Hillary Clinton dormiu lá.
Foi em 2000. Ela estava em meio a sua primeira campanha política, disputando uma cadeira no Senado por Nova York.
Steven Spielberg, um de seus doadores mais entusiasmados, tinha direito ao uso de um apartamento na Trump Tower, comprado para ele pela Universal Pictures – mas como mal parava ali, apesar da vista fantástica do Central Park, ofereceu a acomodação à candidata, principalmente para os dias mais caóticos.
Na época, Donald Trump e Hillary Clinton mantinham uma boa relação: ele doara uma quantia para sua candidatura e dizia que era "durona e esperta". Mais que isso, já era especialista na arte de se aproveitar da associação que tinha com as celebridades em nome da publicidade.
E se valia dela principalmente na Trump Tower.
Johnny Carson, Liberace e Paul Anka tiveram apartamentos ali nos anos 80; Michael Jackson alugou um na década de 90. Em 2000, Bruce Willis se acomodou por lá também.
A notícia, surgida antes da inauguração, de que o príncipe Charles e a princesa Diana morariam ali provou ser falsa – o que não impediu que Trump a usasse para levar vantagem. "A venda, que nunca chegou a se concretizar, foi a que mais ajudou a impulsionar a Trump Tower", disse ele em "A Arte da Negociação".
O edifício, localizado na Quinta Avenida, 721-725, foi aberto ao público em 14 de fevereiro de 1983, quando o homem que se tornaria o 45º presidente estava começando a se fazer notar. Tinha 58 andares, mas isso não impediu que o incorporador o promovesse como se fossem 68, para desespero do arquiteto responsável pelo projeto, Der Scutt. Do térreo ao 19º andar havia apenas escritórios; o primeiro piso residencial, no 20º, era registrado como sendo o 30º.
Com um átrio grandioso, feito principalmente de mármore italiano, e inquilinos comerciais que eventualmente incluíram a Gucci, a joalheria Landau e a Trump Store, o prédio não é exatamente acolhedor. "Quando vivíamos ali, eu tinha a impressão de que os apartamentos eram mais para investimento. Não havia quase moradores em tempo integral", conta Marina Fareed, que morou na torre recentemente com o marido, o diplomata paquistanês Qazi Shaukat Fareed.
A conclusão de um arranha-céu imponente na região comercial exclusiva de Midtown solidificou o poder de Trump em Nova York – e também serviu para diferenciá-lo de seu pai, Fred, que fez fortuna construindo apartamentos para a classe média nas regiões mais distantes de Manhattan.
"Não são muitos os filhos que conseguem escapar da sina dos pais", disse Donald ao New York Times, em 1983.
Até se mudar para a Casa Branca, em janeiro, ele sempre morou no prédio – ou, mais especificamente, no triplex de cobertura, que se calcula ter mais de 930 m². Um elevador particular ligava Trump ao seu escritório, no 26º andar, onde tocava os negócios da organização que leva seu nome.
Durante o resto da década de 80, Trump viveu no tal palacete com a mulher, Ivana, e os filhos, Donald Jr., Ivanka e Eric. Nos anos 90, depois de um divórcio acompanhado de perto pelos tabloides e uma cerimônia realizada ali perto, no hotel Plaza, à qual compareceram Howard Stern e O.J. Simpson, passou a dividi-lo com a segunda mulher, Marla Maples, e a filha deles, Tiffany.
Em 2001, dois anos depois de se divorciar novamente, foi a vez de Melania Knauss se mudar. Ela e Trump se casaram em 2005, e o filho deles, Barron, nascido em 2006, ganhou um andar inteiro, com aposentos para a mãe e a babá. (Mãe e filho se mudaram para a Casa Branca em junho.)
A ideia de erguer um edifício glamouroso e moderno no lugar da loja Bonwit Teller, de doze andares, construída para abrigar a Stewart & Co., em 1929, surgiu em 1978. Na época, Donald estava reformando o antigo Hotel Commodore, que se tornou o Grand Hyatt, perto do Grand Central Terminal. A construção teve início em 1980 e o homem que lhe emprestou o nome logo revelou ser alguém sem o mínimo pudor de encarnar o vilão.
