Pessoas fazem compras no mercado municipal de Chacao, em Caracas, em junho de 2018. A pior crise econômica da história da Venezuela causa falta de alimentos, água e medicamentos| Foto: FEDERICO PARRAAFP

A história nos oferece inúmeros exemplos de déspotas cruéis que governaram sob diversas ideologias coletivistas. Hitler, Mao, Stalin, Pol Pot e, hoje, Kim Jong Un e Nicolás Maduro, podem ter dado nomes distintos às suas ideologias coletivistas, mas estas resultaram na morte de incontáveis milhões de pessoas e em sofrimento interminável para os sobreviventes.

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Fato preocupante, a maioria das pessoas da geração do milênio preferiria viver sob o socialismo ou o comunismo. Economicamente analfabetos e indiferentes à história, eles se aferram à fantasia de que, se as pessoas certas chegassem ao poder, eles poderiam viver em sua utopia imaginária, onde a sociedade seria organizada de acordo com seus desejos e caprichos. 

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O jornalista Anatoly Kurmanaev cobre a Venezuela e vive no país há cinco anos. Ele descreveu sua experiência do derretimento do país em um ensaio recente para o Wall Street Journal, “The Tragedy of Venezuela”. 

Kurmanaev cresceu na Rússia na década de 1990 e testemunhou “corrupção, violência e degradação”. Diz que “o colapso da Venezuela está sendo muito pior que o caos” que ele viveu em primeira mão na Rússia. 

Em meu próprio ensaio para a FEE “Venezuela’s Road to Literal Serfdom”, tratei das ilusões que as pessoas nutrem em relação ao socialismo. Através do trabalho de repórter de Kurmanaev, podemos mergulhar mais fundo nos mitos sobre o socialismo aos quais muitos ainda aderem. 

Primeiro Mito: os coletivistas se preocupam mais com os pobres 

Não existe varinha mágica capaz de transformar as melhores intenções dos coletivistas em bons resultados. Milton Friedman observou: “O poder concentrado não se torna inofensivo pelas boas intenções daqueles que o criam”. 

Não podemos medir intenções, mas podemos atestar resultados. Os capitalistas tiraram bilhões de pessoas da pobreza, enquanto os coletivistas levaram milhões de pessoas à morte pela fome. A liberdade enriquece; a força empobrece. Em “Free to Choose”, Friedman escreveu: “Uma sociedade que põe a liberdade em primeiro lugar acabará, como subproduto afortunado, com mais liberdade e mais igualdade”. 

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Kurmanaev observa como a fachada de boas intenções ruiu na Venezuela: 

“O que chamou minha atenção ao chegar foi quão pouco os socialistas se importavam com mesmo uma aparência de igualdade. Eles chegavam a coletivas de imprensa em favelas em comboios de SUVs blindados, novos em folha. Faziam visitas televisionadas a fábricas decrépitas usando relógios Rolex e carregando bolsas Chanel. Levavam jornalistas a campos petrolíferos decrépitos pertencentes ao Estado, transportando-os em jatinhos particulares com porta-papel higiênico folheados a ouro... 

Na Venezuela, vi crianças abandonarem escolas que tinham deixado de servir refeições; vi professores que trocaram os livros didáticos por picaretas para trabalhar no garimpo perigoso. Vi fotos de carcaças de cavalos na escola de veterinária da maior universidade do país – animais abatidos e consumidos devido à escassez de alimentos.” 

Kurmanaev diz: “O chamado governo socialista não fez nenhum esforço para proteger de cortes a saúde e a educação, os dois supostos pilares de seu programa”. Como se pudesse existir uma forma benigna de socialismo, ele acrescenta: “Aquilo não era socialismo. Era uma cleptocracia – o governo de ladrões.” 

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Não existe socialismo benigno. Segundo o professor de direito Ilya Somin, o socialismo é sempre “o governo composto por ladrões violentos”; 

“A repressão e a ‘má gestão’ por parte de ditadores são caracteríscas de Estados socialistas em todo o mundo. Os países escandinavos, às vezes citados como exemplos de socialismo bem-sucedido, na realidade não são socialistas, porque neles os meios de produção não pertencem ao Estado. Sob muitos aspectos, eles têm mercados mais livres que os da maioria das outras nações ocidentais.” 

