Benfeitores bilionários estão suspendendo suas doações a universidades norte-americanas, como Harvard, Columbia, Pensilvânia e Stanford, cujas administrações não se posicionaram de forma contrária aos ataques do Hamas e não puniram manifestações antissemitas de estudantes dentro dos campi. Os doadores também estão colocando estudantes que protestaram contra Israel em listas negras de emprego, de modo que não sejam contratados em suas empresas após a formatura. Diante da iminência de perder milhões em financiamento, algumas universidades reviram seus posicionamentos, mas o movimento de boicote a doações tem crescido no país.
“Haverá grandes cortes nas doações. Os dominós estão começando a cair. Encorajamos todos os ex-alunos judeus e seus aliados a fecharem seus talões de cheques, até que as universidades parem de permitir manifestações pró-Hamas”, afirma Liora Rez, diretora executiva do grupo StopAntisemitism (Pare o Antissemitismo, em tradução livre), organização americana de vigilância focada no combate ao antissemitismo.
Ela argumenta que as universidades que agora permanecem em silêncio na defesa de “estudantes judeus difamados (...) não tiveram problemas em fazer declarações quando vimos incidentes horríveis em torno do assassinato de George Floyd, com apoio a estudantes afro-americanos durante [protestos do] Black Lives Matter”.
O impacto de um desfinanciamento por parte de doadores não seria pequeno. Além de financiamento estatal (para instituições públicas), mensalidades, hospedagem/alimentação, investimentos federais e contratos de pesquisa e de esportes, as universidades nos Estados Unidos contam com doações, principalmente de ex-alunos, para se manter. De acordo com o jornal Financial Times, somente no ano passado os doadores contribuíram com 60 bilhões de dólares para as universidades dos EUA. Em Harvard, por exemplo, 21% da receita em 2022 vieram de mensalidades e 36% de doações, enquanto pesquisa e outras fontes de financiamento cobriram o restante dos custos da instituição, que não tem fins lucrativos.
Pensilvânia
Uma das universidades que mais vêm sofrendo boicotes por parte de doadores é a da Pensilvânia (UPenn, na sigla em inglês). Dois dias depois dos ataques do Hamas a Israel, a instituição ainda não tinha se posicionado oficialmente sobre o assunto junto à comunidade acadêmica e aos ex-alunos, mas postou no Instagram uma homenagem a povos nativos e indígenas e “sua cultura, história e importância como membros da comunidade Penn”.
A postura irritou um dos maiores doadores da universidade (que junto com a esposa já fez repasses de pelo menos 50 milhões de dólares), o investidor bilionário Marc Rowan, chefe da gigante Apollo Global Management, que já vinha questionando posturas antissemitas em eventos no campus antes mesmo do início da guerra. “Enquanto 1.200 israelenses eram massacrados, assassinados e estuprados, a universidade faz posts sobre o Dia dos Povos Indígenas ”, disse em entrevista à CNBC.
Jon Huntsman Jr., ex-embaixador dos EUA na China e Rússia, também declarou que a Fundação Huntsman (que já doou 50 milhões de dólares à universidade e cujo nome da família está no prédio principal da escola de negócios) não faria mais doações à UPenn após seu “silêncio diante do mal repreensível e histórico do Hamas contra o povo de Israel”.
A lista extensa de ex-alunos que anunciaram o corte em suas doações à universidade inclui Jonathon Jacobson, fundador da empresa de capital de risco HighSage Ventures. Ele escreveu uma carta pedindo a renúncia da presidente da UPenn, Liz Magill, sob a ameaça de transformar suas típicas doações de “vários sete dígitos” em apenas um dólar por ano.
Na última semana, Magill escreveu um comunicado anunciando um “Plano de Ação da Penn para Combater o Antissemitismo, nosso compromisso dedicado a combater esse mal em nosso campus e fora dele”. Após as pressões, ela afirmou que “Penn se posiciona enfaticamente contra os ataques terroristas do Hamas em Israel e contra o antissemitismo”, reconhecendo que “devíamos ter comunicado mais rápida e amplamente a nossa posição”. A declaração, entretanto, não demoveu os doadores do biocote.
