Apesar da vigência da Lei Seca desde 2008, uma pesquisa do Ministério da Saúde apontou que 1 em cada 4 brasileiros admitiram dirigir depois de consumir bebida alcoólica em 2015. O dado é especialmente preocupante porque, de acordo com o Ministério, a cada 15 minutos uma pessoa morre em um acidente de trânsito no Brasil.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, no Brasil há 19,7 mortes associadas ao trânsito, por ano, para cada grupo de 100 mil habitantes. O número é superior ao observado em países como Estados Unidos (12,4), Canadá (5,8) e Alemanha (4,1). A média também supera países da América Latina, como Argentina (14), Chile (12,5) e Colômbia (18,5).
A boa notícia é que a entrada dos aplicativos de mobilidade urbana no mercado brasileiro está reduzindo a quantidade de mortes no trânsito associadas ao consumo de álcool. É o que mostrou um artigo inédito no Brasil, elaborado pelos economistas Yuri Barreto, Raul Silveira Neto e Luís Carazza, da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Rural de Pernambuco.
Uber no Brasil diminuiu hospitalizações e mortes no trânsito
O impacto da entrada da Uber no Brasil é relevante. Afinal, o país é o segundo maior mercado consumidor da empresa no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. No fim de 2018, a plataforma tinha mais de 600 mil motoristas e 22 milhões de usuários cadastrados no país. Além disso, desde o início das operações do aplicativo no Brasil, em 2014, foram realizadas mais de 2,6 bilhões de viagens.
O levantamento estimou que, considerando os dados sobre hospitalizações do SUS entre 2011 a 2016, houve uma redução de 10% nas taxas trimestrais de mortalidade no trânsito nas cidades brasileiras. Isso significa uma redução média de até 1,5 mortes a cada três meses, considerando a população média das cidades analisadas.
A quantidade de hospitalizações em virtude de acidentes automobilísticos também caiu nos municípios após o início do funcionamento do aplicativo. A queda foi de 17%.
O estudo apontou que, à medida que o aplicativo se popularizou, essa tendência de menos hospitalizações e mortes em acidentes de trânsito aumentou.
A explicação mais provável para isso é o fato de o público predominante deste tipo de aplicado ser formado por jovens, que o usam para realizar deslocamentos a lazer. No Brasil, há uma associação entre lazer e consumo de álcool.
Dessa forma, ao que tudo indica os motoristas mais inexperientes e alcoolizados acabaram substituídos por motoristas mais experientes e totalmente sóbrios, o que contribuiu a redução nos acidentes.
Apesar de ser um artigo preliminar, o fato de os números não indicarem aumento de mortes não relacionadas ao trânsito no período aumenta a confiança das estatísticas encontradas.
Nos EUA os números contam outra história
Mas os resultados no Brasil foram diferentes dos encontrados em estudos semelhantes anteriormente realizados em cidades norte-americanas.
Esses estudos também demonstraram que aplicativos de mobilidade urbana diminuíram os acidentes e as mortes relacionadas a motoristas que dirigiam bêbados. Mas nos Estados Unidos o que se viu foi outro fenômeno que ocorreu simultaneamente: as vítimas totais no trânsito aumentaram porque a quantidade de automóveis em circulação também aumentou. A explicação para isso é que muitos indivíduos substituíram o transporte público e coletivo por automóveis de passeio, que se envolvem em acidentes com maior frequência.
Isso não ocorreu no Brasil. Segundo os pesquisadores, há diversos motivos associados às diferenças socioeconômicas presentes em países em desenvolvimento, entre eles estão a desigualdade de renda, menos carros per capita e condições de infraestrutura urbana e de fiscalização menores.
Menos acidentes de trânsito contribui para governo economizar
Além da dor causada pelas perdas de vidas no trânsito, o custo econômico por causa dos acidentes de trânsito é muito alto no Brasil. Como o SUS atende a mais de 70% da população brasileira, isso significa que a maior parte dos acidentes de trânsito acabam gerando despesas para os cofres públicos.
Em 2016, houve 33.347 mortes e 28.032 de casos de invalidez permanente em virtude de acidentes automobilísticos. Segundo o Ministério da Saúde, houve naquele ano 180.443 internações pelo SUS que custaram R$253,2 milhões aos pagadores de impostos.
Mas os prejuízos não param por aí: há despesas com seguros de veículos, perda de carga, danos à infraestrutura e como a improdutividade dos indivíduos que sofreram os acidentes. De acordo com um levantamento do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), da Escola Nacional de Seguros, o prejuízo com a violência no trânsito em 2016 foi de R$ 146,8 bilhões, o equivalente a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
A conclusão do estudo dos pesquisadores da Universidade de Pernambuco é que, além de uma alternativa de mobilidade urbana para uma parcela da população, os aplicativos de transporte podem contribuir para melhorar a segurança no trânsito das cidades brasileiras. Dessa forma, o aumento de segurança no trânsito proporcionado com a entrada da Uber no mercado acaba por salvar vidas e economizar o dinheiro dos pagadores de impostos.
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