Depois de declarar sua intenção de doar os painéis em relevo que retratavam um grupo de mulheres dançando ao Museu Metropolitano de Arte, que os queria para sua coleção de esculturas, os operários começaram a demolir as placas de calcário de duas toneladas, o que resultou em uma enxurrada de publicidade negativa. Edward I. Koch, que na época era o prefeito, condenou Trump por "ignorar os interesses da cidade". Em seu editorial, o New York Times disse que ele parecia estar competindo "para tentar ganhar um prêmio estupendo de impopularidade".
Nunca afeito a desculpas, disse à revista New York que as críticas só o ajudaram a vender mais unidades. "Foi uma promoção fantástica", comemorou.
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Quando a Trump Tower foi inaugurada, mais da metade dos conjuntos e apartamentos já tinha sido vendida, e praticamente todo o resto foi adquirido nos anos seguintes. O próprio Paul Goldberger, então crítico de arquitetura do New York Times – a quem Trump uma vez se referira como "idiota" –, parecia surpreso por ter apreciado tanto a obra.
"Se excesso de publicidade e seguranças com jeito de janota não fazem um bom prédio, pelo menos não o denigrem. A Trump Tower prova ser uma adição muito mais positiva à paisagem urbana do que apostavam os especialistas e críticos de plantão", ele escreveu.
Entretanto, embora Trump tenha se autodenominado o "candidato da ordem pública", em 2016, o edifício que leva seu nome recebe aqueles que têm problemas com a lei de braços abertos.
"Até os criminosos têm que morar em algum lugar", disse Robby Browne, corretor do Grupo Corcoran.
Joseph Weichselbaum, executivo de uma empresa de helicópteros que levava os jogadores para apostar nos cassinos de Trump, em Atlantic City, o conhecia muito bem. Sua empresa também cuidava do Super Puma que o magnata possuía, no valor de US$10 milhões.
Depois de acusado de tráfico de drogas, Weichselbaum alugou um apartamento de propriedade de Trump, no edifício Trump Plaza, na East 61st Street – que chegou a escrever uma carta para o juiz responsável pelo caso, descrevendo-os como "um crédito para a comunidade", pouco antes de o empresário se confessar culpado e pegar três anos de cadeia.
Em 1990, depois de cumprir pena no Centro Correcional Metropolitano, no Baixo Manhattan, Weichselbaum foi morar nos apartamentos contíguos do 49º andar da Trump Tower, que tinham sido comprados pela mulher com quem estava na época. Mudou-se de lá em 1994 e nunca mais teve problemas com a justiça desde então.
Outro morador famoso foi Jean-Claude Duvalier, o ex-ditador haitiano deposto por uma revolta popular, em 1986. Ele adquirira um apartamento no valor de US$2,5 milhões através de uma empresa panamenha.
Desde que a carreira política de Trump decolou, há dúvidas quanto sua possível relação com a Rússia. Em janeiro deste ano, ele declarou no Twitter: "Não tenho nada a ver com a Rússia, nem contratos, nem financiamentos, nada!".
Só que, em 2002, a sede do Grupo Bayrock, um fundo de investimentos imobiliários administrado pelos empreendedores russos Tevfik Arif e Felix Sater, se mudou para um dos escritórios do 24º andar da Trump Tower, onde começaram a trabalhar na futura Trump SoHo e usaram seus conhecimentos para explorar uma possível obra de Trump em Moscou.
Em 2006, Sater se hospedou com Donald Trump Jr. e Ivanka em Moscou, de frente para o Kremlin; no ano seguinte, o New York Times anunciou que Sater tinha sido condenado por agressão e admitiu ser culpado por comandar um esquema que as autoridades chamam de "pump and dump", ou seja, a compra de grandes pacotes de ações de quatro empresas para, a seguir, inundar o mercado com informações falsas e enganosas sobre elas.
Ele evitou ser preso por ter se tornado informante do governo e, segundo a ex-Procuradora-Geral Loretta Lynch, forneceu informações secretas cruciais sobre diversos sindicatos internacionais criminosos.
Recentemente, Trump também vem tentando se distanciar de outro morador da Trump Tower que tem ligações com interesses russos – e que além de ter a escritura de um apartamento no 43º andar, desde 2015, foi, durante vários meses do ano passado, diretor da campanha presidencial de seu senhorio.
Seu nome: Paul Manafort.
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