A espiral de escândalos que o governo Donald Trump está vivendo desde que decidiu demitir o diretor do FBI escancara um grave problema de governabilidade, com consequências imprevisíveis. Mas, mesmo sem a clareza sobre o desfecho da trama política americana, algo parece estar certo: Trump está perdendo a guerra da comunicação. Pela primeira vez desde que se lançou candidato o magnata vê sua estratégia de apelar para a polêmica e para cortinas de fumaça sem eficácia.
Encurralado, Trump reagia de maneira semelhante: desacreditava os fatos, atacava seus opositores, intensificava mais ainda o politicamente incorreto que choca metade dos EUA e quase a totalidade do mundo e apela para novos temas polêmicos para criar novas narrativas. A estratégia do "gato morto sobre a mesa", ou colocar a cada dia um bode diferente na sala, deu resultados e ajudou Trump a controlar o ciclo da notícia, ponto crucial de sua vitória.
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No momento mais pressionado de sua campanha, quando vídeos mostrava seu comportamento chulo com mulheres - algo que não seria aceito por ninguém, mas que ele conseguiu se safar mesmo entre o eleitorado mais religioso e puritano - Trump jogou todos na vala comum, levando mulheres que acusavam Bill Clinton de assédio a um debate presidencial.
O teflon acabou
No começo do governo, quando a nebulosa relação de sua campanha com a Rússia começava a cobrar parte do parco capital político do presidente eleito sem a maioria do voto popular, Trump acusou Barack Obama de espionagem e levantou severas dúvidas sobre o sistema eleitoral que o elegeu. Exemplos não faltam.
Mas agora não adiantou o morador da Casa Branca ter escalado Jeff Sessions para anunciar um forte recrudescimento da guerra contra as drogas: o debate nacional seguiu monopolizado pelas suspeitas, cada vez mais aceita pela maioria dos americanos, das relações espúrias entre o magnata e o Kremlin.
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Ao mexer com questões sagradas como estar subserviente aos russos, afetar a credibilidade e a independência do FBI e fazer a Casa Branca mentir de forma contumaz, Trump pode ter dado um passo grande demais até para ele, raro caso de "teflon" político, visto que foi eleito rasgando todos os manuais eleitorais.
Se o governo Trump já estava marcado pela falta de ambição em promover sua agenda, agora está totalmente paralisado pelos fatos. Trump se mostra cada vez mais enfraquecido. Os republicanos sabem disso e esperam o momento certo para abocanhar o governo de alguém que nunca compartilhou realmente de seus ideias conservadores, o que pode gerar ainda mais problemas para a Casa Branca. Ao que parece, fica cada vez mais difícil resolver as coisas com simples tuítes.
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