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Presidente Donald Trump: comentários ofensivos sobre a vida pessoal do republicano têm sido feitos desde que ele assumiu a Casa Branca  | ROBYN BECK/AFP
Presidente Donald Trump: comentários ofensivos sobre a vida pessoal do republicano têm sido feitos desde que ele assumiu a Casa Branca | Foto: ROBYN BECK/AFP

Assim como grandes veículos, entidades midiáticas pequenas como o nosso jornal no Sudoeste de Ohio são criticadas como injustas ou parciais com frequência. 

Um exemplo: anos atrás eu era editor de outro pequeno jornal quando o congressista local se irritou com nossas colunas e editoriais. Ele pediu uma reunião comigo e com nosso publisher e trouxe com ele vários dos anunciantes importantes. A mensagem era muito clara. 

Felizmente, o publisher se manteve firme, e nós continuamos exercendo nosso direito de descrever o que víamos. E não usamos nossas páginas para nos mostrar como mártires da Primeira Emenda. Publicamente, nós ignoramos o incidente. 

Eu já consigo ouvir algumas pessoas falando "mas não é a mesma coisa do que ser atacado diariamente pelo presidente dos EUA". Em certo sentido, pode ser até pior. O aquário onde a maioria dos pequenos jornais opera pode fazer com que os ataques dos poderosos locais seja muito intimidador. 

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Infelizmente, quando o presidente Donald Trump acusa a grande mídia de contar notícias falsas, os jornalistas acusados frequentemente não ignoram ou lidam com isso internamente. Ao contrário, eles reagem publicamente, com as veias inchadas quase saltando pela pele. 

Como a mídia, assim como o Congresso, tem um nível de aprovação ainda menor que do presidente, é difícil convencer os americanos a sentir nossa dor. A ausência de reação orgânica às críticas do presidente fora das redações ofendidas é a melhor prova do mérito das reclamações de Trump. 

Trump não merece uma cobertura favorável. O que ele merece é uma cobertura justa e honesta. Mas mesmo liberais não conseguem defender de cara limpa que ele está errado sobre a parcialidade da grande mídia. 

A cobertura midiática sobre a viagem internacional do presidente para a reunião do G-20 trouxe vários exemplos, com grandes veículos focando mais em minúcias – Ivanka se sentou na cadeira do presidente! – do que na substância, dando pouca atenção para os comentários poderosos que fez na Polônia e o acordo de cessar-fogo na Síria que ele fez com o presidente russo Vladimir Putin

Depois, a cobertura de ponta-a-ponta sobre a reunião entre Donald Trump Jr. e um advogada privada russa foi um esforço exagerado, considerando que ninguém encontrou evidências que provem que alguma informação substancial foi trocada entre eles e que não houve desdobramentos da história. Mas era outra oportunidade de repetir "Rússia, Rússia, Rússia", as palavras mágicas que a mídia espera que afastem o atual monstro. 

Durante sua visita à Polônia, Trump respondeu uma pergunta sobre a mídia com a mesma resposta que sempre dá, "notícias falsas", mas seus comentários foram recebidos com muita desaprovação. "Como ele ousa falar sobre a mídia no exterior?", reclamaram repórteres. 

Quando a grande mídia explode com som e fúria shakespearianos, os conservadores coçam a cabeça. O canal favorito deles, o Fox News, foi alvo de deboche durante anos, inclusive de presidentes, com pequena objeção de outros veículos. O canal sempre reage com leveza ou até ignora os comentários. 

Mas não a CNN. O tweet de Trump na internet sobre a logo do canal foi feio, mas inofensivo. A CNN reagiu como se Trump tivesse ateado fogo em sua redação. Os americanos ficaram então sujetos aos sermões da CNN e outros veículos de comunicação sobre como isso caracterizava ataques à Primeira Emenda e incitação da violência. Isso não faz sentido. 

Os comentários de Trump sobre a apresentadora da MSNBC, Mika Brzezinksi, foram pesados, mas o programa "Morning Joe" tem feito comentários ofensivos sobre a vida pessoal de Trump por muito tempo. Goste ou não, Trump será Trump. Ao invés de acabar com isso, "Morning Joe" fez com que o contra-ataque fosse o foco do programa, mais uma vitória para um presidente que adora provocar respostas. 

Veículos de imprensa, de cidades grandes ou pequenas, não são sinônimos de Primeira Emenda. Nós somos organizações que dependem da Primeira Emenda para fazer nosso trabalho, mas isso dificilmente faz das críticas a nós – mesmo ataques agressivos do presidente dos Estados Unidos – fora dos limites. 

Nesse aspecto, a grande mídia pode aprender algumas lições com a mídia independente. Quando eu respondi acusações de imparcialidade ao longo dos anos, minha resposta não era fazer um chororô sobre a crítica, mas apontar exemplos da cobertura que eu acreditava que contradiziam as reclamações. Eu não vejo muitos veículos fazendo isso em resposta ao presidente. 

Se chegar o dia em que membros da grande mídia provarem que o presidente está errado com evidências de seu trabalho, os ataques de Trump perderão força. Mas esse dia ainda não chegou.

*Gary Abernathy é publisher e editor do Times-Gazette, jornal de Hillsboro, Ohio. Ele já fez parte da direção do Partido Republicano em Ohio e na Virgínia Ocidental, além de ter atuado como consultor político e representante distrital dos senadores Rob Portmann e George Voinovich, ambos republicanos.

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