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Uma “anistia pandêmica”? De jeito nenhum!

Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA
Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (Foto: EFE/David de la Paz)

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No Atlantic, Emily Oster pergunta se podemos perdoar e esquecer o que dissemos e fizemos uns aos outros durante a pandemia de Covid-19. Nas questões das máscaras, do fechamento de escolas e da eficácia dessa ou daquela vacina, alguns acertaram e outros erraram. Mas discutir isso para sempre é uma perda de tempo, diz ela. A manchete é "Declaremos uma anistia pandêmica".

Não, obrigado. Não queremos isso. E acho que nem Emily Oster deveria querer isso. Francamente, a própria Oster merece crédito por ter tentado, na pandemia, chamar as pessoas à razão quanto aos males que os fechamentos das escolas causavam às crianças.

Uma anistia significa levar as mãos ao alto e simplesmente declarar algo que todos os adultos já deveriam saber: os homens e as instituições são falíveis. Mas precisamos de mais responsabilização forense para as nossas instituições, e espera-se (talvez em vão) que um Congresso republicano investigue duramente a FDA [Food and Drug Administration, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos] e o CDC [sigla em inglês para Centro de Controle e Prevenção de Doenças] por suas respostas à pandemia. E precisaremos que uma reflexão muito melhor venha dos jornalistas, dos especialistas e do público.

Alguns exemplos devem bastar. Oster escreve: "Em abril de 2020, ninguém pegou Covid por cruzar com um pedestre. A transmissão ao ar livre era extremamente rara. Nossas máscaras de pano improvisadas não serviriam para nada, de todo modo. Mas a questão é: nós não sabíamos".

É verdade que a maioria do público não sabia (embora alguns estivessem com o pé atrás com os comunicados sobre a Covid desde o começo). Lembro-me de, logo nos primeiros dias, assustado pelas testagens terríveis em Wuhan e no norte da Itália, termos começado a confeccionar máscaras de pano em minha casa. Mas os especialistas já sabiam, inclusive o Dr. Anthony Fauci. E por isso ele contou ao povo, no programa 60 Minutes, que máscaras de farmácia não adiantavam nada. Cientistas como Fauci estavam citando estudos decentes já disponíveis sobre a eficácia duvidosa das máscaras de pano. Só mais tarde Fauci mudou de ideia e fez de conta que mentiu para proteger o estoque de EPI para os trabalhadores da linha de frente. Ele próprio começou a usar máscaras, mas deu pistas da sua real crença ao chamá-las de "símbolo" do tipo de coisa que devemos fazer.

Não precisamos de anistia aqui. Tampouco para a admissão de Fauci, para o New York Times, de que ele ofuscaria as próprias opiniões relativas à "imunidade de rebanho" com base naquilo que ele achava que seria o rumo da opinião pública. Precisamos entender o papel dessa ilusão consciente (a "nobre mentira") na comunicação da saúde pública. Deveríamos investigá-lo justamente porque, quando não conseguiu atingir o seu fim, inspirou reação. Precisamos investigá-lo porque talvez os republicanos antiquados de r minúsculo estejam corretos, e a própria prática da ilusão pelos especialistas é uma ofensa contra o autogoverno. Talvez precisemos reaprender a lição dos moralistas antiquados de que até a prática da nobre mentira tende a corromper os homens e suas instituições. [Republicano com r minúsculo refere-se ao adjetivo, em vez do nome próprio do Partido Republicano. "Nobre mentira" é uma expressão de Platão, que a defende em sua república governada pelo Rei Filósofo. (N. t.)]

Oster escreve que, "dada a quantidade de incertezas, quase toda posição foi tomada em todo assunto". Muito bem. Continua ela: "Quem acertou por qualquer motivo pode querer tripudiar. Quem errou por qualquer motivo pode ficar na defensiva e retroagir para uma posição que não condiz com os fatos. [. . .] Essas discussões são quentes, desagradáveis e, no frigir dos ovos, improdutivas. Em face de tanta incerteza, todo acerto tinha uma ajuda grande da sorte".

É óbvio que alguns tentaram enganar e fizeram alegações terrivelmente irresponsáveis. Lembram-se de quando o pessoal da saúde pública gastou muito tempo e dinheiro mandando os cidadãos não injetarem alvejante em si mesmos, porque o presidente Trump teria recomendado esse tratamento — quando, na verdade, ele nunca fez isso?

Eu também me lembro de que Peter Daszak, da EcoHealth Alliance, liderou um falso consenso científico contra a teoria do vazamento laboratorial, subornando uma revista científica de modo antiético. Ao fazer isso, conseguiu fazer a balança pender para a opinião progressista, que teve o efeito inicial de alterar a maneira como as redes sociais governaram e censuraram a expressão numa base de bilhões de usuários.

Não, não quero anistiar agentes tão ruins quanto esse.

Um clamor por anistia nos impediria de aprender lições. Meu chefe, que não é nenhum especialista em ciência, foi capaz de escrever isto em abril de 2020 com muita segurança:

"De todos os tipos de fechamentos, os escolares são, de longe, os mais nocivos à sociedade. As crianças mais novas não têm nenhum espaço para seu desenvolvimento social e emocional. Fechamentos prolongados inibem a capacidade de crianças mais velhas encontrarem exigências da sua série escolar. Os pais que estão fazendo malabarismo para conciliar o homeschooling com o home office não são capazes de reproduzir a instrução que uma criança receberia num dia de escola. Os fechamentos também aumentaram a desigualdade de aprendizagem entre as casas mais ricas, com mais recursos e capacidade de trabalhar de casa, e as que não têm essa opção."

Por que ele acertou tanto, enquanto o pessoal do New York Times e do governo errou tanto? A lição é simples. Mesmo numa crise, não devemos ser engolidos num só trago pela "coisa do momento". Não recomeçamos no Ano Zero para manter nosso bom senso e razoabilidade.

É claro que Oster está certa ao dizer que milhões de pessoas erraram em questões prudenciais relativas a liberdade e segurança. E é claro que ela tem razão quanto às nossas predisposições e compromissos políticos tenderem a moldar a maneira como pesamos as evidências que apontavam para um lado em comparação às que apontavam para o outro.

Mas as questões na pandemia não eram só disputas factuais sobre uma doença que evoluía rápido. Eram também disputas sobre se a Constituição ainda importava. Pensem em Bill de Blasio dizendo aos cristãos, judeus e fiéis de outros credos que eles tinham de se submeter às regras da cidade que proibiam reuniões de dez ou mais pessoas, mesmo quando ele próprio as violava ao apoiar publicamente os protestos por George Floyd.

Anistiar isso? De jeito nenhum.

© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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