Eu sei, eu sei. Se eu disser que vou fazer um texto sobre youtubers, o leitor vai ficar injuriado, dizendo que me ocupo de ninharias. Hoje o texto é motivado por dois youtubers brasileiros que foram para a Venezuela a convite do regime, para legitimar as eleições. Aqui o leitor protestará dizendo que tem doido de tudo quanto é tipo; maluco não falta na internet. E eu concordo.
E se eu disser que uma dessas youtubers, Sabrina Fernandes, é uma acadêmica cheia da formação em primeiro mundo (Canadá e Alemanha) e dá aulas de política na UnB? Talvez o leitor ainda faça um muxoxo: que as ciências humanas produzam porcaria, não é novidade; me chamem quando ela fizer algo de bom. Segundo reza um importante princípio jornalístico, notícia é quando o poste faz xixi no cachorro, e não o contrário. Cientistas sociais defendendo ditaduras são tão encontradiços quanto cães fazendo suas necessidades em postes.
Já o outro youtuber, um tal de Thiago Ávila, é só um youtuber aleatório cujo canal tem 40 mil inscritos. O de Sabrina Fernandes tem 345 mil inscritos. Para efeito de comparação, conste que Átila Iamarino, o popstar pandêmico, tem 1 milhão e 310 mil inscritos. Thiago acumula ainda a condição de marido de Sabrina.
Aí eu pergunto: essa ditadura está com tanto dinheiro sobrando assim para gastar com youtuber brasileiro? Perguntei a William Clavijo, venezuelano que anos atrás escolheu o Brasil para viver e hoje é voluntário da embaixada de Guaidó no Brasil. O que é um embaixador de Guaidó? Eis um resumão: a “Câmara” da Venezuela não reconheceu a reeleição de Maduro e pôs o Rodrigo Maia deles como presidente, seguindo a lei. Guaidó é o Rodrigo Maia deles, isto é, o presidente do Poder Legislativo. Maduro resolveu anular os poderes dessa Câmara e criou outra, Constituinte, presidida pelo comparsa dele, Diosdado Cabello. Este é líder do maior cartel de cocaína do mundo. Imagine Marcola do PCC líder de uma Assembleia Constituinte. Pois é. O Brasil, junto com demais países civilizados, reconhece Guaidó, e tem portanto uma embaixada desse governo. William Clavijo a integra.
A força da grana
A resposta dele foi incisiva: o General Barroso ainda está no Brasil, e ele roubou 20 bilhões de dólares. Que Barroso? Ora, o adido militar nomeado por Hugo Chávez em 2015 para representar a Venezuela no Brasil. O homem tirou 20 bilhões de dólares dos cofres públicos da Venezuela, veio para o Brasil periclitante do último ano petista e cá está até hoje, levando uma vida pacata em Brasília. Deu no Globo, e o site jornalístico Armando.Info, especializado em corrupção chavista, tem matéria sobre o assunto. Ninguém sabe que fim levaram os U$ 20 bi.
Imaginem o que uma ditadura não pode comprar, no Brasil, com 20 bilhões de dólares. Na Venezuela, Chávez teve acesso à PDVSA sem nenhum controle. A PDVSA é a Petrobrás deles, só que muito mais rica, porque a Venezuela está sentada sobre a maior reserva de petróleo do mundo. Sim: maior que a da Arábia Saudita. Clavijo fica brabo quando se fala no poder do carisma de Hugo Chávez. Diz que, se ele tivesse 800 bilhões de dólares sob o seu controle para gastar como quisesse, seria tão amado quanto Fidel Castro, John Kennedy ou qualquer outro chefe de Estado famoso.
Repito a pergunta (e a essa altura o leitor terá me perdoado por tratar de youtubers): o que 20 bilhões de dólares não podem comprar no Brasil?
Como os youtubers foram para lá?
Se o problema for dinheiro para bancar youtuber, portanto, teoricamente não seria difícil. A youtuber e professora da UnB Sabrina Fernandes foi convocada pelo narcogoverno de Maduro na condição de observadora internacional. Isso ela explicou por alto na Carta Capital, onde aproveitou também para reforçar que a Venezuela é uma democracia. Num tuíte, ela foi mais informativa: tanto ela quanto o colega eram observadores internacionais. Ela, na condição de imprensa por ser youtuber; ele, por ser do Comitê General Abreu e Lima.
Comitê o quê? “Abreu e Lima” é um nome conhecido no Brasil por causa da malfadada refinaria da Petrobrás no Recife em parecia com a PDVSA. O homem José Inácio Abreu e Lima (1794 – 1869), natural do Recife, foi um general da tropa do venezuelano Simón Bolívar, uma espécie de Napoleão do mundo hispânico que fundava repúblicas por onde passava, naquela época conturbada em que a Coroa portuguesa fugiu para o Brasil. Pelo seu papel na Independência da Venezuela, Abreu e Lima é uma figura histórica importante da Venezuela. Foi apropriada pelo chavismo para tratar das relações com o Brasil.
Pois muito bem: graças ao Twitter, descobri que existe esse comitê de brasileiros desocupados que se empenham muito em apoiar o chavismo aqui no Brasil. Não parecem ter muito mais para mostrar do que conta em rede social. Essa bandeira quadriculada colorida se chama wiphala; é usada por nativistas descendentes de índios, que fazem de conta que era a bandeira do Império Inca. Sabe os africanistas que imaginam um Egito negro maravilhoso anterior à chegada do branco? Os índios andinos imitam e a bandeira é essa. Foi adotada como símbolo oficial da Bolívia sob Evo Morales.
Além desses desocupados, vale prestar atenção aos veículos que cobrem esse teatro. Sabrina manda seguir o Brasil de Fato (para o qual inclusive gravou um vídeo ), Jornalistas Livres e Opera Mundi. O leitor decerto se lembra daquela foto icônica do Foro de São Paulo, onde Lula, Dilma e Boulos estão com os ditadores de Cuba, da Venezuela e da Nicarágua. Lá estão também Breno Altmann e Stédile. Breno Altmann é dono do site Opera Mundi (hoje hospedado no UOL) e Stédile é o líder do MST, que por sua vez é um dos órgãos fundadores do Brasil de Fato. Não sei quem a quem pertence o site Jornalistas Livres, mas tem cara de ter conexões com o MTST, dada a sua ênfase especial na questão da moradia urbana.
Não basta elegermos um governo federal para desfinanciar esse povo. Lutamos contra a maior reserva de petróleo do mundo. E é esse tipo de coisa que a UnB chancela.
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