Harvard
Depois de mais de 30 organizações estudantis de Harvard culparem Israel pelos ataques do Hamas e a instituição não se posicionar de forma clara a respeito, importantes doadores anunciaram que cortariam seu apoio financeiro à universidade. “Na ausência de uma posição moral clara, determinamos que a Harvard Kennedy School [HKS] e a Fundação Wexner não são mais parceiros compatíveis. Nossos valores fundamentais e os de Harvard não estão mais alinhados. HKS não é mais um lugar onde os líderes israelenses possam desenvolver as habilidades necessárias para os desafios políticos e sociais muito reais que enfrentam”, diz uma carta da Fundação Wexner, fundada pelo bilionário Leslie Wexner para desenvolver líderes judeus.
O mesmo caminho foi seguido pelo ex-governador de Maryland, Larry Hogan, que anunciou que não participará mais de programas de bolsas da instituição. “Não posso tolerar o perigoso antissemitismo que se enraizou no seu campus”, justificou pelo X. A demora em uma resposta por parte da administração também levou o bilionário israelense Ida Ofer e sua esposa a se retirarem do conselho executivo da escola de políticas públicas de Harvard. “Com tanta desinformação espalhada pelas redes sociais, é essencial que as grandes instituições do mundo falem com uma voz clara e inequívoca neste momento crítico”, afirmou.
Outros bilionários e ex-alunos, como Ken Griffin, fundador da Billionaire Citadel, Bill Ackerman, CEO da Pershing Square Capital Management, e Jonathan Neman, CEO da Sweetgreen, disseram que não contratariam líderes estudantis de Harvard que culparam Israel pelo terrorismo do Hamas.
Columbia
Formado em Columbia, o investidor americano Leon Cooperman doou “incríveis 50 milhões de dólares ao longo dos anos” à instituição, mas fechou a carteira depois que a escola se recusou a demitir um professor que classificou os ataques do Hamas como “incríveis”. “Só temos uma democracia no Oriente Médio. É Israel e temos uma economia tolerante com pessoas diferentes: gays, lésbicas, etc. E isso é Israel. Portanto, não tenho ideia do que esses jovens estão fazendo. Vou suspender minhas doações", disse.
Financiamento público
Além de doadores privados, governadores e líderes políticos também estão pressionando as universidades a reprimir de forma mais enfática o antissemitismo, sob o risco de perderem financiamento. “Chegou a hora de agir de verdade: os ex-alunos de todo o país deveriam suspender as doações às escolas que não abordaram adequadamente esta proliferação de ódio, e as faculdades públicas deveriam ver o seu financiamento interrompido até que abordem esta atividade vil”, disse o ex-governador de Nova York, Andrew Cuomo.
Na mesma linha, o senador Rob Ortt, líder do Partido Republicano em Nova York, pediu que a maioria democrata no Legislativo estadual se comprometa a retirar fundos de instituições de ensino que não combatam atos de antissemitismo em seus campi.
Outros republicanos como Donald Trump, Ron DeSantis, e o senador Tim Scott (Carolina do Sul), pediram a interrupção no financiamento dessas escolas e a expulsão do país de estudantes estrangeiros que participaram desse tipo de protesto.
Campanha contra captura ideológica
A National Progress Alliance [NPA, na sigla em inglês; Aliança Nacional para o Progresso, em tradução livre], uma organização americana que tem como objetivo “promover a liberdade de expressão e o discurso civil através de subvenções, parcerias e sensibilização do público”, tem promovido a campanha “Pare de doar para a sua Alma Mater” (a expressão latina refere-se à faculdade onde determinada pessoa se formou). “Cada dólar que você doa para uma universidade ideologicamente capturada é um empurrãozinho em direção à censura e ao entrincheiramento ideológico. Você pode fazer a diferença interrompendo as doações e comunicando seu apoio à liberdade de expressão”, diz o texto.
Segundo a NPA, enquanto a Universidade de Austin, no Texas, está comprometida com a liberdade de expressão, outras já foram capturadas por ideologias esquerdistas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). No site da campanha, há modelos de cartas para que egressos comuniquem a suspensão de suas doações às universidades de Columbia, Georgetown, Harvard, Portland, Princeton, Stanford, Illinois Chicago, Pensilvânia, Washington e Yale.
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