Que segredo vale ser mantido por quase 54 anos depois de aqueles tiros terem sido disparados em Dealey Plaza?| Foto: KKH/TY HO

Até o final deste ano – a não ser que o presidente Donald Trump interfira – o povo americano terá acesso aos últimos de milhares de documentos secretos do governo sobre um ponto decisivo da história do país: o assassinato do presidente John F. Kennedy em 1963. 

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Os Arquivos Nacionais divulgaram nos últimos dias centenas de documentos, que vieram de arquivos da CIA e do FBI, e, claro, pesquisadores do caso estão dissecando-os para ver se eles apresentam novas pistas sobre o assassinato do presidente. Mas muitos outros documentos permanecem protegidos, esperando para serem liberados até outubro, quando se encerra o prazo de 25 anos estabelecido pela lei de 1992 chamada Kennedy Assassination Records Collection Act. 

A lei determina que apenas uma pessoa – o presidente – pode impedir que os documentos sejam divulgados. O presidente pode impedir apenas se ele declarar por escrito que os documentos oferecem risco à segurança nacional. 

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Nós sabemos que falamos por um batalhão de historiadores, cientistas políticos, jornalistas e cidadãos interessados que estudaram o assassinato de JFK quando afirmamos que está na hora do governo federal divulgar tudo que está nos arquivos

A lei de 1992 já trouxe um pouco de transparência. Ela resultou na liberação de milhões de páginas de documentos acerca do assassinato, incluindo os 441 arquivos da CIA e do FBI que se tornaram públicos. Mas outros 3.150 documentos permanecem totalmente secretos, juntamente com milhares de páginas que foram liberadas parcialmente porque agências de inteligência e segurança se opuseram à sua liberação na década de 1990. 

Pressão

Esses são os documentos que Trump poderiam tentar manter secretos. E, infelizmente, ele parece sob pressão para isso. Nós escrevemos livros sobre o assassinato e mantemos um grande interesse no que o presidente decidir. Membros do governo e do Congresso nos alertaram, sob sigilo, nas últimas semanas que pelo menos duas agências federais farão pedidos formais à Casa Branca para bloquear a liberação de alguns documentos. 

Quais agências? Quais documentos? Eles não disseram, mas já sabemos que a CIA, o FBI e o Departamento de Justiça prepararam a maioria dos documentos que ainda são secretos. Se essas são as agências contestando, o presidente estaria preparado para rejeitá-las em nome da transparência? 

Em se tratando do assassinato de JFK, que segredo vale ser mantido por quase 54 anos depois de aqueles tiros terem sido disparados em Dealey Plaza? Na década de 1990, agências de inteligência podem ter conseguido argumentar com legitimidade que alguns documentos precisavam ser mantidos em segredo porque revelavam a identidade de espiões e informantes que ainda estavam vivos e poderiam ser colocados em risco se os seus disfarces fossem revelados. 

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Mas décadas depois, a lógica indica que quase todas aquelas pessoas estão mortas; se algumas ainda estiverem vivas, podem ser tomadas provisões para protegê-las, se necessário. O que permanece hoje é uma crença geral entre os americanos de que a verdade sobre um momento de referência na história nacional ainda está sendo mantido em segredo. 

Investigação falha

Quase no mesmo momento em que a Comissão Warren divulgou sua descoberta de setembro de 1964 de que Lee Harvey Oswald matou o presidente Kennedy e que não havia evidências de uma conspiração, se tornou claro que a investigação liderada pelo Chefe de Justiça Earl Warren tinha grandes falhas. Em grande parte, isso se deu porque a CIA, o FBI e outras agências retiveram evidências da comissão e sua equipe investigativa, aparentemente para encobrir os seus próprios erros antes do assassinato. 

A evidência não aponta necessariamente para uma conspiração pela morte de Kennedy – pelo menos não o tipo de enredo obscuro e complexo imaginado por muitos teóricos. Mas a comissão deveria ter analisado com mais profundidade a viagem misteriosa de seis dias de Oswald para a Cidade do México dois meses antes do assassinato, onde ele se reuniu com membros do alto escalão das embaixadas cubana e soviética. Apesar da ciência forense do século 21 mostrar com alguma certeza que Oswald foi o único atirador em Dallas, é possível que pessoas no país ou no exterior soubessem que ele estava planejando matar Kennedy e podem ter encorajado-o – por definição, co-conspiradores. Ou, no mínimo, eles não impediram Oswald. 

Desconfiança tóxica

No final da década de 1960, pesquisas de opinião mostraram que, em grande parte graças às falhas da Comissão Warren, a maioria dos americanos rejeitavam a história oficial. O que aconteceu nas décadas seguintes é compreensível, mas tóxico. Grande parte do público começou a presumir que se o governo não contava a verdade sobre o assassinato do presidente, não seria possível esperar que contasse a verdade sobre nada – por exemplo, a mudança climática causada pelo homem ou a segurança de vacinas para crianças. 

Trump, acostumado a disseminação de teorias de conspiração, tem uma chance de mostrar que está comprometido a resolver uma das maiores teorias de conspiração da política americana. Esperamos que ele abrace essa oportunidade. Se os documentos dos Arquivos Nacionais forem divulgados integralmente, o presidente receberá crédito por dar um golpe de transparência e, pelo menos nessa questão, tentar mostrar que o governo não tem mais o que esconder.

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