A tecnologia que permitiu a fabricação das vacinas de mRNA para Covid-19 e foi laureada neste ano com o Nobel de medicina tem um problema preocupante, indicou um estudo publicado na quarta-feira (6) na revista Nature. O problema, conhecido na biologia molecular como “frameshift” ou “mudança do quadro de leitura”, leva à produção de outras proteínas não pretendidas, em vez de apenas à proteína do vírus que é a base da imunização dessas vacinas.
Os estudiosos, liderados por Anne Willis, pesquisadora de toxicologia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, demonstraram com a vacina da Pfizer a ocorrência desses produtos extras em roedores de laboratório e em humanos, por meio da presença de defesas imunológicas contra eles. Os cientistas dizem que não há registro de efeitos adversos desse produto surpresa das vacinas de mRNA.
O mRNA é uma mensagem molecular contida em gotículas microscópicas de gordura que são a base dessas vacinas. As gotículas facilitam que esta mensagem seja entregue ao interior das células, onde é lida e, então, se produz uma proteína da superfície do vírus. A partir daí, o sistema imunológico reconhece essa proteína, gerando defesas contra o vírus. Quando acontece a mudança do quadro de leitura, a mensagem muda e, como consequência, outra proteína que pouco tem a ver com o vírus é produzida.
“Como bilhões de libras esterlinas estão sendo investidas no próximo conjunto de tratamentos baseados em mRNA”, disse Willis para o site da universidade, “é essencial que essas terapias sejam projetadas para serem livres de efeitos colaterais não pretendidos”. Vacinas de mRNA estão sendo projetadas para tratar vários tipos de câncer, doenças cardiovasculares, respiratórias e imunológicas. Portanto, o problema, para o qual a equipe de Willis já sugeriu uma solução, tem um grande custo associado.
Por muitos anos houve tentativas de criar imunizantes baseados em mRNA. Porém, os blocos moleculares que constroem a longa fita da “mensagem” eram rapidamente detectados e destruídos pelo sistema imunológico. Isso foi resolvido pelos ganhadores do Nobel, Katalin Karikó e Drew Weissman, por meio da introdução de uma forma modificada de um desses blocos. Contudo, ainda resta o problema de que esse bloco modificado, chamado pseudouridina, leva às vezes a uma má leitura da mensagem na célula, modificando, assim, a proteína produzida.
Os cientistas estimaram que uma a cada quatro pessoas que receberam a vacina de mRNA devem ter desenvolvido imunidade contra o chamado produto não pretendido, em vez de apenas contra a proteína do vírus. “As vacinas da Covid são muito, muito seguras e muito, muito eficazes”, garantiu Willis. “E agora as tornamos ainda mais seguras no futuro”.
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