Mais da metade dos norte-americanos não acredita que Donald Trump é um bom presidente. Ainda assim, ele já traçou o caminho para ganhar a reeleição. Se ele não for retirado do cargo e não liderar o país para algum tipo de catástrofe, ele pode garantir um segundo mandato apenas mantendo seu nível atual de apoio e sua base política.
Nós entramos em uma nova era da política americana. A eleição de 2016 expôs como questões econômicas, sociais e culturais separaram o país e dividiram os eleitores por idade, raça, educação e geografia. Isso não vai mudar.
O que mudou são as rachaduras políticas que comandam o debate desde o começo dos anos 80. Até agora, as diferenças ideológicas entre os partidos giravam principalmente em torno de questões sociais, gastos com segurança e comércio, assim como subsídios fiscais para corporações e pessoas ricas. Hoje, a questão central se tornou o populismo, já que os eleitores se distanciaram dos dois partidos políticos e se identificam cada vez mais como independentes.
Em 2016, Trump capitalizou esse ambiente de mudança política. Ele consolidou o crescente número de eleitores raivosos, que se sentiam abandonados pelas pessoas e instituições que controlavam o país. O apoio que Trump tem desses eleitores é pessoal, não ideológico. Isso explica o motivo pelo qual continuariam a votar nele mesmo com os problemas da liderança apresentados durante o mandato.
Desde o discurso de posse de Trump, seu foco é manter a lealdade de sua base de apoio, não tentar aumentá-lo. Por mais contraintuitivo que possa parecer, essa seria possivelmente uma estratégia política vencedora.
Em primeiro lugar, Trump sabe que ter o apoio da maioria dos eleitores não é um requisito nas eleições presidenciais; é só uma vontade. Na realidade, dois dos últimos três presidentes foram eleitos mesmo perdendo os votos populares.
Segundo, o declínio contínuo do apoio aos dois partidos políticos funciona a favor de Trump. A falta de fé dos eleitores nos dois partidos aumenta a possibilidade de existência de um candidato de um terceiro partido para 2020. Outros candidatos menores podem se juntar à corrida presidencial. Um campo com vários candidatos vai dividir os votos contrários a Trump, fazendo com que seja possível que ele se reeleja apenas mantendo seu apoio atual.
O terceiro ponto é que Trump entra na corrida com uma taxa de aprovação melhor do que as pesquisas nacionais atuais sugerem. Durante a eleição de 2016, muitos especialistas acompanharam as pesquisas nacionais, mas falharam em captar a força de Trump em alguns estados chave.
Pesquisas atuais continuam mascarando o apoio ao presidente. Muitas dessas pesquisas consideram todos os eleitores, não apenas os registrados ou que possivelmente vão participar da eleição, o que subestima Trump. Além disso, alguns eleitores são relutantes em admitir que são a favor de Trump. E já sabemos que Trump consegue expandir seus votos demonizando seus oponentes.
Em quarto lugar, o apoio a Trump permanece com um grupo central de apoiadores. Esses são os eleitores aos quais Trump se referia quando disse que poderia parar no meio da Quinta Avenida e dar um tiro em alguém que não perderia votos. Existe ainda um grupo de seguidores cujo apoio não é inequívoco, mas que permanecem com ele porque eles ainda acreditam que ele vai transformar o sistema e trazer uma mudança real.
Para manter sua base, Trump vai continuar apoiando o conflito, que provavelmente vai solidificar sua taxa de aprovação historicamente baixa. Trump não consegue vencer uma corrida entre duas pessoas dessa maneira. Mas pode ganhar se estiverem correndo vários candidatos independentes fortes.
Então, para democratas e outros que quiserem ganhar de Trump: se unir em apenas um candidato é essencial. Ainda: Trump precisa de Michigan, Pennsylvania e Wisconsin para ganhar em 2020. Devem começar os esforços para diminuir o apoio do presidente nesses estados.
Seria um grande erro assumir que Trump não pode se reeleger em 2020, assim como foi não acreditar que ele se tornaria presidente em 2016.
*Sosnik, um estrategista político democrata, foi conselheiro sênior do presidente Bill Clinton de 1994 a 2000.
Leia o artigo de Marc A. Thiessen para o Washington Post.
Publicado por Ideias em Quinta-feira, 21 de setembro de 2017
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