Um tiro no rosto deixou uma adolescente com tantos danos que por anos os médicos sabiam que cirurgias plásticas não lhe trariam de volta uma vida normal.
Em maio, a mulher, que agora tem 21 anos, se juntou a um grupo pequeno, mas em crescimento, de receptores de transplante de facial, segundo médicos anunciaram na terça-feira passada (18).
Para a mulher, agora a pessoa mais jovem do mundo a receber o transplante, foi “um presente incrível”.
“Chegar a esse ponto de recuperação tem sido muitas vezes um caminho difícil, mas eu sou grata que esse caminho existe”, disse a mulher em um depoimento no site do hospital. O hospital não revelou a sua identidade ou o nome da doadora.
O hospital não disponibilizou dados da mulher nem dos seus médicos para entrevistas. Pouca coisa foi tornada pública sobre a vida da paciente, seu ferimento ou o que a levou para a sala de operações na Cleveland Clinic.
Os médicos logo determinaram que ela seria uma candidata possível para um transplante facial devido à extensão dos seus ferimentos. Em outras cirurgias, eles tentaram preservar o máximo de veias e artérias, o que poderia ser crucial para um transplante bem sucedido.
Os médicos transplantaram 100% do tecido facial de uma doadora, incluindo pálpebras, nervos faciais e músculos, de acordo com informações publicadas pela Cleveland Clinic.
No total, 11 médicos foram envolvidos no procedimento de 31 horas. Os médicos esperam que os seus esforços restaurem mais do que tecido facial.
“Com um novo nariz, lábios, céu da boca, pálpebras e maxilar, ela agora tem uma oportunidade total de se reintegrar na sociedade e ter um futuro como qualquer jovem adulto”, diz Brian Gastman, que fez parte do time cirúrgico. “Essa cirurgia pode devolver a autoestima e autoconfiança que ela perdeu.”
Esse foi o terceiro transplante facial da clínica desde que o procedimento foi realizado pela primeira vez há mais de uma década, e o primeiro transplante facial completo feito por médicos em Cleveland, mais um avanço em uma das cirurgias mais raras do mundo.
“Nós percebemos que o risco valia a pena para dar a essa paciente um propósito, uma figura social e, finalmente, uma vida melhor”, diz Frank Papay, que codirigiu o time cirúrgico.
Para se prepararem, os cirurgiões ensaiaram com réplicas 3D e usaram simulações de realidade virtual.
Histórico
O primeiro transplante facial foi feito por médicos espanhóis, em 2005, em Isabelle Dinoire, uma mulher francesa que foi atacada por um cachorro, de acordo com a CNN. Medicamentos antirrejeição contribuíram para a ocorrência de dois cânceres. Ela morreu de câncer em abril de 2016, de acordo com o Telegraph.
Em 2008, a Cleveland Clinic realizou o seu primeiro transplante facial quase total, que era o tipo de transplante mais complexo do mundo do momento. Os médicos transferiram cerca de 80% da face de um doador.
O primeiro transplante facial total do mundo aconteceu na Espanha em 2010. Os procedimentos de risco tem sido controversos, iniciando um debate ético acerca da possibilidade dessas cirurgias serem realizadas para melhorar a qualidade de vida.
A cirurgia é parte de uma série de transplantes realizados nos últimos anos, incluindo transplantes de pênis para soldados feridos em combate, um transplante duplo de mãos para um garoto e um transplante de útero para uma mulher que não podia ter filhos.
Alto risco
Mais de três dezenas de pacientes tiveram transplantes faciais no mundo. Todos eles têm alto risco de complicações ou até mesmo morte.
De acordo com Ariana Eunjung Cha do Washington Post, “mesmo que a cirurgia inicial, que é extremamente complicada e perigosa, corra bem, pacientes de transplantes faciais – assim como aqueles que recebem órgãos como coração e rim – enfrentam um grande risco de seus corpos rejeitarem a parte transplantada. Por isso, muitos médicos acreditam que esses pacientes deverão tomar medicamentos imunossupressores pelo resto de suas vidas.”
Hoje, seis hospitais dos EUA realizam transplantes faciais, de acordo com a Cleveland Clinic.
Em fevereiro, a clínica Mayo anunciou que seus médicos fizeram um transplante facial com sucesso em Andrew Sandness, um homem de 32 anos que foi atingido por um tiro no rosto aos 21 anos.
Depois da cirurgia, ele disse que tinha esperança de voltar a ter uma vida normal.
“Agora eu consigo mastigar e comer comidas normais, e a sensação nervosa também está melhorando aos poucos. A minha autoconfiança melhorou e eu me sinto ótimo – e grato.”
A mulher de Cleveland também enfrentará anos de reaprendizado das tarefas diárias. Agora em reabilitação, ela está conseguindo andar e falar, e aprendendo a engolir novamente. Ela disse que o caminho depois da cirurgia foi difícil, mas ela é grata.
“Chamar os meus cirurgiões, médicos, enfermeiras e cuidadores de ‘alto nível’ seria um eufemismo. E à minha doadora e sua família, palavras não podem expressar a gratidão que eu sinto por esse presente incrível.”
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