Comecei a primeira parte do texto “Por que tantos jovens são infelizes” com dados mostrando uma taxa aparentemente sem precedentes de infelicidade entre os jovens norte-americanos (e em todos os lugares do mundo, mas estou me atendo aos Estados Unidos).
As taxas de suicídio, depressão, tiroteios em massa, ferimentos autoinfligidos e solidão (em todas as idades) são as maiores já registradas.
Parece que os norte-americanos eram mais felizes, e certamente menos solitários, durante a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, mesmo com os níveis inéditos de saúde, longevidade, educação e bem-estar material de hoje.
Não há, claro, uma única explicação para isso, e mencionei várias justificativas possíveis.
O uso cada vez maior de drogas ilegais e o uso indiscriminado de drogas legais e uma interação humana menor por causa do uso constante de celulares estão entre as explicações válidas mais citadas. Entre as demais explicações menos válidas estão a competitividade, a ansiedade por conta de notas na escola, o capitalismo e a desigualdade de renda. E há ainda o medo dos jovens de que, por causa do aquecimento global, eles tenham um futuro triste, se é que terão um futuro.
Valores e sentido
Mas acredito mesmo que a perda de valores e de sentido na vida sejam as duas maiores fontes de infelicidade.
Entre os valores perdidos estão os das associações comuns. Como escreveu em 1831 o maior observador estrangeiro da vida nos primórdios dos Estados Unidos, o francês Alexis de Tocqueville, a maior força dos norte-americanos está na participação deles em várias associações não-governamentais – profissionais, sociais, civis, políticas, artísticas, filantrópicas e, claro, religiosas.
Mas tudo isso perdeu sentido à medida que o governo cresceu. Antes os norte-americanos se reuniam e criavam laços de amizades por meio de associações não governamentais. Mas, hoje, em que associações eles arranjarão amigos?
Num vídeo de 2012 da convenção nacional do Partido Democrata, eles responderam a essa pergunta: “O governo é a única entidade a que todos pertencemos”, disse o narrador.
Há ainda os valores tradicionais da classe média, como o casamento antes dos filhos.
Hoje em dia boa parte dos norte-americanos nasce de mães solteiras e há cada vez menos pessoas se casando. Pela primeira vez na nossa história, há mais norte-americanos solteiros do que casados.
Embora seja possível se sentir solitário num casamento, a probabilidade de as pessoas se sentirem sozinhas é bem maior sem um cônjuge e filhos.
E chegamos aqui ao maior problema de todos: a falta de sentido na vida.
Além de alimentação, a maior necessidade humano é de sentido. Devo essa revelação a Viktor Frankl e sua obra clássica O Homem em Busca de um Sentido, que li pela primeira vez no ensino médio e que me influenciou mais do que qualquer outro livro, exceto pela Bíblia.
Motivações
Karl Marx via o homem como um ser motivado sobretudo pela economia. Sigmund Freud via o homem como um ser motivado sobretudo pelo desejo. Charles Darwin, ou ao menos seus seguidores, nos via como seres motivados pela biologia.
Mas Frankl tinha razão.
Quanto à economia, pobres que veem um sentido na vida podem ser felizes, mas ricos que não veem sentido não podem.
Quanto ao sexo, pessoas sem vida sexual (como padres que fazem voto de castidade, muitos viúvos e pessoas divorciadas, e outros grupos), mas que veem sentido na vida, podem ser felizes. Pessoas sexualmente ativas que não veem sentido não podem.
Quanto à biologia, não há uma explicação evolutiva para a necessidade de sentido na vida. Todas as criaturas, exceto o ser humano, vivem bem sem um sentido.
E nada dá mais sentido aos norte-americanos — na verdade, a qualquer outro povo — do que a religião. Mas, desde a Segunda Guerra Mundial, Deus e a religião foram legados ao lixo da história.
O resultado?
Mais de um terço dos norte-americanos nascidos depois de 1980 se dizem sem religião. Isso é algo inédito na história dos Estados Unidos. Até essa geração, a maioria dos norte-americanos se considerava religiosa.
Talvez a morte da religião – a instituição que mais dá sentido à vida, embora não a única — seja o maior fator no aumento da tristeza e solidão entre os norte-americanos (e outros povos).
Um estudo de 2016 publicado pelo periódico da Associação Médica Norte-Americana descobriu que mulheres que frequentavam cultos religiosos ao menos uma vez por semana tinham cinco vezes menos chance de cometerem suicídio. O senso comum sugere que o mesmo se aplica aos homens.
Em resumo: muitos jovens estão deprimidos, infelizes e com raiva porque a esquerda lhes disse que Deus e as religiões judaico-cristãs são uma bobagem, o país deles é mau, o passado deles é deplorável e que não há esperança para o futuro deles.
Essa parece ser a principal razão, senão a única, para tanta infelicidade: não o capitalismo, não a desigualdade, não o patriarcado, sexismo, racismo, homofobia ou xenofobia, e sim a ausência de religião, de Deus, de cônjuges, de comunidade, de pátria e, por fim, de sentido na vida. Isso explica boa parte da infelicidade inédita.
E isso explica a disseminação da adoção de um substituto secular à religião tradicional: o esquerdismo. Ao contrário do judaísmo e cristianismo, porém, o esquerdismo não leva felicidade a seus seguidores.
Dennis Prager é colunista do Daily Signal, radialista e criador da PragerU.
© 2020 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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