As pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina contra a gripe têm 40% menos chance de desenvolver a doença de Alzheimer ao longo de quatro anos, segundo uma nova pesquisa.
O estudo, assinado por cientistas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em Houston, comparou o risco de incidência da doença entre pessoas com e sem vacinação prévia contra o vírus influenza em quase dois milhões de pessoas com 65 anos ou mais. Além da boa amostra, o estudo também tem um bom intervalo, compreendendo uma década, entre 2009 e 2019.
A vacinação contra a gripe em adultos mais velhos "reduz o risco" de desenvolver Alzheimer ao longo de vários anos, e esse possível efeito protetor aumenta com o número de anos que uma pessoa recebeu uma vacina anual, disse um dos signatários do estudo, Avram Bukhbinder, em comunicado.
Os pesquisadores consideraram que pesquisas futuras devem avaliar se esta vacina também está associada à taxa de progressão dos sintomas em pacientes que já apresentam demência de Alzheimer.
Estudos anteriores já tinham encontrado uma diminuição do risco de demência associada à exposição prévia a várias vacinas na idade adulta, incluindo tétano, poliomielite e herpes, além da gripe e outras vacinas.
O estudo, publicado na revista científica Journal of Alzheimer's Disease, analisou dois grupos pareados, cada um formado por 935.887 pessoas, um vacinado contra a gripe e outro não.
Os participantes foram acompanhados por quatro anos e nas consultas de acompanhamento verificou-se que cerca de 5,1% dos pacientes vacinados contra a gripe desenvolveram a doença de Alzheimer, em comparação com 8,5% dos não vacinados.
Esses resultados, segundo a equipe, "destacam o forte efeito protetor da vacina contra a gripe também contra a doença de Alzheimer. No entanto, os mecanismos subjacentes a este processo requerem um estudo mais aprofundado".
O líder do estudo, Paul Schulz, afirmou que "uma vez que há evidências de que várias vacinas podem proteger contra a doença de Alzheimer, pensamos que este não é um efeito específico da vacina contra a gripe".
O sistema imunológico é complexo, e alguns distúrbios, como a pneumonia, podem ativá-lo de forma a piorar a doença de Alzheimer, mas outros podem fazê-lo de forma diferente, e um deles protege contra essa doença, acrescentou.
"Claramente", disse ele, "precisamos aprender mais sobre como o sistema imunológico piora ou melhora os resultados desta doença". Diferentes estudos já fizeram associação de menor risco do Alzheimer a vários hábitos, como tomar café e exercer atividades intelectuais. É importante notar que esses estudos, inclusive o de Schulz, apontam coisas que ocorrem juntas, sem se comprometer com a relação causal entre elas. O hábito de tomar vacinas de um idoso pode estar correlacionado a outras características que seriam as verdadeiras causas do efeito protetivo.
Além disso, à medida que mais tempo passa desde a introdução da vacina contra a Covid-19 e que mais dados de acompanhamento se tornam disponíveis, Bukhbinder afirmou que valerá a pena investigar se existe uma associação semelhante entre ela e o risco de enfermidade de Alzheimer. Importante notar que, das vacinas produzidas e utilizadas em larga escala contra a Covid, somente a Coronavac usa a tecnologia tradicional que também é usada nas vacinas anuais contra gripe.
O que exatamente causa o Alzheimer ainda é um mistério, tanto quanto os mecanismos de causa e consequência em hábitos e tratamentos que podem baixar o risco de desenvolvê-lo. Uma hipótese em consideração é que as pessoas que desenvolvem esse tipo de demência, que afeta a memória, têm um mal funcionamento de uma proteína do cérebro conhecida como beta amiloide.