Desde que o jornal ‘Washington Post’ revelou que o presidente americano Donald Trump deu de mão beijada aos russos informações sigilosas sobre planos terroristas do Estado Islâmico, a Casa Branca caiu. Ainda mais com a suspeita de que a demissão de James Comey tenha sido motivada pela recusa deste em abandonar uma investigação sobre seu ex-conselheiro nacional de segurança Michael Flynn.
Parte da imprensa e da oposição — e alguns republicanos também — tratam o caso como mais grave até que o Watergate e pedem o impeachment.
“Mesmo antes de chegar ao fundo dessa "coisa com a Rússia", como chamou Trump, ofensas passíveis de impeachment já poderiam ter sido denunciadas desde o começo de sua presidência. Mas a realidade política fez com que o impeachment parecesse prematuro. Não mais”, defende Laurence Tribe, professor na Carl M. Loeb University e professor de Direito Constitucional na Harvard Law School.
Pode-se argumentar que esta é a opinião de um acadêmico. Mas o próprio Partido Republicano está se movendo. Na noite de terça-feira (16), o presidente da Comissão de Supervisão e Reforma da Câmara, o republicano Jason Chaffetz, pediu ao FBI para ter acesso ao suposto memorando confidencial, segundo o qual, de acordo com o “New York Times”, Trump teria pedido ao então chefe da agência, James Comey, demitido na semana passada, que “abandonasse” uma investigação sobre Michael Flynn.
Pela primeira vez desde que se lançou candidato, o magnata vê sua estratégia de apelar para a polêmica e para cortinas de fumaça sem eficácia. É o que diz esta análise, que mostra como ao mexer com questões sagradas como estar subserviente aos russos, afetar a credibilidade e a independência do FBI e fazer a Casa Branca mentir de forma contumaz, Trump pode ter dado um passo grande demais até para ele, raro caso de "teflon" político.
O primeiro efeito visível de um Trump mais vulnerável é o desespero entre seus assessores. Uma reunião de emergência foi feita entre o criador do site Breitbart, Steve Bannon, o diretor de Comunicações da Casa Branca, Michael Dubke, Sean Spicer e a vice-secretária de Imprensa, Sarah Sanders. Um dos correspondentes do BuzzFeed na Casa Branca, Adrian Carrasquillo, revelou que jornalistas no corredor poderiam ouvir “gritos vindos da sala onde os funcionários estavam”. Minutos depois, TVs foram ligadas, em alto volume numa aparente tentativa de disfarçar o barulho.
Aos trancos e barrancos, o governo Trump vai se defendendo como pode. James Mattis, secretário de Defesa, afirmou que não está "preocupado" que o presidente Donald Trump tenha divulgado informações confidenciais a autoridades russas. Embora tenha admitido não ter detalhes sobre a conversa que Trump teve com as autoridades russas durante a visita do ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, à Casa Branca na semana passada. A Casa Branca defendeu as conversas de Trump com os russos, ao afirmar que elas foram "totalmente apropriadas".
Trump, obviamente, defendeu o conteúdo de seu papo com os russos. “Como presidente, quis compartilhar com a Rússia (em um evento aberto da Casa Branca), como é meu direito absoluto, fatos sobre terrorismo e segurança aeronáutica", expressou Trump em uma série de tuítes.
A verdade é que não existe consenso se o que Trump fez pode ser considerado crime ou não. "Não acho que tenha feito nada ilegal. No geral, o presidente tem o poder de 'desclassificar' material. Mas seria possível alegar que foi descuidado. O fato de que se tenha autoridade legal para fazer algo não significa que o que você faz está certo", explicou a professora de Direito Cristina Rodríguez, da Universidade de Columbia.