As estrelas de “The Crown”: Olivia Colman como a Rainha Elizabeth II, Emma Corrin como a Princesa Diana e Gillian Anderson no papel de Margaret Thatcher.| Foto: Divulgação
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Agora em sua quarta temporada, “The Crown”, da Netflix, agrada a uma sensibilidade muito específica: a minha. O modo como eu imagino que um aluno da oitava série fica animado por, digamos, o Senhor das Estrelas atacar um alienígena foi minha reação no final do segundo episódio (“O Teste de Balmoral”). “Que terrível grupelho de mimados”, gritei para a TV, quase quicando no sofá. "Isso mesmo, Sra. Thatcher, mande-os embora. Despeça todos eles!”. Este seria o episódio cuja cena culminante é… uma remodelação do gabinete de Margaret Thatcher em 1981.

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No entanto, essa trama de alto nível constrói tão suavemente cada clímax que até mesmo um espectador menos emocionalmente apegado descobrirá que esta temporada é um sucesso após o outro.

Chegamos nos anos 80, quando o Príncipe Charles (Josh O’Connor) vai buscar sua namorada Sarah Spencer para jantar e, em vez disso, fica encantado com sua irmã mais nova, uma elfa adolescente da floresta. Esse é o traje usado por Lady Diana Spencer (Emma Corrin) enquanto ela ensaia para uma produção escolar de “Sonho de uma noite de verão”. Margaret Thatcher (Gillian Anderson) ignora o conselho de sua equipe gelatinosa de ministros poderosos a fim de resgatar seus companheiros britânicos de um ditador, restaurar a honra da Grã-Bretanha e dar aos invasores das Ilhas Malvinas uma lição adequada; um parente da Rainha, Lord Mountbatten (Charles Dance), parte em uma viagem de pesca fatídica; e Sua Majestade (Olivia Colman) é revelada como uma progressista enrustida.

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Este último detalhe é o preço que você paga por desfrutar desta série lindamente elaborada e repleta de drama; o criador do show, Peter Morgan, é um progressista que adora a Rainha e conseguiu inserir suas ideias fingindo que Elizabeth Regina empurrou a agenda favorita de Peter Morgan nos bastidores. Morgan está ciente (mais ou menos) de que seria altamente impróprio, para não mencionar atípico, que a soberana metesse sua tiara na política sul-africana.

Mas houve uma vez uma notícia vazada por um jornal (questionável) no sentido de que Elizabeth estava em desacordo com a Sra. Thatcher sobre a relutância desta em sancionar o regime de apartheid, e então Morgan constrói um episódio inteiro ("48: 1", o oitavo deste temporada) em torno da noção de que a Rainha intimidava incessantemente Thatcher até que ela ajustasse a política britânica ao gosto da monarca. Você pode querer pular este episódio; eu gostaria de ter feito.

Exagero

Outra fonte de pequena irritação são as performances. Como tem sido o caso durante todo o show, as atrizes que interpretam a monarca (antes da hábil Colman assumir, a excelente Claire Foy a interpretou nos primeiros anos de seu reinado) se comportam com a dignidade apropriada, mas os coadjuvantes parecem não combinar com o cenário. John Lithgow deveria ter sido enviado à Torre por sua interpretação de Winston Churchill nas três primeiras temporadas.

Este ano, é Anderson que se comporta como se estivesse fazendo uma imitação de esquetes cômicos de segunda categoria. A Sra. Thatcher às vezes inclinava a cabeça para um lado ao fazer uma afirmação? Bem, então Anderson repete o movimento tantas vezes ao longo da série que é surpreendente que não tenha levado um tombo. Thatcher tinha uma voz distinta? Sim, mas não era tão abrasiva como a que Anderson inventa. O’Connor também exagera em um grau irritante; o príncipe Charles de verdade realmente merece uns tapas, mas não é exatamente a figura enjoativa retratada na série.

Apesar de permitir a Thatcher alguns momentos esplêndidos, Morgan não consegue mostrar muito respeito por seus triunfos (embora ele se deleite com o outono de 1990) e então praticamente os pula para retratá-la como uma espécie de bruxa vergonhosa e ele mesmo ri imaginando Thatcher cozinhando e passando roupa (supõe-se que isso seja um insulto, o tipo de cena que faz os idiotas pretensiosos da BBC pensarem: “então, classe média”).

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Charles e Diana

É, entretanto, a dinâmica Charles-Diana que orienta e define o show. Continua sendo um conto genuinamente comovente; Charles, forçado a se casar com uma pessoa que não é seu verdadeiro amor, a plebéia casada Camilla Parker Bowles (divertidamente interpretada por Emerald Fennel, sob um esvoaçante cabelo loiro estilo Farrah Fawcett), é desarmado pela espontaneidade infantil exibida por Diana (que, na época, morava com duas colegas em Earl's Court, conhecido por ser habitado por imigrantes).

Ele se convence a se casar com ela depois que a moça parece entrar naturalmente na família real em uma visita de fim de semana a Balmoral, mas imediatamente se arrepende. Durante a entrevista de noivado, um jornalista observou que a dupla parecia "muito apaixonada" e Charles respondeu: "O que quer que 'apaixonado' signifique." Ai. Morgan não deixa de fazer uma cena esmagadora, extenuante e devastadora deste evento.

As cenas de Diana fechada em seus próprios aposentos no palácio enquanto aprende seu ofício como a próxima Princesa de Contos de Fada™ capturam de forma tocante como ela se tornou solitária, estranha e, logo, bulímica. E aquelas em que ela assume seu papel e se torna uma figura mundialmente amada são cativantes. Estamos torcendo por ela, mas sabemos que ela não tem chance.

Quando ela e Charles fazem uma turnê australiana juntos (episódio seis, “Terra Nullius”), ele está frio e ela doente por ter se separado de seu filho bebê William, mas conseguem se reconciliar um pouco. É adorável. A lacuna entre os dois nunca pode ser fechada, no entanto, Morgan encontra uma maneira incrível de dramatizar isso de uma forma deliciosamente inesperada: na Royal Opera House, Diana surpreende seu marido (episódio nove, "Avalanche") escapando do camarote para subir no palco para dançar "Uptown Girl" de Billy Joel. O público fica encantado; mas Charles, sendo Charles, está horrorizado.

O que está errado entre eles não é culpa de ninguém (ok, é culpa de Charles, pelo menos de acordo com a série). Está tudo envolvido em questões de dever, tradição e protocolo - as barras de ferro da gaiola dourada. Estamos assistindo à vida de algumas das pessoas mais privilegiadas que já viveram neste planeta, e a maioria delas é miserável. A coroa é adorável de se admirar por causa do ouro, mas o que a faz funcionar impecavelmente é quão triste e bem ela incorpora o ferro.

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©2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.