploma de segundo grau e trabalhava numa loja de 1,99.
O atirador de Isla Vista se formou no colégio, mas abandonou os estudos em uma faculdade local menos de um ano depois de iniciar e foi investigado pela polícia local devido a preocupações com sua saúde mental.
Enfrentando a origem dos problemas
As soluções reais de problemas começam com fatos, e o fato é que os atiradores em escolas muitas vezes compartilham características comuns – que não estão relacionadas às armas de fogo.
Se vamos falar a sério sobre segurança nas escolas, precisamos reconhecer que doenças mentais, famílias desfeitas e insegurança econômica exercem um papel em muitas chacinas em escolas, senão em todas.
Combater esses males da sociedade com estratégias de valor comprovado vai ajudar a reduzir não apenas os massacres em escolas, mas também outros atos de violência cometidos por jovens em situação de risco.
*John G. Malcolm é vice-presidente do Instituto de Governo Constitucional e diretor do Centro Edwin Meese III de Estudos Legais e Jurídicos. Ele supervisiona o trabalho da Fundação Heritage para aumentar o conhecimento da Constituição e do Estado de Direito. Leia suas pesquisas.
*Amy Swearer é professora visitante de direito no Centro Meese de Estudos Legais e Jurídicos da Fundação Heritage.
©2018 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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