A vacina da Pfizer e BioNTech contra COVID-19, de nome técnico BNT162b2 e nome comercial Comirnaty (que tenta soar como “comunidade” em inglês e contém “RNA”) já inclui a prescrição para crianças a partir dos cinco anos em sua bula. A principal diferença em relação à dose para adultos é que a dose pediátrica é diluída. Um novo estudo do Departamento de Saúde do estado de Nova York analisou a inoculação com a Cominarty em mais de 365 mil crianças dos cinco aos 11 anos e 852 mil adolescentes dos 12 aos 17 anos e concluiu que a eficácia contra a variante ômicron foi de 12% nas crianças e 56% nos adolescentes. O estudo também diz que a vacina protege contra um quadro mais severo da doença, e ainda a recomenda para crianças. Há países que decidiram o contrário.
Caso confirmado após a revisão do estudo, que ainda é pré-prelo, este resultado põe a administração pediátrica desta vacina em dificuldade com agências reguladoras como a Anvisa, que consideram 50% o limiar de eficácia para aprovação de uma vacina. A Comirnaty para crianças foi aprovada no Brasil em dezembro passado.
A primeira autoria é de Vajeera Dorabawila, do Departamento de Saúde de Nova York. Chefia a pesquisa Eli Rosenberg, afiliado à instituição e à Faculdade de Saúde Pública em Albany da Universidade do Estado de Nova York. O governo do estado financiou o estudo integralmente. Os pesquisadores compararam crianças e adolescentes que completaram o regime de vacinação com os que não se vacinaram na mesma faixa etária. Calcularam a eficácia da vacina contra novos casos e contra hospitalizações, tomando o período de 29 de novembro de 2021 a 30 de janeiro deste ano. Também foi possível que analisassem o decaimento da proteção da vacina semanas após a inoculação e indiretamente acompanhar a ascensão da variante ômicron.
Eficácia em queda
No fim de novembro, entre os adolescentes, a eficácia da Comirnaty para casos era de 85%. Ela caiu para 66% no meio de dezembro, quando a ômicron atingia um a cada cinco casos. Continuou a cair, para 51%, na última semana de janeiro, quando a ômicron atingiu hegemonia de mais de nove a cada dez casos. Nas crianças, a queda na eficácia foi de 68% para 12% nos dois últimos marcos temporais. Na “margem de erro”, o último valor está entre seis e 16%.
O quadro é diferente para a eficácia calculada com base em hospitalizações no fim de janeiro: 73% para adolescentes e 48% para crianças. A “margem de erro” para as crianças chama a atenção pela amplitude, podendo chegar a 75%, e também por ter um número negativo em seu limite inferior, o que sugere uma possível maior hospitalização de crianças vacinadas em comparação às não-vacinadas. Se esta sugestão é espúria e resultado de um artefato estatístico, só saberemos após o artigo ser submetido à revisão por pares e debate.
Quanto ao decaimento da imunidade vacinal, nos adolescentes a eficácia era 76% com 13 dias ou menos desde a inoculação, caindo para 56% dentro de apenas um mês. Nas crianças, essa queda foi de 65% para 12%.
As marcadas diferenças entre crianças e adolescentes podem não ser devidas apenas à idade, mas também ao fato de a dose pediátrica ser diluída. Os autores pensam que essa é uma boa explicação, especialmente considerando que a maior eficácia foi observada em pré-adolescentes de 12 anos, que recebem a dose não-diluída, mas têm um corpo menor. O estudo não incluiu jovens que tenham tomado a terceira dose.
Apesar de pedido de agências de saúde americanas à Pfizer para o desenvolvimento de um protocolo para vacinar bebês, o plano foi abandonado por enquanto.