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Cinema

“Uma Viagem Extraordinária” mergulha no universo infantil sem ser um filme infantil

"Uma Viagem Extraordinária": filme perfeito para se assistir em isolamento social, quando a vida doméstica pode parecer entediante e o mundo exterior é tentador. (Foto: Divulgação)

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Uma das figuras mais raras no cinema de hoje é a do filme que captura o universo infantil sem ser necessariamente um filme infantil. “Uma Viagem Extraordinária”, do diretor francês Jean-Pierre Jeunet, está essa categoria. Na obra, lançada em 2013 e atualmente disponível para o público brasileiro na Amazon Prime Vídeo, Jeunet repete alguns dos elementos que o tornaram famoso em obras como “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”.

O filme conta a história do pequeno T.S. Spivet (interpretado por Kyle Catlett), filho superdotado de um caubói tardio (Callum Keith Rennie) e de uma entomologista distraída (Helena Bonham Carter). T.S., seu irmão gêmeo e sua irmã mais velha são criados em um rancho em meio às belas paisagens campestres de Montana. O filme, baseado em um livro do escritor Reif Larsen, apresenta um modo de vida que já não é familiar à maioria dos americanos: praticamente sem tecnologia e cada um a seu modo, os membros da família Spivet vivem em comunhão com a natureza – à exceção da adolescente, todos parecem satisfeitos com isso.

Esse isolamento é interrompido quando, aos dez anos de idade, o garoto acaba ganhando um prêmio do prestigioso Smithsonian Institution, em Washington, por ter inventado uma máquina de movimento perpétuo. Sem saber que o escolhido tem apenas 10 anos, o Smithsonian o convida para receber a condecoração em uma cerimônia na capital do país. Escondido dos pais, T.S. Spivet decide embarcar em uma jornada improvável para atravessar mais da metade dos Estados Unidos.

O que o trailer não conta é que uma tragédia atinge a vida do garoto, de forma que o seu universo encantado não é mais o mesmo. A viagem do protagonista, então, é também uma fuga que expõe alguns ressentimentos do garoto com o pai, que não compreende o pouco interesse do filho pela vida de caubói, e da mãe, sempre distraída com suas pesquisas sobre insetos.

Assim como em “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, a fotografia é um dos destaques do filme, com enquadramentos cuidadosamente escolhidos. Neste caso, as belezas naturais (na realidade filmadas no Canadá, não muito longe de Montana) colaboram em grande medida para a composição dos quadros. Outro ponto forte é a trilha sonora, que ajuda a construir um ambiente cinematográfico com potencial para aquecer os corações em tempos de incerteza.

Também como em “Amélie Poulain”, o espectador não deve ser rigoroso em busca de verossimilhança.”Uma Viagem Extraordinária” é um trabalho típico de Jeunet, e apresenta traços de surrealismo. Mas, neste caso, em um filme que mergulha no universo infantil, a fantasia cai bem.

Em “Uma Viagem Extraordinária”, o pequeno universo familiar, em um ambiente totalmente isolado – sem vizinhos, sem cidade, com a natureza onipresente – por vezes pode parecer angustiante e solitário. Mas o que o garoto encontra em sua jornada na cidade grande não é de modo algum superior. Neste caso, a desconfiança caipira com a vida urbana é justificada.

É um bom filme para se assistir em isolamento social, no auge de uma pandemia, quando a vida doméstica pode parecer entediante e o mundo exterior se apresenta como tentador.

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