O cachorrinho Buddha| Foto: Reprodução

Mark Meechan ficou de frente para uma câmera e descreveu o treinamento que deu ao pug Buddha, cachorro de sua namorada, recentemente.

CARREGANDO :)

"Minha namorada está sempre falando como o cachorro sarnento dela é fofo e adorável", disse Meechan com seu sotaque escocês. "Então pensei em transformá-lo na coisa menos fofa que eu conheço, que é um nazista". 

Depois, Meechan fez uma pergunta repetidamente para o cachorro: "Buddha, você quer mandar os judeus para o gás?". 

Publicidade

Esse é o começo do vídeo que levantou várias questões sobre a diferença entre uma sátira ofensiva, porém legal, e um discurso de ódio. Críticos alegam que o vídeo de Meechan ultrapassa a linha aceitável e que promove violência contra os judeus em um momento em que sátiras semelhantes são acusadas de normalizar o nazismo. 

Meechan disse que, se considerado culpado, pode ter a pena de um ano de prisão. 

Em "M8 Yer Dugs A Nazi", vídeo que postou em abril de 2016 (que contém, obviamente, linguagem ofensiva), o cachorro fica animado sempre que Meechan diz a palavra "judeu". 

Em determinado momento, Meechan diz "Sieg Heil", a saudação alemã para vitória, e o cachorro estende sua pata direita, imitando o cumprimento nazista. 

O cachorro também aparece vendo um comício de Hitler durante os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Novamente, ele levanta a pata direita quando Hitler proclama "Sieg Heil". 

Publicidade

"Quem é um bom cachorrinho nazista?", elogia Meechan. 

O vídeo viralizou pela internet e já foi visto mais de três milhões de vezes. Alguns acham divertido, outros acham cruel e antissemita, incluindo uma mulher que, segundo Meechan, o confrontou e sujou sua porta com fezes de cachorro. 

Promotores dizem que é um crime de ódio. 

Magoar pessoas é crime?

Em abril, logo depois da postagem do vídeo, a polícia bateu na porta de Meechan em Coatbrigde, na Escócia, conta Meechan para o apresentador Alex Jones. Os policiais lhe disseram que estava sendo acusado de crime de ódio e que o vídeo era visto como uma promoção da violência contra os judeus. Pediram que trocasse de roupa, tiraram fotos do apartamento e o levaram para a delegacia. 

Ele passou a noite em uma cela e agora é julgado por violar o Ato de Comunicação de 2003, que proíbe o uso de telecomunicações públicas para mandar mensagens religiosamente discriminatórias. O julgamento começou na segunda-feira (11). 

Publicidade

Promotores alegam que Meechan produziu um material antissemita que pode causar medo e susto e promover ódio por motivos religiosos, de acordo com o Telegraph

Ele também é acusado de postar um vídeo no YouTube e outras redes sociais que é ofensivo, por ser "antissemita e racista em sua natureza". Os promotores dizem que o ato é agravado pelo preconceito religioso, uma alegação que Meechan combate. 

"Eu sinto que não fiz nada de errado", disse Meechan no programa de Jones. "Foi claramente uma sátira, uma piada. Eu não planejava ofender ninguém. O que fiz foi tentar fazer as pessoas rirem e isso foi, obviamente, interpretado de outro jeito". 

Meechan não respondeu imediatamente as tentativas do The Washington Post de contato. Ele disse que pode entender que pessoas se sintam ofendidas pelo vídeo mas que não entende como "magoar as pessoas seja um crime". 

“Chego a me sentir mal pelo cachorro"

Ephraim Borowski, diretor do Conselho de Comunidades Judias da Escócia, argumentou que o vídeo é de fato um crime de ódio em uma entrevista para o Telegraph. 

Publicidade

"É extremamente ofensivo. Me surpreende que alguém possa achar que isso é uma piada", disse no julgamento, dizendo ter familiares que morreram durante o Holocausto. 

"Minha reação imediata é que deve haver uma distinção muito clara entre um comentário inadequado e a quantidade de esforço necessário para treinar um cachorro daquele jeito. Chego a me sentir mal pelo cachorro". 

Borowski disse no julgamento que houveram consequências reais do ato: o Conselho recebeu 160 páginas de mensagens antissemitas que apoiavam Meechan e o vídeo. 

Em uma entrevista, o pesquisador e historiador Gavriel Rosenfeld alerta que sátiras baseadas em Hitler e o nazismo têm a capacidade de normalizar esses pensamentos: "a internet é, sobretudo, uma mídia que apresenta Hitler de uma maneira descontextualizada, fora da história. Podemos desenhar o bigode de Hitler ou uma suástica em qualquer coisa e dar risada disso", explica. 

"Quando o próprio Hitler assume a forma de outros personagens por manipulação de imagens, vemos um fenômeno bizarro, como as páginas catsthatlooklikehitler.com (gatos que se parecem com Hitler), thingsthatlooklikehitler.com (coisas que se parecem com Hitler) e Hipster Hitler. É uma indústria artesanal de pessoas explorando a imagem dele para chamar atenção, mas muito distantes de uma lição histórica". 

Publicidade

O jornal Scotsman relatou em julho que houve um número recorde de ataques antissemitas na Escócia em 2016. No ano passado, foram registrados 26 crimes antissemitas, dos quais 15 resultaram em processos criminais. Foram registrados ainda 19 incidentes antissemitas não criminosos. 

Irritar a namorada

Meechan postou um vídeo pedindo desculpas por qualquer ofensa que o vídeo anterior tenha causado. 

Ele ressaltou que odeia "qualquer forma de racismo. Não tenho nenhum ódio pela comunidade judaica ou algo do tipo". 

Mas ele já tinha se defendido de suas ações em um breve comentário no vídeo com o pug: "não sou racista, diga-se de passagem. Eu só quero irritar minha namorada".

Publicidade