Segundo Mito: os bem-intencionados resolvem problemas que o mercado não é capaz de superar 

Recebemos os líderes que nossas crenças produziram. Em “O Caminho da Servidão”, Hayek destaca que as pessoas atribuem a culpa de seus problemas ao “sistema” e “querem ser exoneradas da escolha difícil que os fatos duros muitas vezes lhes impõem”. Assim, elas “se dispõem a acreditar que não é realmente necessário fazer uma escolha, mas que esta lhes é imposta meramente pelo sistema econômico específico sob o qual elas vivem”. 

Em seu livro “The Essential Hayek”, o grande educador econômico Don Boudreaux escreve: 

“Se o governo continua determinado a proteger contra as consequências negativas das transformações econômicas todos aqueles que suplicam por essa proteção, seus poderes devem necessariamente ser ampliados até restar pouca liberdade de ação aos indivíduos.” 

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Boudreaux explica como obstruir transformações produz pobreza: 

“Infelizmente, pelo fato de o crescimento econômico ser uma transformação econômica que exige o deslocamento temporariamente doloroso de recursos e trabalhadores de indústrias mais antigas que perderam rentabilidade para indústrias mais novas, a prevenção de todo declínio na renda das pessoas não pode deixar de também obstruir o crescimento econômico. A economia se torna ossificada, estática e estagnada. Assim, proteger todos os cidadãos a todo momento contra o risco de queda em sua receita significa não apenas ser controlado por um governo imensamente poderoso e que age praticamente sem restrições, mas também a erradicação de toda perspectiva de crescimento econômico. Inevitavelmente, esse caminho pavimentado com a boa intenção de proteger todos os produtores contra perdas conduz não apenas à servidão, mas também à pobreza ampla.” 

Será que é leviano argumentar que o mercado vai resolver nossos problemas? Boudreaux explica por que, em lugar de serem levianos, aqueles que promovem o processo de descoberta empreendedora estão encaminhando a sociedade para a rodovia que levará ao alívio das dificuldades. 

“Dizer ‘deixemos que o mercado cuide disso’ é rejeitar a regra centralizada e tamanho único ditada pelos especialistas. É endossar um arranjo incomensuravelmente complexo para lidar com o problema. Recomendar o mercado de preferência à intervenção governamental é reconhecer que nem aquele que recomenda o mercado nem mais ninguém possui informação e conhecimentos suficientes para determinar ou prever quais métodos são os melhores para lidar com o problema. 

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De fato, recomendar o mercado é recomendar que se deixe que milhões de pessoas criativas, cada uma com perspectivas, conhecimentos e insights diferentes, contribuam suas ideias e seus esforços voluntariamente para lidar com o problema. É recomendar não uma solução única, mas um processo descentralizado que atrai muitos experimentos concorrentes e então descobre as soluções que funcionam melhor sob as circunstâncias em questão.” 

Kurmanaev foi a um evento promovido pelo Banco Central da Venezuela. Imaginou que ouviria planos do banco para melhorar a economia. Em vez disso ele se viu, às 10h da manhã, numa festa na praia, com vodca e rum correndo soltos. Nelson Merentes, o diretor do BC, estava ali. Kurmanaev o encontrou “sacudindo maracas e dançando com um bando de moças de shortinho”. 

Um incidente como esse não prova muita coisa, mas em “O Caminho da Servidão” Friedrich Hayek mostrou por que no coletivismo “os piores chegam ao topo”. 

Quer maior receita de desastre que essa? Os “piores” planejando a vida das outras pessoas. 

Terceiro Mito: a economia prospera sob o socialismo 

Kurmanaev diz o seguinte a respeito da economia venezuelana: 

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“Até o final de 2018 ela terá encolhido estimados 35% desde 2013, a maior contração nos 200 anos de história do país e a recessão mais profunda no mundo em décadas. Entre 2014 e 2017, o índice de pobreza subiu de 48% da população para 87%, segundo pesquisa das maiores universidades do país. Cerca de nove em cada dez venezuelanos não comem o suficiente para satisfazer suas necessidades nutricionais básicas. Crianças morrem de desnutrição e de falta de remédios. ... 

