O presidente Donald Trump atingiu a marca dos 2 mil.
Apenas 10 dias antes de completar seu um ano como presidente, Trump já havia feito 2001 afirmações falsas ou enganadoras em 355 dias, de acordo com nossa base de dados que analisa, classifica e rastreia toda declaração suspeita feita pelo presidente. Uma média de mais de 5,6 afirmações por dia.
Quando começamos esse projeto, originalmente buscando acompanhar os primeiros 100 dias do presidente, ele fazia em média 4,9 afirmações diárias. Naquele ritmo, parecia improvável que o presidente atingisse a marca de 2 mil em um ano. Mas, quanto mais tempo ele passa no cargo, mais frequentemente ele tem divulgado uma série de afirmações exageradas, dúbias ou falsas.
Como os leitores mais habituais sabem, o presidente tem uma tendência de se repetir – frequentemente. Já há quase 70 afirmações que ele repetiu três ou mais vezes. De fato, Trump cruzou a marca de 2 mil durante sua discussão de uma hora no dia 9 de janeiro com seus legisladores sobre imigração, utilizando algumas das suas favoritas afirmações sobre o assunto:
- “Nós podemos construir o muro em um ano e nós podemos construir com muito menos dinheiro do que eles estão dizendo.”
- Na loteria dos vistos, “o que está nas mãos deles é o pior do pior, mas eles colocam pessoas que não querem em uma loteria e os Estados Unidos aceitam essas pessoas.”
- “Nós temos números absurdos de pessoas e drogas entrando em nosso país. Então para mantermos a segurança [da fronteira] precisamos de um muro.”
Na verdade:
- Sob nenhuma circunstância o muro com a fronteira mexicana pode ser construído em apenas um ano. Esse é um projeto de pelo menos quatro anos que poderia custar 25 bilhões de dólares.
- As pessoas se inscrevem no sistema de vistos e devem ter pelo menos um diploma de ensino médio ou trabalharem em indústrias específicas para serem elegíveis ao programa. Como o termo “loteria” sugere, os requerentes são selecionados através de um sorteio aleatório feito por computador. Os requerentes selecionados passam então por uma verificação de antecedentes antes de entrarem no país, e alguns requerentes ainda passam por uma revisão aprofundada da verificação caso sejam considerados um risco à segurança.
- O muro praticamente não terá um efeito nas drogas que entram no país. De acordo com relatórios do DEA (Drug Enforcement Administration, o departamento de combate às drogas dos EUA), a maioria das drogas são contrabandeadas através de portos legais de entrada ou por túneis subterrâneos.
A afirmação de Trump sobre o contrabando de drogas e o muro já foi repetida por ele 17 vezes, embora a tenhamos classificado como Quatro Pinóquios (escala de um a quatro que mede o nível de inverdade de uma afirmação). Em apenas dois meses, ele descreveu a loteria da diversidade de forma falsa 12 vezes. E é claro que construir o muro era sua marca registrada desde o começo de sua campanha presidencial, quando ele consistentemente subestimou o custo.
Nós temos atualmente um empate para as afirmações mais repetidas de Trump, ambas feitas 61 vezes. Tais afirmações datam do início da presidência e em grande medida foram desaparecendo dos seus pontos de conversação.
Uma dessas afirmações era uma variação da declaração de que o Lei de Saúde Acessível, o “Obamacare”, está morrendo e está “basicamente morta”. O Escritório de Orçamento do Congresso disse que as transferências do Obamacare, apesar de alguns problemas conhecidos, não estão implodindo e devem se manter estáveis no futuro próximo. Realmente, o ingresso de pessoas saudáveis para este ano surpreendeu especialistas em saúde. Trump costumava falar muito sobre isso, mas ficou mais quieto desde que seus esforços para revogar a lei não deram certo.
Trump também repetidamente assume o crédito por eventos ou decisões de negócios que aconteceram antes de ele ter assumido o cargo – ou antes mesmo de ter sido eleito. Sessenta e uma vezes ele se gabou de ter assegurado investimentos de negócios e divulgado vagas de emprego que haviam sido anunciadas anteriormente e podiam ser facilmente encontradas em uma pesquisa do Google.
Com o exitoso empurrão no Congresso para passar o plano de impostos, dois dos assuntos favoritos de Trump sobre tributos – que o plano de impostos vai ser o maior corte de taxas na história americana e que os Estados Unidos são um dos países que mais cobram impostos – subiram rapidamente na lista.
Trump repetiu 55 vezes a mentira sobre ter o maior corte de impostos, mesmo que os dados do Departamento do Tesouro mostrem que o corte ficaria em oitavo lugar quando comparado aos anteriores. E Trump afirmou 59 vezes que os Estados Unidos pagam os maiores impostos corporativos (26 vezes) ou que esse é um dos países que mais cobra impostos (33 vezes). A última é falsa; a primeira é enganadora, uma vez que a taxa efetiva dos impostos corporativos dos EUA (o que as empresas acabam pagando após deduções e benefícios) acaba sendo menor do que a taxa de imposto legal.
Nós também rastreamos as mudanças de opinião do presidente em nossa lista, já que elas são gritantes. Ele passou a campanha em 2016 dizendo a seus apoiadores que a taxa de desemprego era de quase 42% e as estatísticas oficiais eram falsas; agora, em 47 ocasiões ele saudou a menor taxa de desemprego em 17 anos. Ela já era muito baixa quando ele foi eleito – 4,6%, a mais baixa em uma década – então a falha dele em reconhecer isso é enganadora.
Em surpreendentes 91 vezes, Trump celebrou o aumento no mercado de ações – embora durante sua campanha ele repetidamente tenha dito que era uma “bolha” que estava prestes a quebrar assim que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, começasse a aumentar as taxas de juros. Bom, o Fed aumentou as taxas de juros quatro vezes desde a eleição – e ainda assim o mercado de ações não quebrou conforme Trump havia previsto. Os preços das ações continuaram a subida iniciada durante o governo do presidente Barack Obama em 2009. De novo, Trump nunca explicou sua mudança de posição sobre o mercado de ações, tornando enganadora a sua consistente torcida.
Além disso, o aumento no mercado de ações em 2017 não foi único e refletiu um aumento global das ações. Ao olhar para o índice das 500 ações mais importantes da Standard & Poor's, é claro que as ações dos EUA não se recuperaram tão fortemente quanto suas equivalentes estrangeiras. O ganho de porcentagem no S&P 500 durante o primeiro ano de Obama ainda supera os números de Trump - embora qualquer presidente que se vanglorie do desempenho do mercado de ações logo descubra que esse é um jogo de tolos.
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