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Freddie Sherrill no dia de sua formatura | Divulgação
Freddie Sherrill no dia de sua formatura| Foto:

Freddie Sherrill era sem-teto e viciado em álcool e drogas. Além disso, roubava os presentes deixados para os filhos na árvore de Natal para conseguir algum dinheiro. Comia os restos que encontrava em latas de lixo. Não sabia ler nem escrever.

Sherrill passou anos entrando e saindo de prisões e centros de reabilitação na Carolina do Norte. Uma vez, em uma noite fria, chegou a quebrar uma vitrine com um tijolo para que a polícia o pegasse e ele passasse a noite sob o teto da delegacia. Mas depois de uma jornada longa e dolorosa, Sherrill conseguiu escalar de volta para a sobriedade e até aprendeu a ler. Uma de suas maiores conquistas até agora é ter completado a graduação com um diploma de bacharel pela Universidade Queens de Charlotte no começo de maio. Sherrill está agora com 65 anos.

“Eu comecei muitas coisas que não terminei durante a minha vida”, ele disse. “Não queria que a graduação fosse mais uma dessas coisas”.

Dificuldades para ler

Os problemas de Sherrill começaram quando ele ainda era muito novo. Durante sua infância, nos anos 60, frequentou uma escola em Charlotte, mas teve muitas dificuldades para aprender a ler - situação da qual se envergonhava. Para distrair sua professora, costumava colocar tachinhas na cadeira dela ou até roubar dinheiro de sua bolsa.

Aos oito anos de idade, faltava aulas regularmente e roubava itens de lojas locais para alimentar a si e seus quatro irmãos mais novos. A casa da sua família estava tão acabada que, quando chovia do lado de fora, eles se molhavam dentro.

Sherrill passava seu tempo com adolescentes que lhe davam vinho e ele logo desenvolveu um problema com álcool. Logo depois veio o problema com as drogas. “Eu era uma criança tímida, mas quando comecei a beber isso desapareceu. Foi a primeira vez que me senti normal”, conta.

Ele começou a invadir casas e roubar bolsas e, quando era adolescente, começou a entrar e sair de prisões, centros de tratamento e casas de reabilitação. Isso continuou durante os seus 20 anos e chegou até o fim dos 30. Ele conta que roubava muito: “roubava dos meus vizinhos, roubei até roupas dos meus sobrinhos para vender”.

A virada

Ele se casou e teve filhos, mas foi um pai e um marido ausente. Um dia, em 1988, ele gastou seus últimos dólares para comprar uma garrafa de vinho, mas suas mãos tremiam tanto que ele a derrubou e ela se espatifou pelo chão.

“Eu chorava e tentava beber algo de dentro do vidro quebrado”, ele conta. 

Ele chegou a ir até uma ferrovia próxima com um revólver na mão e apontou a arma para sua cabeça. Ele puxou o gatilho, mas a arma não disparou. Sherril viu isso como um sinal. “Eu estava cansado de machucar todos que estavam ao meu redor”, conta. “Esse foi o começo”.

Nenhum dos centros de tratamento de Charlotte o aceitaram novamente. Mas uma assistente social achou uma casa de reabilitação em Morganton, também na Carolina do Norte. Com um recomeço, ele finalmente parou de beber e usar drogas.

Logo começou a limpar o jardim de uma senhora que o levaria para a Primeira Igreja Presbiteriana de Morganton. O pastor o contratou para trabalhar nos jardins e fazer outros pequenos trabalhos. Sherrill disse que o pastor foi o primeiro homem que confiou nele.

Sherrill se importava com essa confiança, e então começou a se importar consigo mesmo. Ele foi a um centro de letramento e começou a aprender do zero. “Eu passei muito tempo me arriscando em coisas erradas. Era hora de dar chance para as coisas boas”, afirma.

Depois de um tempo, ele convenceu sua esposa a se mudar para Morganton e trazer seus cinco filhos - dos quais duas estavam no ensino básico. Ele não conseguia nem ajudá-las com a lição de casa. “Eu comecei a ler livros infantis para elas, para praticar”, ele diz. “Elas conseguiam ler muito melhor que eu”.

Aos poucos, ele aprendeu a ler e escrever. Ele tentou fazer os exames de conclusão do ensino médio seis vezes até passar.

“Quando parei de beber e usar drogas, minha vida mudou. Como se eu fosse cego e agora pudesse ver. Eu queria ser um pai. Eu queria ser parte do mundo”. 

Ele nunca teve uma conta bancária, então seus amigos da igreja o ajudaram a abrir uma. “Hoje as crianças aprendem isso no primeiro ou segundo ano da escola. Tive que deixar minha vergonha para trás e admitir que eu não sabia fazer essas coisas”.

E ele queria também uma vida melhor para os seus filhos. “Eu estava determinado a não deixar que meus filhos acabassem como eu”.

O caminho para a universidade

Ele se mudou para Charlotte para trabalhar como um coordenador de organização de eventos para a Igreja Presbiteriana de Myers Park. Começou também a frequentar a universidade — e demorou oito anos para conseguir seu título.

Na época, seu filho estava terminando o ensino médio. Sherrill foi até a Universidade Queens para ajudar seu filho no processo de inscrição e pegar informações sobre possibilidades de financiamento. A equipe da universidade explicou o processo e incentivou que ele também se inscrevesse. Ele recusou, afirmando que estava muito velho, mas ajudou seu filho a se matricular.

Então ele teve uma ideia.

Ele queria garantir que seu filho continuasse na universidade, então inventou um desafio. Sherrill se matriculou e criou uma competição amistosa com o filho: quem tivesse a melhor média de cada semestre receberia US$ 100 do outro. “Eu estava desafiando meu filho para que ele não desistisse”, conta Sherrill.

Durante o processo, ele descobriu que gostava das aulas e se sentia bem estudando. Seu filho se formou em quatro anos e meio e é hoje um consultor financeiro. Sherrill precisou de oito anos, mas se formou no dia cinco de maio em estudos de serviços humanos. Agora ele quer encontrar um emprego que ajude crianças desamparadas. “Me sinto diferente”, ele conta.

Ele está sóbrio há 29 anos. E conseguiu um diploma. E ainda se maravilha por essas duas coisas. “É surreal. Ainda me belisco, às vezes não acredito que eu mesmo conquistei isso”, finaliza.

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