Caracas é há anos uma cidade perigosa, porém dinâmica, mas a crise a converteu em um set de filmagem de um filme sobre zumbis. Quando fui morar no bairro de Chacao, na zona leste da cidade, as ruas eram cheias de barracas de alimentação, cafés e lojas de imigrantes portugueses, italianos e sírios. Grupos de jovens e idosos ficavam na rua até a madrugada, tomando cerveja e jogando conversa fora. 

Hoje, porém, as ruas de Chacao ficam vazias depois do anoitecer. Quase não há mais iluminação pública, e as únicas pessoas na rua após as 20h são crianças de rua que vasculham sacos de lixo.” 

Em um primeiro momento, parecia que o socialismo produziria um almoço gratuito. 

“Os pobres recebiam alimentos subsidiados e habitação gratuita. A classe média ganhava até US$ 8.000 anuais em créditos gratuitos em seus cartões de crédito, para viajar e fazer compras. E os ricos e pessoas com contatos políticos desviavam até US$30 bilhões por ano de dólares fortemente subsidiados, por meio de empresas de fachada.” 

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O professor Boudreaux explica o colapso inevitável de uma economia sem “direito à propriedade privada, sem liberdade de contratos, sem a vigência das leis e sem a soberania dos consumidores”: 

“É indispensável para a criação, manutenção e crescimento da prosperidade ampla um sistema econômico que utilize os recursos escassos com a maior eficácia possível para criar produtos e serviços que satisfaçam o maior número possível de demandas do consumidor. Na medida em que o sistema econômico encoraja ou até permite o desperdício de recursos produtivos, esse sistema deixa de alcançar a prosperidade máxima possível. Se grandes depósitos subterrâneos de petróleo permanecem sem ser detectados porque o sistema econômico não recompensa adequadamente o esforço humano necessário para localizar e extrair esse petróleo, a população deixará de ter acesso ao combustível, lubrificantes, plásticos, medicamentos e outros produtos úteis que poderiam ter sido criados a partir desse petróleo, mas não foram.” 

A partir das cinzas 

Churchill acertou quando disse: “O socialismo é uma filosofia do fracasso, o credo da ignorância e o evangelho da inveja. Sua virtude inerente é a divisão igual da miséria, exceto para os que administram o governo.” 

Kurmanaev comenta que o impacto do socialismo sobre os venezuelanos é visível em toda parte à sua volta, “na pele murcha dos vizinhos, nos olhos embaçados de zeladores e seguranças, nas brigas das crianças que disputam mangas de um pé próximo”. Ele prossegue: 

“É profundamente deprimente assistir a pessoas que você conhece irem emagrecendo e perdendo seu ânimo de viver, dia após dia, ano após ano. Quando penso nos meus cinco anos na Venezuela, o que me marcou mais não foi o tempo que passei cobrindo tumultos, protestos de rua violentos e gangues armadas. Foi o declínio lento das pessoas que encontrava no meu dia a dia.” 

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Ele compartilha uma história dolorosa, mas que nos infunde esperança: 

“Um dia vi um operário da construção, um homem magro e de meia-idade numa lambreta velha, parar ao lado de um menino que vasculhava um saco de lixo na rua. O homem o chamou: ‘Rapaz!’, ele disse num sotaque de classe trabalhadora. Abriu sua mochila gasta, tirou a única coisa que havia lá dentro – uma marmita de plástico com macarrão e feijão – e a entregou ao menino. Provavelmente teria sido a única coisa que o próprio operário teria para seu almoço.” 

O relato de Kurmanaev me lembrou de “Em Busca de Sentido”, de Viktor Frankl. O autor relata casos de prisioneiros em campos de concentração que ainda tinham o poder de “escolher seu próprio caminho, entregando seu último pedaço de pão a outro”. 

Frankl ensinou que sempre há uma escolha a ser feito. Os venezuelanos parecem ser prisioneiros da cleptocracia de Maduro. A política da inveja criou as condições de seu longo declínio; eles, e apenas eles, possuem o poder de abandonar sua mentalidade socialista. Quando o fizerem, sairão de seu pesadelo nacional. 

Barry Brownstein é professor emérito de economia e liderança na Universidade de Baltimore e autor de “The Inner-Work of Leadership”.

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©2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês

Tradução por Clara Allain